Dick
Danello
Ator
Como
surgiu o convite para trabalhar no filme A Ilha dos Paqueras?
O
convite foi através do Renato Grechi e de um dos produtores, Nissin Katalan. Tivemos
uma conversa e, posteriormente, apresentaram-me Renato, Dedé e cia. Foi muito
legal. Eu tinha e tenho 5% do filme.
Esse
foi o segundo filme do Renato Aragão. Teve um público de 1.335.132
espectadores, sendo o terceiro filme mais assistido de 1974. Que esse trabalho
representa em sua carreira?
Quando
o filme foi lançado no Cine Windsor, na Avenida Ipiranga em São Paulo, foi
realmente um grande sucesso de bilheteria. Eu era contratado da Gravadora
Continental, e a mesma contribuiu para a divulgação do filme. Na época, era uma
grande curiosidade esse filme. Devo dizer que esse filme contribuiu muito na
minha carreira de cantor e compositor, pois eu havia feito as músicas para o
filme, já que eu era o galã cantor do navio Ana Nery, do Lloyd brasileiro.
Quais
as suas principais recordações dos bastidores de filmagens de A Ilha dos Paqueras?
Muitas
recordações. Eu e Renato principalmente brincávamos muito. Era piada de todos
os lados. Era um grupo que se divertia à bessa. E quero confessar uma coisa: eu
e o Renato éramos muito mulherengos. Inclusive, chegamos a namorar numa cozinha
com as nossas garotas, na pousada onde a equipe toda estava alojada, em
Caraguatatuba (SP).
Renato
Aragão e Dedé Santana tinham como característica a irreverência. Até nos
bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram
descontraídas?
As
filmagens eram sempre alegres e descontraídas. E, sempre que possível, o Dedé sempre
aprontava algumas; e era uma gargalhada só.
Como
era o seu contato com Renato e Dedé?
Eu
já conhecia o Dedé na Rua do Triunfo. O Renato me foi apresentado antes do início
do filme; e, depois, ficamos muito amigos, durante as filmagens. Até cantarolava
sempre o tema do filme, que é a música “Vedrai, Vedrai”, da qual ele gostava
muito.
Você
teve contato com Dino Santana, irmão do Dedé, nessa produção?
Sim.
Eu conhecia o Dino há algum tempo, pois ele trabalhava num teatro ali no centro
de São Paulo. Um cara muito legal, e ficamos amigos também.
Em
A Ilha dos Paqueras você
compôs a música do filme. Como foi o seu processo de produção para esse
trabalho?
Eu
era contratado da Continental Discos e propus a eles gravar algumas músicas para
o filme. Eles toparam, e aí compus três temas que saíram num compacto (com
quatro músicas). Três originais minhas: “Vedrai, Vedrai” (tema), “Sole Spento”
e “Você Chegou Aqui” (uma das poucas canções que compus em Português). A outra
música que foi colocada nesse disco foi “La Prima Cosa Bella” (do Festival de Sanremo), que eu
já havia lançado anteriormente. Gravei nos Estúdios Reunidos da Gazeta, com o
maestro mexicano “Pocho”, famoso na época.
A
trilha sonora original do filme A
Ilha dos Paqueras se tornou um compacto duplo.
Vendeu muito à época?
A
capa do compacto é uma cena do filme que eu canto na boate do Ana Neri. E entrou
nas paradas de sucesso, com uma grande vendagem..
Todos
os instrumentos foram executados pela Peruzzi Orchestra. Fale a respeito.
Essa
orquestra era do maestro “Pocho”. Somente a canção “La Prima Cosa Bella”,
composta por Mogol e Nicola Di Bari, foi gravada com o maestro Waldomiro Lenke.
O
filme é dirigido pelo cineasta Fauzi Mansur. Quais as lembranças que você tem
do cineasta? Como ele conduziu todo o processo fílmico?
O
filme foi dirigido por Fauzi Mansur. As filmagens correram perfeitamente bem, e
levamos um mês para terminar o filme. Eu, nessa época, estava cursando a
faculdade de Direito no Vale do Paraíba; e, por causa dessas filmagens, acabei
perdendo um ano de faculdade. Mas não me arrependo. Tanto é assim que, por incrível
que possa parecer, na época, eu namorei três moças. Elas aparecem no filme, e
nenhuma sabia das outras. Era uma festa.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim,
o Renato era perfeccionista. Lembro que, durante as filmagens, ele dava palpites
para o Fauzi. E muita coisa era mudada na hora.
O
Dedé era mais tranquilo?
O
Dedé era bem mais tranquilo. Ele também era bem mulherengo.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Os
críticos rejeitam porque são críticos e eles têm que escrever sobre isso. Mas as
críticas não diminuem o trabalho feito pelos Trapalhões,
que aliás, surgiram depois de A Ilha
dos Paqueras.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Os
filmes dos Trapalhões são
feitos principalmente para um público infanto-juvenil, sem frescura... e levando
em consideração o divertimento. Tem o seu valor, sim: aquele de divertir.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
Durante
as filmagens, aconteceu um fato inédito. Eu tinha como partner Giovanna Ruggier, que,
no início das filmagens começou a namorar o fotógrafo de cena Luiz Tripoli. Aí,
começou um ciúme por parte dele comigo; e as coisas começaram a se complicar.
Por causa disso tudo, ele tirou a Giovanna do filme. E, como eu não tinha
acabado as cenas e nem o final, o Fauzi teve que achar outra substituta para
contracenar comigo, Conseguiu achar uma outra que não era atriz. E não podia
aparecer o rosto. Filmava sempre de longe. É assim na cena que eu canto “Você
Chegou Aqui”.