domingo, 15 de fevereiro de 2015

Roberto Santucci Filho


Cineasta. É dele “Até que a Sorte nos Separe”, “De Pernas Pro Ar”, “Odeio o Dia dos Namorados”, “O Candidato Honesto”, entre outros sucessos.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Atualmente não sou mais convidado, mas poderia participar se a história for boa. Afinal é isso que conta. Uma boa história para ser contada na tela grande.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Trabalhei em duas. Uma na faculdade e outra num curta independente meu. Sempre foram muito apertados de verba, beirando quase nenhum orçamento com estruturas muito limitadas. O curta da faculdade foi melhor. Se chamava “Helpless”, vou colocar no meu canal do Youtube! futuramente. E o outro foi o “Bienvenido a Brazil”. Esse passou muito no Multishow. Sátira do americano que acha que a capital do Brasil é Buenos Aires.

Minha experiência foi aquela de ter que improvisar muito e se virar com quase nada. Tanto que muitas pessoas envolvidas não acreditavam num bom resultado para os filmes. Na filmagem tive equipe de tamanho razoável na faculdade e equipe mínima na minha produção particular. Na pós-produção eu fazia quase tudo em casa. Comecei muito cedo a editar eletronicamente, embora tenha trabalhado em grandes filmes como assistente de montagem e nesses casos trabalhei intensamente com filme de maneira tradicional. Atualmente com os computadores e máquinas fotográficas se pode fazer coisas incríveis.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por que ninguém conseguiu achar um canal com uma boa visibilidade. A internet deveria ajudar isso. Todavia não basta ter um espaço, uma vez que vários canis de TV já exibiram programas de curtas. É preciso fazer barulho, saber divulgar e saber apresentar os curtas. Como eles são muitos variados, é necessário ter um excelente programador. Alguém que chame o público. Nos anos 70 tevê a lei da obrigatoriedade nas salas de cinema. Foi péssimo pois queimou a imagem dos curtas para aquela geração. Agora é necessário abrir esse espaço através de curtas que ajudem as pessoas a se interessar novamente. Tarefa difícil, não adianta obrigar as pessoas a verem, tem que saber achar o público certo para o filme.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Como eu já falei, tem que ser num programa bem bacana, apresentado num espaço nobre por alguém que dê credibilidade. Tipo atores, cineastas, gente com reconhecimento junto ao público. Nesse programa se falaria de curtas que não passariam nesse horário nobre mas passaria num outro horário para quem curte filmes mais difíceis. Ou se mesclaria os filmes difíceis com os mais fáceis para segurar o telespectador. Recursos que a TV faz o tempo todo com seus programas.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Com certeza, mas isso pode ser uma faca de dois gumes. Fui a vários festivais e vi curtas experimentais demais. Acho perigoso, pois por um lado, fazer um curta pode ser muito trabalhoso e dispendioso. Vi jovens cineastas investirem muito num trabalho de fim de curso e experimentarem tanto que só os instrutores curtiam o trabalho. Os curtas que podem servir para abrir a carreira de um cineasta, nesse caso, não ajudam pois o mercado de trabalho não é fácil para experimentalismo em excesso.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Pode ser. Já aconteceu várias vezes, e se se pensar dessa maneira pode ser muito bom para os realizadores. Eu aconselharia essa tentativa para um segundo ou terceiro curta-metragem.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Entreter. Essa é do meu ponto de vista a verdadeira natureza das artes. Vejo muito preconceito com este conceito, mas acredito plenamente nele. Todos os filmes que amamos nos fisgaram e nos mantiveram entretidos durante a projeção. É uma sensação maravilhosa esquecer do mundo e viajar numa história contada na tela grande.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Se a história for boa, com certeza. E existem histórias que são perfeitas para isso. Com os novos dispositivos móveis, as pessoas vão querer entretenimento com durações menores.