Cineasta, produtora e roteirista. É dela
a produtora D& Sganzerla Produções.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Meu amor
pelo cinema e minha grande vontade de contar histórias, a qual eu carrego desde
criança. Eu participei de cineclubes na cidade onde eu morava, e quando fui
morar no Rio de Janeiro iniciei a faculdade de cinema, o que fez com que eu
conhecesse pessoas com objetivos em comum, e assim comecei as experiências em
dirigir curtas-metragens.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
A
experiência que adquiri nos curtas-metragens foi extremamente rica, porque o
papel de um diretor de um curta é muito maior do que simplesmente dirigir a
história, de passar o seu olhar para o espectador, é também dirigir uma grande
equipe, no meu terceiro curta-metragem eu precisei dirigir 35 pessoas, é
praticamente a equipe de um longa-metragem. Você aprende a se controlar e a
motivar as pessoas para que elas também façam um bom trabalho, porque por mais
que o roteiro seja seu, todos os envolvidos precisam estar querendo contar
aquela história tão bem quanto você, e graças a Deus eu tive uma equipe
dedicada em todos os curtas que realizei. E quando você vê a história que anteriormente
estava só em sua cabeça, realizada, isso não tem preço, é uma sensação de dever
cumprido.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
É difícil
explicar porque os curtas não possuem o espaço que merecem. Acho que é uma
questão cultural, educacional, nós aprendemos a gostar de cinema indo ver
filmes de 90 minutos no cinema, mais tardiamente na TV, apesar de os curtas
existirem desde os primórdios do cinema. A sociedade se acostumou ver histórias
grandiosas e muito bem produzidas. Nós fizemos histórias curtas e de baixo
orçamento, é difícil conseguir uma qualidade que agrade os olhos do espectador
acostumado a grandes produções, quer dizer se as pessoas não dão audiência para
estas histórias a mídia também não vai propagar as mesmas. Eu sou gaúcha, no
RS, a TV local promove um edital de curtas-metragens que passam no horário de
almoço nos sábados, as pessoas estão criando o hábito de ver essas histórias, e
assim educando com paciência, acredito que poderemos mudar esse quadro para as
futuras gerações.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A ‘Lei do
Curta’ deveria retornar, assim eles seriam exibidos antes das sessões de
cinema, outra forma é colocá-los nas TVs abertas e acostumar o público a ver
essas histórias. Assim, poderíamos criar uma nova visão sobre o cinema. A
internet também cumpre um grande papel em divulgar essas histórias, mas mesmo
assim, acredito que a TV aberta seria o melhor caminho para chegar ao público
em massa.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sem
dúvida, com o curta aprendemos a dirigir, a produzir e atuar, enfim, aprendemos
como devemos contar uma história, e quando partimos para um longa, estamos com
certeza mais preparados para os obstáculos que irão surgir pelo caminho.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
É o
caminho para que você possa mostrar o seu trabalho, a sua identidade, sendo
assim, ele com certeza alavanca a possibilidade de realizar um longa.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Infelizmente,
não há receita, não há manual. Vencer no cinema no Brasil é um desafio diário,
porque somos um país onde o cinema é controlado por órgãos governamentais, onde
dependemos também de empresas que queiram investir em uma história, e a maioria
dessas empresas não entende sobre contar histórias, entende do mundo real,
trabalham no mundo real, nós trabalhamos com o mundo dos sonhos e precisamos
interagir com este mundo real, que nos faz depender de empresários e leis que a
cada dia dificultam ainda mais a realização dessas produções. Os “bem sucedidos”
de verdade são no máximo dez produtoras em meio há milhares de outras que estão
nas nossas cidades, que sonham e tentam todos os dias preparar um projeto que
encante essas pessoas que vivem no mundo empresarial. Não tivemos a educação e
a luta que, por exemplo, os Estados Unidos tiveram no início da história do
cinema, hoje eles são uma grande indústria dependendo das próprias produções
porque tiveram uma história longa pensada para ser indústria, outras pessoas do
inicio do século XX lutaram para que eles tivessem essa realidade agora. Nós
não tivemos essa realidade, e ser um país de terceiro mundo influencia e muito
nesta questão, visto que o dinheiro comanda também esse mundo dos sonhos que
tentamos com muita luta realizar. Mas, se formos analisar a história, os
Estados Unidos souberam utilizar a força do cinema para se tornar a potência
que são hoje. Eu só acho que os brasileiros, incluindo governo e povo, não
perceberam ainda a força que esse meio de comunicação possui e que com ele
poderíamos ajudar nosso país a talvez chegar um dia ser considerado primeiro
mundo, nas artes, educação e saúde. Como falei, não há receita, há uma luta
diária para poder mudar essa nossa realidade.
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
Penso em
dirigir mais um curta do gênero terror, mas sem previsão de data. Estou
envolvida em projetos para TV, visto que é a nova realidade do mercado por
causa da lei que começou a vigorar.