quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Carlos Ebert



Carlos é diretor e fotógrafo de cinema, televisão e publicidade. No final dos anos 60, participou do cinema marginal e foi câmera e diretor de fotografia de um dos filmes mais significativos do movimento, ‘O bandido da luz vermelha’ (1968), de Rogério Sganzerla. Desde 1970, dedica-se também ao ensino da fotografia para cinema, às publicações sobre cinema e à Associação Brasileira de Cinematografia (ABC), onde ocupou o cargo de vice-presidente no período de 2002 a 2004, e hoje é um dos diretores.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O cinema começa com o curta metragem. Nada se sabia a respeito do novo meio, e a experimentação se dava em pequenos filmes de uma bobina. Meliès a partir de 1899 começou a fazer filmes maiores dos que os de um minuto, que eram o padrão da época. Depois, por muito tempo, eram os filmes de três rolos. No Brasil a evolução se deu de forma semelhante. Com a generalização do filme longa metragem, o formato de curta duração passa a ser representado pelas "actualidades”, ou o "jornal da tela". Por outro lado, amadores e experimentalistas encontram no filme de curta duração um laboratório de pesquisa da linguagem e dos aspectos formais da cinematografia. Nesse aspecto o curta tem enorme importância da evolução da nossa cinematografia. Não pode ser deixado de lado o trabalho de Humberto e Zequinha Mauro no Instituto Nacional do Cinema Educativo - INCE, que produziu mais de 300 curtas educativos, científicos, históricos etc. entre 1936 e 1964.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Os curtas só aparecem na mídia durante os festivais, e assim mesmo tangencialmente. A presença na mídia me parece proporcional ao público que o formato atinge. Agora, se incluirmos na "mídia em geral" a internet, ai a coisa muda de figura. Os sites de audiovisual (Youtube, Vimeo, Portacurtas etc) e os sites de relacionamento (Orkut, Facebook, Twitter etc) representam hoje a maior mídia para formatos curtos de audiovisual. Os vídeos curtos (e seus clones, adulterações, remixes, etc.), mais vistos atingem milhões de visitas. O problema é que o produtor da peça não recebe um centavo pelo seu trabalho e talento. O lucro é todo do site.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Vejo o futuro do formato nas novas mídias, principalmente na internet. Acho que o cinema na sala escura vai diminuir cada vez mais. Com um home theater em full HD, Dolby 5.1, 3D etc em casa, cada vez menos gente vai sair de casa para ver filmes. Os curtas deveriam ser agrupados por afinidade temática, de gênero etc., para serem apresentados como "programas", com mais ou menos 1 hora e meia de duração. É esse o formato a que o público foi condicionado e ai ele encontraria uma janela de exibição na TV aberta. Destaco a exibição de curtas em alguns canais (Canal Brasil, Futura, TV Cultura entre outros), como uma mídia interessante já em funcionamento.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Ele é visto como um rito de passagem para os formatos "mais nobres", como o longa metragem, as séries de TV e até as novelas. Nenhum realizador que eu saiba se propõe a fazer curtas pelo resto da carreira, o que seria a meu ver algo muito interessante. Alguns cineastas que fizeram ótimos curtas não repetiram a performance nesses formatos "maiores". Talvez a vocação deles seja o curta, assim como alguns escritores são contistas geniais e romancistas medianos.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tenho fotografado alguns curtas de jovens diretores estreantes. Gosto muito. Aprendo bastante com o talento e até com a inexperiência deles. Tenho com eles uma liberdade de experimentação que me permite fazer coisas que em outros formatos e com diretores da minha geração não são possíveis. Isso tem resultado em filmes muito interessantes, e que tem obtido prêmios em festivais importantes aqui e no exterior. Destaco entre esses jovens realizadores; Rodrigo Grota e José de Aguiar (da Kinoarte de Londrina), Marcos Henrique Lopes e Clarissa Knoll. Outros, para quem fotografei curtas, já estão no longa, como Evaldo Mocarzel, Caio Vecchio e Jeferson De. Minha atuação no set se da quase que exclusivamente como diretor de fotografia e operador de câmera, mas não afasto absolutamente a possibilidade de dirigir um curta. Tenho dirigido programas para TV e documentários, e me dá muito prazer (excetuando talvez o trabalho confinado da edição, que para o meu temperamento é por demais claustrofóbico).

Qual é o seu próximo projeto?
Terminei o longa Circular, rodado em Curitiba por 5 diretores estreantes, e que vou finalizar em breve. Tenho agendados projetos de curta e séries de TV, além de vários cursos, oficinas e painéis até o final do ano. Os longas estão previstos para o primeiro semestre de 2011 em diante. Gosto muito de ensinar, e dedico uma parte expressiva do meu tempo à atividade didática. Aprendo muito ensinando, e a relação com quem está chegando no meio, me permite entender melhor para onde vai o audiovisual.