Ator. Atuou no filme ‘Circular’.
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Quando estava
na faculdade eu aceitava qualquer proposta, pois tinha um desejo muito forte em
participar de produções e de conhecer pessoas. Agora eu peso e seleciono
melhor. Tem quatro pontos pelos quais me guio: disponibilidade de horários,
interesse no projeto, equipe integrante e claro cachê. Quanto a interesse no
projeto me pontuo pela complexidade das personagens e de suas relações, o
universo dramático chama a minha atenção.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
Os projetos que participei se dividem entre estudantis
(realizados com grupos de estudantes de cinema da Faculdade de artes do Paraná)
e Casos e Causos (Produções da RPC TV e Parceiros como GP7 cinema). Os projetos
estudantis são aprendizados para todos. Ao mesmo tempo que estamos
interpretando o diretor busca sua estética e sua forma de liderar, a equipe experimenta
os equipamentos. Os resultados são diversos, mas geralmente são projetos
divertidos de se participar. Já em produções que envolvem remuneração e equipe
experiente encontrei pessoas que sabiam o que queriam e tinham um curto espaço
de tempo para realizar o projeto. Resultando em formatos que o público está
mais acostumado a ver.
Como ator sigo um conselho que me foi dado "não se
apaixone". Esse conselho me foi dado quando eu achava tudo que eu fazia
era muito importante, ficava estonteado com uma cena realizada. Enfim, para
todos os meus trabalhos em cinema e TV esse conselho me foi útil, pois na
verdade a direção e a edição é quem selecionam tudo, não é bom se apegar a algo
que "puxa podia ter entrado aquela cena", independente do resultado
da cena, é importante perceber o que o trabalho quer comunicar no todo e se a
cena colabora para isso.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e
atenção da mídia em geral?
Não me vejo
como a melhor pessoa para responder isso. No entanto olhando para o cenário de
produções artísticas eu não resumiria a falta de visibilidade aos curtas, mas
expandiria a questão a todas as expressões artísticas. Não vejo os jornais
darem foco para novos músicos, nem a novos artistas visuais, muito menos a
novos cineastas.
Sempre tem a
questão do público alvo. Será que o trabalho que pretende ser exposto, ou
divulgado por um jornal vai de encontro com os interesses do público alvo desse
mesmo jornal? Alguns aqui diriam que o jornal é pra todos e que não precisaria
selecionar a informação, mas por outro lado o público alvo da Tribuna, da
Gazeta do Povo e da Folha de São Paulo são diferentes.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para
atingir mais público?
Esse formato
tem um alto potencial e acho que na verdade cada vez terá mais. As pessoas
estão cada vez com menos tempo. No entanto, chegam em casa cansadas e querem se
divertir, relaxar. Enfim a criação de canais temáticos poderia funcionar. Como
um canal no youtube ou blog de curtas de comédia, outro de drama enfim vários
gêneros. Uma iniciativa que acho bastante interessante é segue um pouco essa
linha é o porta curtas (http://portacurtas.org.br/). Mas mesmo assim ainda é pouco divulgado poucas pessoas com
que eu converso sabem da existência desse site.
Acho que se
de alguma forma se os produtores conseguissem espaço para veiculação na TV
seria possível atrair mais interessados para os curtas. Mas para criar a
cultura de ver curtas seria necessário um espaço e horário fixo, algo regular.
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação,
direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Certamente.
Acho que justamente por isso é complexo popularizar este formato. Quando algo é
original de mais deixa de se comunicar. É como no filme Quem somos nós que o
índio vê a flutuação na água, mas não vê o caravela. Era algo tão diferente que
se fez incompreensível a ele durante muito tempo. Popularizar o curta é envolve
ceder a padrões estéticos estabelecidos ao melodrama por exemplo. Grande parte
do público não se interessa por arte experimental. Particularmente acredito que
um produto artístico bem sucedido pode ser amado ou odiado, só não pode ser
ignorado. Existe uma alquimia necessária entre a originalidade e o estabelecido
para que algo possa ser assimilado. Caso contrário estará se fazendo arte
somente para estudantes de arte e artistas.
É importante
lembrar que estamos em um país que ostenta o título de ser o melhor produtor em
telenovelas, Precisamos levar em consideração que nosso público está acostumado
com a estrutura dramática, com o melodrama. Mesmo que as vanguardas estejam
discutindo o pós-dramático e a performance. Uma performance em si é algo
incompreensível, quase inconcebível para o público leigo. No entanto se a
colocamos dentro de uma estrutura dramática facilitamos para o público. É uma
forma didática de pensar, mas como a maior parte das questões aqui refletem a
preocupação em popularizar os curtas-metragens penso que a formação de plateia
acaba sendo necessária.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acho essa uma
questão relativa. Depende do ponto de vista. Se falamos de um diretor, produtor
ou roteirista certamente sim. Já se falamos de um ator ou atriz e ainda não é
conhecido(a) por pessoas que estão fazendo longas talvez. No entanto, parte do
mercado está interessada num misto de ficção e realidade. Uma equipe preparada
com todo estudo e preceitos estéticos seleciona pessoas sem qualquer contato
prévio com interpretação para realizar trabalhos junto com atores que se
dedicaram a formar sua carreira nessa área. A Rede globo por exemplo, tem
várias produções onde isso aconteceu. Uma das últimas foi ‘Suburbia’, onde duas
das protagonistas foram selecionadas na comunidade. É um misto de reality show
e ficção. O próprio filme que eu participei, Circular, aderiu a esse movimento.
Não foi o meu caso, que me diferencio muito do papel que desempenhei para esse
filme, mas houveram casos de pessoas que vivem ou viveram ali uma realidade bem
próxima a de seus personagens e também de pessoas sem experiência prévia em
atuação.
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não creio que
exista uma receita. Nem acho que posso dizer que venci. Eu tenho alguma
experiência. Participei de alguns curtas, alguns médias-metragens e um longa
metragem, mas ainda tenho muita estrada pela frente até poder dizer que venci e
prosperei com o audiovisual. Acho que contatos e dedicação são dois guias muito
importantes. Pro ator e para atriz é importante saber se soltar, conseguir se
liberar de amarras e mergulhar no projeto. Essa é uma postura que exige coragem
e pode ser um caminho com passagem só de ida, pois cada personagem abre um
horizonte de possibilidades e as vezes trocamos a casca. Nem sempre, mas a
vezes sim.
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
No futuro quem sabe. Tenho alguns projetos germinando. Venho
escrevendo algumas coisas novas e já tenho outras na gaveta.