A revista Cinema Caipira ISSN 1984-896x, número 32, já está disponível para encomenda e download gratuito em diversos formatos. Neste mês ela conta com os seguintes artigos;
“O cinema como registro etnográfico;
A pichação paulistana a partir do filme A Letra e o Muro” de Daniel Mittmann
“A Boa Luta Perdida
As reminiscências dos veteranos da Brigada Abraham Lincoln no filme The Good Fight” (Continuação do artigo publicado na revista 30) de Gabriel Lopes Pontes
“A imagem contemporânea como sadismo explícito: paralelo entre cinema e as artes plásticas” de Wayner Tristão
“Triumpho com a Vitória” de Rafael Spaca
“O personagem-sujeito no filme de ficção” de Luiz Carlos Lucena
“Algumas considerações sobre Achados e Perdidos”de Linda Catarina Gualda
“O que vemos o que nos olha: uma análise do filme 1984” de Andreia da Silva Santos e Andreza da Silva Santos
OBS: Os participantes desta edição tem direito a uma revista, bastando enviar por e-mail seus endereços.
revista folheável para leitura online
http://www.readoz.com/publication/read?i=1042428#page1
revista para impressão em arquivo pdf
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arquivo ePub para leitura em celulares e tablets
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para encomendar a revista no valor de R$7,00 cada ou assinar a anuidade por R$70,00, envie e-mail para jpmiranda82@yahoo.com
Para quem quiser ler somente o meu artigo, segue o texto:
Triumpho com a Vitória
Mesmo quem não circula pelo centro de São Paulo, já ouviu falar a respeito da cracolândia (situada entre as avenidas Duque de Caxias, Ipiranga, Rio Branco, Cásper Líbero e a rua Mauá). À medida que o bairro da Luz foi se degradando, e o cinema foi um dos responsáveis por isso – a Boca do Lixo dava seus últimos suspiros com produções de sexo explicito - a região passou a ser ocupada por traficantes e viciados de todos os tipos, especialmente pelo crack.
No fim da década de 80 e começo da década de 90, o que mais se via ali eram crianças cheirando cola e/ou esmalte. Com a propagação do crack e o aumento do número de usuários, a região passou a ser conhecida como cracolândia, que foi e continua sendo uma das maiores aberrações a céu aberto da cidade.
O bairro da Luz possui uma localização privilegiada, é perto das estações de trem, metrô e terminal de ônibus, possui os mais belos equipamentos culturais da cidade (Estação Júlio Prestes, Sala São Paulo, Pinacoteca, Museu da Língua Portuguesa e mais recentemente uma nova Unidade do Sesc foi incorporada ali, a do Bom Retiro) e foi projetado também o primeiro parque da cidade, o parque da Luz.
Com as referências citadas acima, em qualquer lugar do mundo, essa região seria valorizada, casas e apartamentos seriam disputados... mas não é o caso.
Em 2004 a prefeitura lançou o projeto Nova Luz com o intuito de revitalizar a região – demolição de quarteirões, revitalização de prédios históricos e um perfil cultural e tecnológico estão na proposta - e arrancar de vez o termo “cracolândia” que atrapalha qualquer candidatura no momento da eleição.
Justamente nessa região aconteceu o apogeu (em termos de produção e conceito de industria) do nosso cinema. Muitos a conheceram como Boca do Lixo, onde centenas de filmes foram filmados e produzidos na região, principalmente nas ruas do Triumpho e Vitória, que concentravam a maioria das produtoras, algumas delas internacionais.
Na Boca do Lixo tinha traficante, bandido e tudo quanto é marginália, mas tinha uma aurea romantica e todos conviviam bem. Anselmo Duarte, Mauricio do Valle, Zilda Mayo, Antonio Galante, entre muitos outros, andavam pelas suas calçadas.
O projeto da Nova Luz foi aprovado em 2005 e as empresas que concorreram ao consorcio para dar uma nova fisionomia ou uma nova requalificação a região não consultaram os moradores, trabalhadores e os artistas que trabalharam ali. A prefeitura tão pouco tomou conhecimento disso.
Nesse interim, os comerciantes e moradores se impuseram, protestaram, conseguiram ser ouvidos e ganharam espaço no debate para discutir as diretrizes da região, mas os artistas não se movimentaram. Será que ninguém tomou conhecimento disso?
Junto com as imponentes âncoras culturais instaladas na Luz, não seria o caso de se construir o Museu do Cinema com um espaço generoso para os profissionais que ajudaram a construir a sua história?
Teríamos a oportunidade única de maravilhar nossos cinco sentidos num único bairro: a audição (Sala São Paulo), a visão (Pinacoteca), o paladar (Museu da Língua – nesse caso o exercicio da lingua – inevitável o trocadilho), o tato (Parque da Luz) e a visão (com a produção do audiviovisual brasileiro).
Estamos diante de um momento histórico, ainda há tempo de ser corrigido, e ser for, será um triunfo e tanto... e uma vitória para a nossa memória.
Rafael Spaca, radialista, autor do blog Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com/)