sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Bruno Autran


Ator e cineasta. Inicia seus estudos na Oficina de Teatro da PUC-MG. Ao transferir-se para o Rio de Janeiro, cursa Interpretação para TV e Comédia, ambas com Cecil Thiré, e Interpretação para Cinema, com Fábio Barreto, na Casa de Artes de Laranjeiras (CAL), entre 2005 e 2009, e Oficina de Atores da Rede Globo. Dirigiu o curta-metragem “Pedaços”.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Primeiramente preciso me interessar pelo roteiro, não especificamente pela história, mas por algo que me motive como artista. Se penso exclusivamente como ator, a possibilidade de interpretar um personagem rico em camadas é o que me instiga. Já representando o meu lado roteirista, me preocupo com a história, com suas possibilidades e reviravoltas. Por outro lado, pensando com uma cabeça de diretor, gosto de conversar com a equipe para saber o tipo de linguagem que os mesmos utilizarão, caso mexa comigo, sou o primeiro a topar a empreitada e até ajudar a produzi-la. Já emprestei equipamento em alguns curtas.  Como disse, algo no curta-metragem precisa me motivar, não é muito difícil, porque eu sempre estou disposto a fazer.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Adoro respirar o universo do curta-metragem. Pela experiência que tenho (gostaria de ter muito mais e assim espero), percebi que o curta-metragem envolve pessoas que querem estar ali, não pelo dinheiro, porque na maioria das vezes ele não existe, mas sim pela vontade de fazer parte daquela história, de se aperfeiçoar, de aprender, de realizar. O curta depende disso, de cada pessoa que está ali pra colaborar com o seu trabalho. Ele é a soma de todo esse esforço. O curta é coletivo, o cinema é coletivo. E isso é o que mais me chama atenção. Não gosto de assistir a um filme e ver nos créditos: um filme de “fulano de tal”. Acho egoísta e injusto. O filme não é de um só.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que seja um questão cultural. O jornais (a maioria deles) são veículos de comunicação em massa e infelizmente a grande maioria dos brasileiros nem sabe o que é um curta-metragem. Pode parecer mentira, mas é a grande verdade. Outro dia mesmo, estava no carro com um amigo (médico), pedi ajuda porque queria fazer um curta-metragem numa clínica e queria saber de alguns detalhes técnicos. O rapaz ligou pro amigo (anestesista) e teve que explicar o que era um curta-metragem antes de pedir as informações, porque o sujeito não sabia. O brasileiro sabe o que é novela, ou um filme que passa no cinema ou na Tela Quente (TV Globo), porque ele foi condicionado a saber. É a nossa cultura. Mas as coisas estão mudando, cada vez mais há uma necessidade de conteúdos de curta duração, que sejam mais rápidos. A internet vem incutindo uma necessidade de dispersão cada vez maior em seus usuários, diante de um computador, Iphone ou Ipad cada vez é menor a probabilidade de se gastar mais de uma hora com o mesmo conteúdo. E nessa onda, os jornais também tendem a se adequar, cada vez mais temos fontes de informação e notícias alternativas e mais específicas. Blogs, redes sociais, as críticas e opiniões virão dali. Já estão vindo.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Bom, temos muitos festivais no Brasil, o que é um ponto positivo. Mas ainda acredito que o curta precisa virar uma questão cultural. Os brasileiros precisam se acostumar a assistir aos curtas. Talvez antes de uma sessão de cinema, exibirmos pelo menos um curta ao invés das dezenas de trailers de outros filmes. Já vejo canais da TV paga com esse tipo de conteúdo. Se os festivais não exigissem première, poderíamos criar canais na internet específicos pra esse tipo de mídia. Dessa maneira e de outras várias educamos e acostumamos o brasileiro com esse formato.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Depende do profissional e da possibilidade de experimentação. Ele pode ser como também não pode ser. Às vezes tende a ser mais por uma questão autoral e financeira, o curta geralmente não tem que se justificar pra produtoras, empresários e distribuidoras, e dessa maneira adquire uma certa liberdade. Cabe a equipe usa-la da melhor maneira. Arte é liberdade e o que se faz com ela.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Talvez sim. Talvez não. Não acredito que seja um trampolim, mas um dos caminhos. O curta é um lugar de muito aprendizado, de conhecimento, de vivência. Mas da mesma forma que um longa-metragem conta uma história o curta também conta. No fundo a premissa é a mesma.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não sei, se eu vencer eu te conto.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dirigi um curta, plano sequência, lindo. Ficou incrível. Aliás gostaria de agradecer a toda a equipe que topou essa empreitada e a todos os amigos que doaram na vaquinha (fizemos uma vaquinha pra realizar esse curta, na verdade já é o segundo que realizamos dessa maneira), o primeiro foi finalizado e começou sua carreira nos festivais. Pra quem é de São Paulo, o curta chama-se “Pedaços” e foi exibido no Festival Internacional de Curtas Kinoforum de São Paulo. Ah! Planejo dirigir mais curtas esse ano. Quem quiser ajudar será bem vindo.