Maria
Della Costa & Odela Lara
Muito já
se falou sobre a morte e mesmo assim preferimos não tocar no assunto.
Compreensível! Na cultura ocidental, a morte traz dor demais. Também muito já
se falou sobre isso... Mas, se estamos vivos, não adianta, não temos como
ignorar o assunto.
A saudade
é uma das consequências direta da partida. Quem fica carrega consigo as
lembranças daquele que se foi. E quem partiu ficará sempre vivo, enquanto o
vivo estiver presente com as suas lembranças.
Recentemente
morreram duas atrizes ícones: Maria Della Costa e Odete Lara. Maria Della Costa
partiu primeiro, no dia 24 de janeiro, aos 89 anos. Já Odela Lara faleceu no
dia 4 de fevereiro, aos 85 anos.
O teatro
brasileiro não seria o mesmo sem Maria Della Costa, que ao lado de Sandro
Polloni, seu segundo marido, fundou o Teatro Popular de Arte, em 1948, que mais
tarde daria origem à companhia Maria Della Costa. Em 1954, inauguraram o
teatro, que levaria o nome da atriz, na capita paulista.
Neste
espaço a companhia montou clássicos de Brechet, Feydeau, Tennessee Williams,
Sartre, Nelson Rodrigues, Arthur Miller e muitos outros, alguns destes
dramaturgos eram até então inéditos no país.
Odete
Lara fez mais de 40 filmes, lançou discos - um deles ao lado de Vinicius de
Moraes - e atuou em peças teatrais, entre outras coisas. Musa do Cinema Novo e
da Bossa Nova, trabalhou em filmes importantes como "Bonitinha, mas
ordinária", "Boca de ouro", "Vai trabalhar,
vagabundo", e "O dragão da maldade contra o santo guerreiro".
Infelizmente,
não conheci pessoalmente nenhuma das duas, mas guardo histórias que denunciam o
carinho e a admiração que sinto por elas.
Em 2004 e
2005, fazia uma peça com Perry Salles e ele sempre, ao final da sessão, na hora
dos agradecimentos, saudava sua ex-mulher e estrela do espetáculo, Vera Fisher,
com "bravo, bravíssimo" e palmas entusiasmadas.
Muitas
vezes estranhava tanto calor neste momento vindo da própria equipe. Não que
Vera não merecesse atos entusiasmados, claro que sim, mas para mim o natural
era que esta expressão partisse do público.
Mas
Perry, que trabalhou na companhia de Maria Della Costa, contou que Sandro
Polloni, seu marido e parceiro profissional, ao final de todas as
apresentações, do fundo do teatro, no escuro ainda, saudava a estrela da
companhia com "bravo, bravíssimo, Maria" e a plateia assim era
contagiada, estendendo o tempo e a intensidade das palmas.
Perry
aprendeu com Sandro que produtor não para de trabalhar nunca, nem na hora dos
agradecimentos ele descansa, e que por trás de uma estrela tem sempre um
produtor.
Já em
2011, no ateliê de Daniel Senise, eu ensaiava o espetáculo "Mão na
luva" e estudava tudo que estava ao meu alcance sobre o autor da obra, o
dramaturgo Oduvaldo
Viana Filho, o Vianinha. Nestas minhas pesquisas, soube que a linda peça, nunca
encenada com ele em vida, havia sido escrita sob forte influência da história
de amor vivida por ele e por Odete Lara. Quem conhece o texto consegue mensurar
a enorme paixão que viveram.
Por conta
disso tentei contato com ela, mas, por circunstâncias do destino, não consegui.
No auge do sucesso, ela se converteu ao budismo e passou a ter uma vida
reclusa.
Enquanto
eu viver, vou carregar comigo estas lembranças que não estão nos livros e nem
nos documentos. E assim é a vida... Quem parte fica vivo na memória de quem
fica, independentemente dos registros oficiais.
Marta Paret, é
atriz.