Atriz. Presidente da ONG ‘Pensamentos
Filmados’.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Antigamente,
lá por 2006 até 2008, participava para adquirir experiência. Depois comecei a
ser mais criteriosa. Hoje para participar de um curta-metragem tenho que ter
uma motivação forte, mesmo porque estou muito envolvida com a ONG que fundei,
Instituto Pensamentos Filmados, que produz audiovisual e requer muito tempo e
energia. Fazer filme, mesmo que de dois minutos é um trabalhão, né!
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Eu fui
fazer curtas para adquirir experiência em audiovisual e como atriz. Curtas e
médias são ótimos treinos, a gente bota a mão na massa e aprende muito. Com o
tempo percebi que fazer filme é algo muito trabalhoso, caro e que já tem tanto
filme bom sendo feito, que para produzir algo a minha motivação deveria ser
muito forte, e ela é. Eu uso o audiovisual para conscientizar as pessoas sobre
assuntos delicados e urgentes, por isso que fundei a ONG Pensamentos Filmados,
pra usar o cinema para falar de transtornos de humor, comportamento humano e
medicina integrativa.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Até tem
espaço dependendo do tema. Nosso curta-metragem, o filme “Vida”, que iniciou a
ONG Pensamentos Filmados teve atenção da mídia, desde canais de TV como a GNT,
SBT, Record até jornais como a Folha de SP. Mas é que se compararmos com outras
produções audiovisuais, o espaço é pequeno mesmo. Acho que é algo cultural, não
é do nosso costume e tradição assistir e valorizar curtas, então a mídia em
geral nem se interessa muito pela modalidade.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Como tudo
na nossa sociedade: marketing. Mas marketing é caro, então se o retorno
financeiro de um curta ou média valesse a pena, com certeza se investiria em
marketing para promove-los e consequentemente eles atingiriam um público cada
vez maior.
Hoje o
Youtube! e Vimeo ajudam muito na "distribuição" dos curtas e médias,
mas como já disse, é algo cultural, a gente não é acostumado a assistir curtas
e médias. Tem canais como o Canal Brasil que passa filmes de menor duração, tem
os festivais e mostras, mas mesmo assim eles atingem um público restrito,
porque é algo cultural mesmo. Tem gente que não é da área de cinema que nem
sabe que existem filmes com menos de uma hora de duração!
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Curtas
são mais acessíveis de se realizar, demandam menos tempo e são bem mais baratos
do que um média ou longa. Então se o cara quer experimentar, o curta é ótimo
pra isso, mas aí eu sempre caio naquela questão que todos os profissionais, de
todas as áreas, deveriam se perguntar: "para que estou fazendo
isso?".
O mundo
já está abarrotado de ótimos profissionais e artistas talentosos. O mundo
precisa urgente é de bons seres humanos, de pessoas que experimentem a
consciência social! Então o cara deveria se perguntar: o que me leva a ser um
ator, produtor, diretor em primeiro lugar? Eu tenho algo a dizer? A passar?
Para que vou fazer esse projeto? Qual será meu impacto na sociedade?
A gente
mesmo do Pensamentos Filmados tá fazendo uma série de curtas que são
experimentais, mas porque os filmes pediram isso. A gente não ta experimentando
por experimentar, antes a gente tem algo que precisa ser dito e passado, então
esbarramos na falta de verba, e as circunstâncias nos levaram a experimentação
porque fazer um filme tecnicamente bom é muito caro, mesmo que seja um curta e
meu sobrenome é Saad, mas infelizmente eu não pertenço ao núcleo rico, como o
pessoal da Band ou da Maison Saad...
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
O curta
ou média deveria ser um fim em si mesmo, se desembocar em um longa ótimo, mas
essa não deveria ser a motivação inicial. Aliás tudo o que fazemos deveríamos
fazer com a maior presença e dedicação sem pensar no resultado final, esse é um
princípio do estado meditativo: estar presente no aqui agora!
Li uma
entrevista recente com o Spielberg em que ele diz que em vários projetos dele,
ele era o único realmente interessado em fazer o filme, que a maioria da equipe
estava ali apenas por causa do salário. Achei isso uma pena, mas retrata bem o
sonambulismo agudo em que vivemos. As pessoas estão com o corpo presente, mas
os pensamentos em outro lugar, reféns da própria mente que fica projetando,
sonhando, distorcendo a realidade ao invés de aproveitar o presente! E esse
sonambulismo, essa falta de uma consciência elevada faz com que as pessoas se
causem mal. Vi isso de perto em um grupo que fez um longa.
O longa
era apenas um trampolim para ganhar prêmios, de preferência o Oscar, para assim
ser um trampolim para ir trabalhar com o George Clonney! Para assim ser um
trampolim para um glamour que não existe! Pra esse tipo de pessoa imatura, tudo
é trampolim para alguma coisa e elas acabam passando por cima de outras
pessoas, porque no sonambulismo agudo em que se encontram quando esbarram em alguém
nem percebem...
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Eu ainda sou uma looser no audiovisual, procurei a receita e por isso posso
dizer: não existe receita, cada um tem seu caminho de vida... Teve uma época
que li bastante sobre os diretores brasileiros consagrados e em todos eles
identifiquei algo em comum: muito estudo, persistência, paixão e muito
trabalho.
Então
achei: "que beleza! Eu também sou esforçada, estudiosa, trabalhadora,
persistente!" mas ainda não consegui engrenar a Pensamentos Filmados...
Fracassei
bonito na captação de recursos do Projeto que a gente teve aprovado na Lei
Rouanet, não consegui verba nem para fazer o documentário de extrema
importância para a sociedade, que a gente ta fazendo mais uma vez na guerrilha
e provavelmente vamos tentar crowdfunding. Descobri que 75% dos projetos
aprovados na Lei Rouanet não são captados, porque essa Lei é para beneficiar as
empresas e não os artistas, ainda mais se eles forem "Zé Ninguém", como
no meu caso.
Então
quem pode falar de sucesso no audiovisual brasileiro é o pessoal da LoIo
Filmes, da O2, da Conspiração, da Zazen, da Buriti, o Selton Mello, o pessoal
do "Porta dos Fundos"... eu ainda sou só uma ET usando o audiovisual
para "destabulizar" assuntos tabus, tentando ajudar o máximo de
pessoas que eu posso com o mínimo de recursos que a gente tem.
Mas
batalhamos incansavelmente, quem sabe um dia poderemos ocupar nosso lugarzinho
ao sol no audiovisual brasileiro? Quem sabe?
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
Curta,
série, longa! Já temos muitos projetos que estão em formato de Plano de
Produção, com orçamento e tudo certinho. O que nos falta? Verba e parceria para
coproduções.
Vamos
cruzar os dedinhos pra que a gente consiga, porque muita gente será beneficiada
com o conteúdo desses filmes.