domingo, 3 de junho de 2012

VAGA IDEIA


Vera Cruz, uma mentira!

Muitas pessoas cometem um equivoco ao dizer que a Companhia Cinematográfica Vera Cruz foi uma indústria de cinema aqui no Brasil. Não foi nem um esboço de indústria!

A Vera Cruz foi um estúdio de cinema. Um estúdio profissional, com profissionais extremamente competentes em suas áreas, muitos deles vindos de fora do país. O produtor italiano Franco Zampari e o industrial brasileiro Francisco Matarazzo tinham uma visão, um sonho americano de fazer cinema.

Toda a produção realizada ao longo de quatro anos em que a Vera Cruz funcionou e, neste período, saíram vinte e dois filmes, tinha como espelho a produção americana.

É indiscutível o legado que a Cia. Cinematográfica Vera Cruz deixou para o país. Foram conquistados prêmios, lapidaram talentos em todas as áreas, revelaram nomes e deixaram uma marca.

Buscaram nomes no teatro, equipamentos de vanguarda e tentaram mostrar às pessoas que era possível fazer cinema no país. Foi um período áureo, romântico, mas o mercado é muito mais frio e cruel.

Suas bases eram industriais, mas pelo tempo e pela forma que terminou (quebrada, sem dinheiro, sem distribuição, sem força para concorrer com o mercado industrial americano), não podemos considera-la como indústria.

Faltou uma visão estratégica para mantê-la produzindo, se autogerindo, se durasse mais, o curso da história do nosso cinema poderia ser outro. O que falta ao país é uma politica de longa duração. Nosso cinema é dividido em movimentos, um aqui outro acolá.

Não há uma história linear, com uma média de produção de filmes realizados, de construção de salas de cinema, de formação de público, vivemos de momentos. Isso é fato, desse jeito não somos e nem seremos uma indústria.

Esse pensamento imediatista é péssimo, mas é o pensamento que vigora e que existe neste país.

Quando faliu, seus galpões serviram para todos os fins, desde feiras de automóveis até para festas de casamento. Hector Babenco utilizou os galpões para filmar algumas cenas de ‘Carandiru’, a TV Cultura chegou a gravar algumas produções ali e foi só. Continua sendo subutilizada, com destino incerto.

Sua estrutura física é espetacular, não há galpões na cidade de São Paulo com aquela dimensão e mesmo assim continua de lado. Nem todo mundo tem lugar para filmar, por que não pensam nela?

Ainda hoje há pessoas que citam a Vera Cruz como referência, cabe ao leitor decidir qual é a verdadeira lição que temos que tomar com essa história.

Rafael Spaca, radialista, autor do blog Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com/).