quarta-feira, 21 de agosto de 2013

5 Anos Hoje!!!


O cinemaabaixo de 0
 
O Rafael me convidou para escrever um texto para “os curtos filmes” que está fazendo 5 anos. Topei na hora. Mas depois fiquei quebrando a cabeça sobre o que poderia escrever. Por fim, resolvi, então, comentar sobre a importância de um trabalho como este para nossas produções “abaixo de 0”.
 
Acredito que este espaço é importante principalmente para os curtas metragens, que brinco aqui, chamando-osabaixo de 0. Curtas metragens realizados por cineastas, geralmente moradores de periferias, sem recursos financeiros, mas com muitos recursos humanos que não possuem assessores de impressa, nem material gráfico para divulgação ou contato em Festivais e sem críticos de cinema.
 
Chamo de cineastas os que fazem do audiovisual a sua arte, sua expressão de vida, mesmo não se sustentando dela. Cinema é imagem em movimento, não se define em tempo.
 
“Os Curtos filmes” nos faz refletir sobre a importância que o curta-metragem tem na cultura brasileira, mas que ao mesmo tempo é tão ridicularizado ao ponto de muitas produções estarem na gaveta. É ir além da exibição, traz a necessidade da discussão sobre o que se produz.
 
O curta metragem está tão presente na cultura brasileira graças a invenção do sistema digital, que podemos encontrar produções nos lugares mais remotos de nossa sociedade. Mas o sistema brasileiro de financiamento cultural não consegue sustentar todos e os que ficam de fora nesta seleção, fazem suas produções “abaixo de 0”. Viramos pedintes da cultura e pior que pedir esmola é pedir apoio de alimentação para realizar um curta-metragem e ainda de terror, com certeza ouvimos muito mais NÃO!. (risos)
 
Foi neste blog que respondi pela primeira e única vez uma entrevista sobre nossos curtas-metragens.
 
Não discutimos e não falamos sobre o que estamos produzindo, sobre conteúdo, qualidade, desejos, etc. Além do dia do lançamento, são raros os espaço para este fim. O LEPE Digital (Laboratório de estudo, produção e experimentação digital) do JAMAC tem como proposta ser um espaço para estas discussões, além de exibirmos filmes no Cineclube.
 
O movimento cineclubista teve seu auge até o inicio dos anos 80, criado como um espaço de exibição e discussão entre cineastas. Acredito que graças, novamente ao digital, e ao valor exorbitante do cinema comercial, os cineclubes retornaram no meio dos anos 90, mas a maioria com o objetivo de exibir filmes para as comunidades pobres. Aos poucos as pessoas perceberam que poderiam realizar suas próprias produções, na maioria em formato de curta-metragem, na comunidade e exibi-las nos cineclubes.
 
Este movimento já está bastante grande e vem crescendo mais a cada dia. Até no próprio Festival Internacional de Curta Metragem de São Paulo, nos últimos anos, entrou na programação os “filmes de comunidade”, na mostra online, onde em 2012 o filme “C´Kost”, produzido no JAMAC, por moradores e alunos, com quinhentos reais, ganhou como melhor filme na categoria formação do olhar.
 
Bem, desculpa, voltando ao “cinema abaixo de 0’. Neste método de produção vale tudo. Vale convidar a sogra como produtora de alimentos, a mãe como figurante, a namorada do amigo para ser a mocinha, os salgados do final de festa de 15 anos, ticket alimentação da irmão, um amigo que trabalha na empresa de manutenção de poste para emprestar o caminhão para fazer a grua, sobras da escola de samba para o figurino, perseguir um carro de policia de verdade para a cena de ação, convidar os Rapers do bairro para fazer a trilha sonora, e no final o vizinho com o carro equipado de som de funk para exibição do filme na comunidade. Só não vale empréstimo de banco. Primeiro que não é qualquer um que consegui dinheiro no banco para realizar um filme no Brasil e segundo que você vai entrar em um buraco sem volta. O Cinema abaixo de 0 é mais comum do que se pensa e é praticado no Brasil inteiro, iniciou com curta-metragem e agora tem vários cineastas produzindo longas.
 
Faz quase 12 anos que produzo curtas metragens e parece piada, em 2012 foi a primeira vez que saímos da categoria “filmes abaixo de 0”, acho que este é o sonho de todos que ainda estão assim.
 
Em breve estaremos lançando dois curtas-metragens. O primeiro em película e com patrocínio da Lei Rouanet, uma animação de Rodrigo Eba! e do coletivo Grafiti com Pipoca.  O segundo é o “Caixa d´Água”, minha direção e do Gilberto Caetano, um infanto juvenil, que conta a história de 4 crianças que brincam na caixa d´água de casa enquanto a mãe sai para trabalhar. Estaremos enviando mais texto sobre estes filmes logo mais.
 
Antes de finalizar, gostaria de divulgar nosso projeto Mascate Cineclube, que desde 2005, circula itinerante pela região da Cidade Ademar/Pedreira exibindo curtas-metragens e longas nas comunidades. Quem tiver um curta-metragem e quiser nos enviar fique à vontade. Só não pode ter palavrão porque as pessoas reclamam. (risos)
 
Parabenizo a iniciativa do Rafael e todos que contribuem com o projeto, pois além de ser um espaço para falarmos sobre nossos trabalhos também é de divulgação, informativo e de contatos. De todas as entrevistas neste blog a minha preferida foi com o Esmir filho, sou muito fã dos curtas dele. Acho até (algumas pessoas vão me matar) que ele foi mais feliz nos curtas do que no longa, o filme “Impar par”, é um dos mais lindo e completo que já vi na vida.
 
Thais Scabio.