Crítica
de cinema, editou a revista eletrônica Contracampo de 2007 a 2011 e colabora
com o jornal O Globo.
Qual
é a importância histórica do curta na filmografia nacional?
Excetuando-se as
primeiras décadas de produção cinematográfica, em que o curta era basicamente a
norma, podemos dizer que, como em todas as filmografias sem uma indústria
consolidada, a filmografia brasileira tem no formato do curta-metragem um
aliado para o florescimento de talentos. É na realização de pequenos filmes (de
custos e peso de produção enormemente reduzidos em relação ao longa), que
pode-se iniciar uma carreira e ganhar a visibilidade necessária para seguir
adiante. E digamos que a lei da obrigatoriedade de exibição de um
curta-metragem antes das sessões comerciais de longa-metragem constituía uma
preocupação com essa produção, visando a estimulá-la. Ainda que os bons termos
do programa não tenham sido mantidos por muito tempo, ele contribuiu em um
determinado momento à visibilidade (e, portanto, produção) do formato.
Por
que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em
geral?
O curta-metragem não sendo
historicamente um formato explorável comercialmente, ele não é contemplado por
estratégias de divulgação em geral – uma das razões profundas da atenção
midiática às obras. Quando exibidos – no quadro de um festival, por exemplo – o
próprio modelo de exibição consagrado do curta (uma sessão com vários curtas)
dificulta seu reconhecimento como obra única, merecedora de atenção particular.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acredito que dentro do quadro atual,
fora o espaço dos festivais, a única forma de dar maior visibilidade a um curta
é investindo em formatos de exibição alternativos, como sessões em centros
culturais com debates, ou difusão pela internet, ou ainda exibições em eventos
culturais multidisciplinares.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou
produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Se o profissional assim o desejar,
acredito que o curta possa cumprir esse papel melhor do que um longa, que
acarreta mais compromissos. Mas a julgar pelos principais programas de financiamento
brasileiros, o projeto de um curta ou de um longa parecer encontrar as mesmas
barreiras – embora em termos de difusão posterior, certamente um curta mais
ousado tem mais chances de ser prestigiado do que um longa de mesma ambição,
que dificilmente encontraria seu espaço nas salas comerciais.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Embora na prática ele tenda a ser –
pelos motivos citados de custo e peso de produção inferiores –, no fundo
trata-se de dois formatos distintos, cada qual com as suas especificidades.
Quando os dois formatos se embaralham no nível da concepção do filme, este
tende a não “funcionar” de saída. Ainda assim, podemos dizer que para quem
deseja realizar unicamente longas-metragens, o curta constitui um bom exercício
da prática cinematográfica.
Qual
é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Acredito que não haja uma “receita”,
embora a formação de “comunidades de afinidades” pareça ter um papel
preponderante para firmar-se no cenário existente.
Pensa
em dirigir um curta futuramente?
Dirigi um curta de fim de curso na
UFF, chamado adrift (2008). Gostaria
de realizar outros filmes, mas considero o formato do curta bastante difícil,
pois tendo a pensar em imagens e histórias com tempos alongados.