sábado, 1 de junho de 2013

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica

Esse texto tem uma curiosidade a respeito de um pensamento de R.F.Lucchetti, uma autêntica premonição.

Lembro-me do primeiro conto que eu escrevi. Intitulava-se “O Corcunda”, uma mescla de “A Bela e a Fera” a qual foi contada pela minha professora do primário, D.Tomazia Bruni e “O Anão Amarelo”, um livrinho que pertencia à minha irmã Célia, e que fazia parte da famosa Biblioteca Infantil da Companhia Melhoramentos com aquela clássica e inesquecível imagem da avozinha cercada pelos netinhos. Essa foi uma coleção muito popular nos anos 30 e 40.

A ideia desse conto não nasceu propriamente das duas histórias citadas. Perto de minha casa onde morava na Lapa, havia um anãozinho corcunda. Todos os garotos da vizinhança tinham medo dele e corriam sempre quando ele aparecia, mas eu ficava olhando-o num misto de curiosidade e piedade. Uma vez ele me dirigiu a palavra, perguntando-me porque eu não fugia dele como os demais meninos? Por quê haveria fugir? Respondi-lhe. Desde então ele passou a me cumprimentar com um sorriso no seu semblante triste. Nesse meu conto eu quis demonstrar que as pessoas nunca devem ser julgadas pela sua aparência física.

Mandei o contato para “O Tico-Tico” que era a mais tradicional revista infantil da época. Não se passou muito tempo e ele me foi devolvido com uma atenciosa carta escrita de próprio punho e assinada pelo Galvão de Queiroz. Primeiro ele comentou que eu devia ter me inspirado em alguma história, depois aconselhou-me de que antes de começar a escrever eu devia ler muito, principalmente os bons autores e estudar sintaxe.

A emoção de receber a carta foi muito maior do que seu o meu conto houvesse sido publicado. Eu conhecia o Galvão de Queiroz dos contos que ele escrevia para “O Tico-Tico” e dos livrinhos infantis como “Pedrinho, o Pequeno Corsário”. Até hoje eu guardo essa carta com muito carinho.