quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Thelma Guedes


Autora de telenovelas formada em Letras e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP). Roteirista da TV Globo desde 1997, escreveu para diversos programas e séries, entre eles o “Sítio do Picapau Amarelo”. Em 2009 foi ao ar a primeira novela de Thelma Guedes com roteiro original, em parceria com Duca Rachid, pela Rede Globo, “Cama de Gato”. É dela também “Cordel Encantado” e “Joia Rara”.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Sou autora de televisão. A minha única experiência com cinema, que foi com um curta-metragem, foi um roteiro adaptado de um conto meu "O Retrato da Felicidade", feito há muitos anos. Acabei participando da direção e montagem também. Aceitei fazer este curta, porque adoro curtas! Acho que obras curtas, como poema, conto e curta-metragem, são oportunidades raras de dizer muito com pouco, em pouco espaço, em pouco tempo. Algumas obras muito especiais da literatura e do cinema podem vir dessas realizações mais breves.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Em "O Retrato da Felicidade" fiz um roteiro que era quase o texto do conto dito sobre imagens. Havia poucas falas. E foi muito difícil pra mim transformar um conto tão subjetivo, em que havia a viagem psicológica dentro da mente de um louco, para algo audiovisual. A experiência foi rica, embora muito difícil também em relação à feitura da coisa. Cinema é caro. E na época (faz alguns bons anos) eu e meu parceiro, na verdade, quem produziu e lutou pelo filme, o ator Wagner Molina, não conseguiu apoio, nem patrocínio. Foi bem duro fazer. Contamos com a ajuda dos amigos, que se juntaram e, sem cobrar um vintém, fizeram a coisa acontecer: Rodrigo Castelhano, Dora Castellar e a atriz Ana Lúcia Torre.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Boa pergunta. Não entendo por que curta-metragem é tão desprestigiado no circuito comercial. Ele só vive de festivais, não é? Acho um espaço super importante para roteiristas, cineastas, diretores de arte, figurinistas, diretores de fotografia, técnicos. Espaço de liberdade, experimentação, ensaio, aprendizado, formação! Uma pena mesmo... Mas acho que os criadores têm que tentar mudar isso...

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que poderia ser como foi no passado: abrindo os filmes de longa. Eu adorava ir ao cinema e ver os curtas antes. Tive gratas surpresas. E todo mundo adorava...

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sim, já disse isso na resposta anterior. E reforço: é um espaço fundamental para que nosso cinema cresça e apareça! Precisamos de campos de formação e experimentação para jovens profissionais!!!

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acredito que sim. Grande parte dos cineastas de longa passaram pelo curta. Mais do que um trampolim, acho que é uma rede de segurança pro profissional chegar no longa com mais autoconfiança, com ferramentas e fundamentos sedimentados da sua profissão. É como o piloto de avião que precisa, antes de pilotar um avião de verdade, pilotar num simulador.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não tem receita. Cada profissional faz o seu caminho. O meu caminho eu sempre apontei para a literatura. O audiovisual na televisão surgiu como uma forma de eu expressar aquilo que expresso literariamente. Ainda não consegui chegar ao cinema. Mas quero muito. É um sonho que ainda gostaria de realizar. Quem sabe eu consigo? A vida do caminhante é caminhar. Talvez a receita seja esta: não parar nunca... Como o cineasta português Manoel Oliveira, que tem mais de cem anos e ainda está cheio de projetos!

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Olha: eu sempre penso na escrita, no roteiro, mas você está me dando uma linda ideia. Macaquinho no sótão da minha cabeça começam a pular... (risos).