Cineasta. Diretor do curta-metragem ‘Phoenix’ e do longa-metragem ‘Hércules
56’. Em 1984, dirigiu o
premiado curta-metragem ‘O
Príncipe do Fogo’, sobre o
criminoso Febrônio Índio
do Brasil. Em 2007, foi nomeado
Secretário do Audiovisual do Ministério
da Cultura, ocupando o cargo que era exercido por Orlando Senna.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
Minha primeira aproximação prática com o
cinema, ainda na adolescência, se deu por meio do cine clubismo. Em 1967, com
17 anos, fui eleito presidente da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro,
que congregava 32 cineclubes da Guanabara, Rio de Janeiro e Espírito Santo. A
Federação funcionava na Cinemateca do MAM, o que me proporcionou acesso aos
clássicos do cinema brasileiro e mundial. Em 1968, o movimento estudantil e,
após o AI-5, a oposição armada à ditadura, me levou à militância política
clandestina e duas prisões. Só retomei o cinema quando se aproximava a anistia
e começava, lentamente, a avançar o processo de abertura política. Em 1977 foi
finalmente regulamentado o artigo da Lei 6.281, que criava uma reserva de
mercado para exibição de curtas brasileiros junto aos longas metragens
estrangeiros, no circuito comercial. Caso não houvesse o sistemático boicote
dos exibidores e distribuidores estrangeiros, esse dispositivo teria
possibilitado aos curta metragistas uma atividade sustentável, pois a renda de
um curta praticamente possibilitava a realização do próximo. Organizamos a
Cooperativa dos Realizadores Cinematográficos Autônomos – Corcina, que chegou a
reunir 52 diretores. Na Corcina, fui sucessivamente vice-presidente, secretário
e presidente. A falência da “lei do curta” nos fez buscar alternativas.
Conseguimos então implementar na Embrafilme, pela primeira vez, um sistema de
concursos públicos trimestrais para seleção de projetos de produção de curtas.
Foi uma conquista da Associação Brasileira de Documentaristas – ABD, que passei
a presidir em outubro de 1983. Minha geração encarava o curta metragem como um
meio privilegiado de expressão e intervenção pública: baixo custo, curta
duração e contundência. Realizei 'Fênix' em 1989, 'Mutirão' em 1980 e 'Príncipe do fogo' em 1984. Eu era o único técnico de som da Corcina, o
que me levou, em menos de três anos, a gravar som direto para mais de 40
filmes, entre curtas e médias.
Conte sobre a sua experiência em
trabalhar em produções em curta-metragem.
Entre 1978 e 2005, gravei som direto para
mais de cem curtas e médias. Produzi alguns, dirigidos por amigos próximos e
por Sandra Werneck, minha companheira na época. Tínhamos uma câmera 16mm e um
kit de captação de som, formado por Nagra e alguns microfones e acessórios.
Toda minha formação profissional cinematográfica se deu nesse ambiente de
produção independente, nos anos de abertura política no Brasil, quando os
filmes eram marcados por empenho, voluntarismo e espírito militante, no sentido
político e artístico.
Por que os curtas não têm espaço em críticas
de jornais e atenção da mídia em geral?
Esse é um fenômeno mundial. A crítica
cinematográfica especializou-se em longas metragens e entende que sua função é
orientar o público a escolher o filme que vai assistir. Como o curta não dispõe
de um circuito próprio, não existe crítica regular de curtas nos grandes meios
de comunicação, somente nos blogs e revistas virtuais que surgiram na última
década.
O curta-metragem para um profissional (seja
ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Sem dúvida, o formato permite uma liberdade
de experimentação que não se pode encontrar em filmes de maior orçamento e
equipes numerosas. O curta sempre foi o espaço por excelência da inovação e
experimentação no cinema. Recentemente, com o surgimento dos equipamentos
digitais de baixo custo e maior portabilidade, filmes com características
experimentais têm sido feitos em longa metragem, o que é ótimo. A falta de um
circuito regular acabou por transformar o curta em um formato quase amador.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um
longa?
Não necessariamente. Nos anos 1980, quando
conquistamos um sistema de financiamento para o curta, muitos realizadores
fizeram o que, na época, chamávamos de “curta portfólio”, ou seja, filmes para
demonstrar a produtores a capacidade de realização de longas. Mas o curta é um
formato em si próprio, muitos realizadores têm extensa filmografia que não
inclui um único longa, somente curtas.
Qual é a receita para vencer no audiovisual
brasileiro?
Se existisse receita, a atividade não seria
tão fascinante. Objetos artísticos não resultam de fórmulas, mas de criação.
Não há garantia para o sucesso, mesmo no caso de produções com ingredientes
altamente comerciais. Alguns produtos da Globo Filmes demonstraram isso
recentemente, atingindo público imensamente inferior às expectativas dos
produtores.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Meus projetos atuais são todos documentários.
Alguns de longa-metragem. Outros são séries para televisão.