terça-feira, 1 de agosto de 2017

Os Trapalhões: Dick Danello


Dick Danello
Ator


Como surgiu o convite para trabalhar no filme A Ilha dos Paqueras?
O convite foi através do Renato Grechi e de um dos produtores, Nissin Katalan. Tivemos uma conversa e, posteriormente, apresentaram-me Renato, Dedé e cia. Foi muito legal. Eu tinha e tenho 5% do filme.

Esse foi o segundo filme do Renato Aragão. Teve um público de 1.335.132 espectadores, sendo o terceiro filme mais assistido de 1974. Que esse trabalho representa em sua carreira?
Quando o filme foi lançado no Cine Windsor, na Avenida Ipiranga em São Paulo, foi realmente um grande sucesso de bilheteria. Eu era contratado da Gravadora Continental, e a mesma contribuiu para a divulgação do filme. Na época, era uma grande curiosidade esse filme. Devo dizer que esse filme contribuiu muito na minha carreira de cantor e compositor, pois eu havia feito as músicas para o filme, já que eu era o galã cantor do navio Ana Nery, do Lloyd brasileiro.

Quais as suas principais recordações dos bastidores de filmagens de A Ilha dos Paqueras?
Muitas recordações. Eu e Renato principalmente brincávamos muito. Era piada de todos os lados. Era um grupo que se divertia à bessa. E quero confessar uma coisa: eu e o Renato éramos muito mulherengos. Inclusive, chegamos a namorar numa cozinha com as nossas garotas, na pousada onde a equipe toda estava alojada, em Caraguatatuba (SP).

Renato Aragão e Dedé Santana tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
As filmagens eram sempre alegres e descontraídas. E, sempre que possível, o Dedé sempre aprontava algumas; e era uma gargalhada só.

Como era o seu contato com Renato e Dedé?
Eu já conhecia o Dedé na Rua do Triunfo. O Renato me foi apresentado antes do início do filme; e, depois, ficamos muito amigos, durante as filmagens. Até cantarolava sempre o tema do filme, que é a música “Vedrai, Vedrai”, da qual ele gostava muito.

Você teve contato com Dino Santana, irmão do Dedé, nessa produção?
Sim. Eu conhecia o Dino há algum tempo, pois ele trabalhava num teatro ali no centro de São Paulo. Um cara muito legal, e ficamos amigos também.

Em A Ilha dos Paqueras você compôs a música do filme. Como foi o seu processo de produção para esse trabalho?
Eu era contratado da Continental Discos e propus a eles gravar algumas músicas para o filme. Eles toparam, e aí compus três temas que saíram num compacto (com quatro músicas). Três originais minhas: “Vedrai, Vedrai” (tema), “Sole Spento” e “Você Chegou Aqui” (uma das poucas canções que compus em Português). A outra música que foi colocada nesse disco foi “La Prima Cosa Bella” (do Festival de Sanremo), que eu já havia lançado anteriormente. Gravei nos Estúdios Reunidos da Gazeta, com o maestro mexicano “Pocho”, famoso na época.

A trilha sonora original do filme A Ilha dos Paqueras se tornou um compacto duplo. Vendeu muito à época?
A capa do compacto é uma cena do filme que eu canto na boate do Ana Neri. E entrou nas paradas de sucesso, com uma grande vendagem..

Todos os instrumentos foram executados pela Peruzzi Orchestra. Fale a respeito.
Essa orquestra era do maestro “Pocho”. Somente a canção “La Prima Cosa Bella”, composta por Mogol e Nicola Di Bari, foi gravada com o maestro Waldomiro Lenke.

O filme é dirigido pelo cineasta Fauzi Mansur. Quais as lembranças que você tem do cineasta? Como ele conduziu todo o processo fílmico?
O filme foi dirigido por Fauzi Mansur. As filmagens correram perfeitamente bem, e levamos um mês para terminar o filme. Eu, nessa época, estava cursando a faculdade de Direito no Vale do Paraíba; e, por causa dessas filmagens, acabei perdendo um ano de faculdade. Mas não me arrependo. Tanto é assim que, por incrível que possa parecer, na época, eu namorei três moças. Elas aparecem no filme, e nenhuma sabia das outras. Era uma festa.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim, o Renato era perfeccionista. Lembro que, durante as filmagens, ele dava palpites para o Fauzi. E muita coisa era mudada na hora.

O Dedé era mais tranquilo?
O Dedé era bem mais tranquilo. Ele também era bem mulherengo.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Os críticos rejeitam porque são críticos e eles têm que escrever sobre isso. Mas as críticas não diminuem o trabalho feito pelos Trapalhões, que aliás, surgiram depois de A Ilha dos Paqueras.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Os filmes dos Trapalhões são feitos principalmente para um público infanto-juvenil, sem frescura... e levando em consideração o divertimento. Tem o seu valor, sim: aquele de divertir.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Durante as filmagens, aconteceu um fato inédito. Eu tinha como partner Giovanna Ruggier, que, no início das filmagens começou a namorar o fotógrafo de cena Luiz Tripoli. Aí, começou um ciúme por parte dele comigo; e as coisas começaram a se complicar. Por causa disso tudo, ele tirou a Giovanna do filme. E, como eu não tinha acabado as cenas e nem o final, o Fauzi teve que achar outra substituta para contracenar comigo, Conseguiu achar uma outra que não era atriz. E não podia aparecer o rosto. Filmava sempre de longe. É assim na cena que eu canto “Você Chegou Aqui”.