Atriz. Mestre e doutoranda em
artes cênicas pela ECA-USP. Desde 2007, integra o Centro de Pesquisa para
Atores (CEPECA), sediado na USP, e leciona interpretação para iniciantes em
cursos profissionalizantes.
O que te faz aceitar participar de produções em
curta-metragem?
No
projeto que estou fazendo parte agora (ap. 43), que é um grupo de pesquisa
coordenado pela preparadora de elenco Nara Sakarê, de onde sairão vários
curtas, o que me atraiu foi o fato de criarmos os personagens a partir de
estímulos próprios sem ter um roteiro já definido. Os roteiristas e os
diretores foram chegando quando já tínhamos os personagens amadurecidos. É o
que Stanislavksi sempre mencionava em suas pesquisas: a importância do trabalho
do ato-criador, cujo material de criação mais precioso é o que ele encontra
dentro dele mesmo.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em
produções em curta-metragem.
Eu que
venho do teatro foi extremamente prazeroso por um lado e difícil por outro.
Prazeroso pela forma como o processo está sendo conduzido e pelo
profissionalismo das pessoas envolvidas. Mas difícil porque venho das artes
cênicas, onde a expressividade do ator tem um outra qualidade por estar em um
palco onde o corpo todo é visto e muitas vezes o público está longe dos atores.
No cinema existe uma câmera passeando pela cena e o microfone captando o som.
Além disso, poder criar livremente para, em um momento futuro fazer um curta, é
muito bom porque você pode organizar a sua criação em um pequeno roteiro e
levar isso para a tela com o suporte de pessoas muito capacitadas.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de
jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito
que não tem espaço por causa das prioridades dos veículos de comunicação. Tanto
no teatro como no cinema, a concorrência para conseguir um espaço na mídia é
cada vez maior e mais cara. Então, as grandes produções acabam ocupando a maior
parte do espaço dos jornais e revistas. A internet tem sido uma grande aliada
nesse aspecto porque atinge muitas pessoas e o acesso é mais fácil.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas
para atingir mais público?
Não sei
dizer ao certo, mas talvez organizar mais mostras de curtas a preços populares.
Uma coisa que tenho visto de interessante é que alguns canais a cabo estão
reservando espaços na sua programação pra exibição de curtas brasileiros. Acho
que esta estratégia ajuda a atingir mais público porque pessoas que nunca viram
um curta, passam a ter contato.
O curta-metragem para um profissional (seja ele da
atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sim, com certeza. Conheço muitos profissionais
das três áreas citadas que usam o
curta-metragem para desenvolver pesquisas e experimentar procedimentos e ideias
novas. Esse grupo do qual faço parte (AP 43) é um exemplo de lugar para
experimentações tanto para os atores, como para os diretores e roteiristas, que
resultarão em curtas e quem sabe um longa.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um
longa?
Penso que
pode ser um trampolim sim. Primeiro porque você pode se exercitar em uma obra
mais curta, tendo assim tempo pra aprofundar o trabalho. Segundo porque fazer
um curta é mais barato, portanto, mais factível a princípio. Então, não deixa
de ser uma fonte de divulgação do trabalho de todos os envolvidos, desde a
atuação até a direção. Além disso, o
ator no Brasil não tem muito espaço pra
praticar atuação para cinema. Não tem cursos específicos pra isso e não tem uma
grande quantidade de produções sendo feitas, então, o ator vai ficando sem prática. Nesse aspecto
a participação em curtas pode também ser muito útil.
Qual é a receita para vencer no audiovisual
brasileiro?
Não acho
que exista uma receita, mas um bom projeto tem que ter um bom roteiro e pessoas
envolvidas com know-how pra colocar em prática o que consta na teoria.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não penso nisso porque o meu foco é a atuação.
Gosto de ser atriz.