domingo, 4 de agosto de 2013

Jorge Duran

Fotografia: Luis Abramo, Fotografo, Alexandre Ramos, na câmera, Jorge Durán, e Gabriel Durán, produtor e montador.
 
Jorge Duran é roteirista e diretor que ficou conhecido pelos roteiros de Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981) e O Beijo da Mulher-Aranha (1984), os três dirigidos por Hector Babenco. Como cineasta fez: Não Se Pode Viver Sem Amor; Proibido Proibir e; A Cor Do Seu Destino.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Não tenho participado diretamente em produções de curta-metragem. A El Desierto Filmes, nossa produtora, tem participado sim, e quem tem cuidado disso são Pedro Rossi e Gabriel Durán, também sócios. Eu acho importante  receber produções de curta-metragem, já que os considero tão difíceis de produzir e realizar quanto o longa-metragem. Mais ainda, porque sabemos que são feitos com mais esforço que dinheiro.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que os curtas, embora alguns tenham as mesmas ou mais qualidades que alguns longas, nunca terão a visibilidade de estes últimos. Não acho isso bom, mas uma realidade. Na época que o curta era exibido obrigatoriamente, no começo passavam bons curtas nos cinemas. Isso foi sendo deturpado e como se falava na época, os próprios exibidores faziam arremedos de filme de poucos minutos, que foram criando um mal estar no publico. A Motion Picture, naqueles anos fez vir Jack Valenti, ou como se chame o sujeito, que era o chefão naquela época, para fazer lobby contra a obrigatoriedade da exibição dos curtas junto com um longa, sendo muito bem recebido pela sociedade brasileira, políticos, militares e autoridades. Uma mesquinharia, falta de interesse no cinema brasileiro e, para ser claro, considero que foi causado pó uma estupidez e falta de critério quase congênita.  
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Não me ocorre uma forma, porque ver eles na TV é um paliativo, mas não uma solução, já que muitos deles visavam a exibição em salas de cinema. Talvez criar uma mostra mensal de curtas selecionados, por uma semana em Centros culturais espalhados pelo Brasil, ajude. No Chile, um cinema do grupo Hoyt, dedicava uma das tantas salas todas as segundas feiras a exibição de curta-metragem. Não sei se ainda fazem isso. Não acredito que exibidores vão se interessar no “produto”, como é chamado por eles e distribuidores, por não ter nenhuma vantagem econômica. Outra forma seria pleitear que aqueles cinemas que recebem incentivos fiscais para existir, passem obrigatoriamente curta-metragem.  
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não vejo o curta-metragem como trampolim. Seria como imaginar o escritor de contos como um sujeito se preparando para escrever um romance. Viver, pagar as contas, fazendo curtas, acredito que seja difícil. Mas combinado com atividades no cinema, como produzir, distribuir, escrever e outras formas de ganhar a vida, podem permitir que alguém se dedique a fazer curta-metragem, já que podem ter saída comercial eventual. Não acredito que fazer curta-metragem ajude muito a entender a mecânica de fazer um longa. São absolutamente diferentes, mas não excludentes. Eu nunca consegui escrever um curta, já que quando estava na página sete ou dez, sempre reparava que ainda nem tinha entrado no assunto. Já tentei varias vezes, sem êxito. Mas ainda consigo fazer um que seja. Acho extremamente difícil fazer um bom curta-metragem, assim como um longa. Você deve lembrar daquela clássica desculpa “me perdoe por lhe escrever esta carta tão longa, é que não tive tempo para lhe escrever uma curta”.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não acredito. Qualquer cineasta sabe respeitar e apreciar um bom filme.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Planejo fazer um documentário e um curta-metragem, já que ainda não consegui fazer. Ideias não faltam, mas vou ter que tomar coragem e estudar bastante.