quinta-feira, 7 de julho de 2011

Torquato Joel


Torquato trabalhou como roteirista, assistente de direção e montador em produções cinematográficas variadas na Paraíba. A partir de 1996 realizou vários curtas em 35 mm, entre eles Passadouro’ premiado como melhor filme do festival de Gramado, melhor documentário no Festival de Recife e melhor direção no Festival de Brasília. Em 2000 foi um dos realizadores convidados a fazer um vídeo para a Mostra 50 Anos de TV. Participou com ‘Cochichola existe, é aqui!’

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta tem seu lugar na história do cinema no Brasil tanto quanto o longa. Na era Collor, quando a produção de longas praticamente foi reduzida a zero, o curta oxigenou os festivais de cinema pelo Brasil e conquistou o mundo com premiações significativas em festivais pelo mundo afora. A gente pode pensar também nos curtas que lançaram as bases estéticas do Cinema Novo como Aruanda e Arraial do Cabo.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Pelo motivo de que vivemos no capitalismo, que é ingrato com relação a uma obra cinematográfica de menor duração e com pouco valor como produto, e isso se reflete na sociedade como um todo. Uma obra de arte pode ser primorosa tanto com cinco minutos quanto com duas horas. Portanto, não é a duração que vai determinar seu valor artístico.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Primeiramente, acho que criando-se programas de exibição de curtas em blocos nas salas de cinema do circuito menos comercial, em espaços onde não são exibidos os blockbusters. Porque mesmo esse público não é muito habituado ao curta, é preciso catequizá-lo até, além do fato de ser um público formador de opinião. Os governos e instituições sem fins lucrativos ligadas ao meio poderiam desenvolver projetos para difusão do curta. Algumas iniciativas assim já acontecem, mas precisamos intensificar mais. Outra solução mais oportuna seria a aplicação da lei do curta que já existe com a exibição de um curta antes de um longa nas salas comerciais.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acredito que o curta pode até ser um exercício para o longo mas, como falei antes, o curta é tanto uma obra de arte quanto um longa. Muitos cineastas não percebem a dimensão disto e utilizam o curta como um mero portifólio. Vejo uma certa discriminação velado no meio cinematográfico. Um exemplo emblemático é o tratamento diferenciado aos curtametragistas em relação aos longametragistas em certos festivais. E isso é seguido pela mídia e pelo público. Um outro aspecto é "pressão" pra se saber quando você vai fazer um longa, deixar a "fase" do curta metragem. Mesmo assim, tenho um grande fascínio pela síntese e não sei se chegarei a fazer um filme de longa duração. Percebo que quando conto uma história oralmente tenho tendência ser sucinto, faço sempre um resumo com os elementos essenciais. Se um dia fizer um longa, ele vai ser certamente a junção de vários curtas.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso sempre em dirigir curtas, só devo parar com o último suspiro. Estou o tempo todo acumulando idéias para vários projetos. Alguns se realizam, outros não. O mundo trama a favor das idéias, são muitas histórias pra se contar, o nosso entorno tá cheio delas...