Autora de telenovelas formada
em Letras e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP).
Roteirista
da TV Globo desde 1997, escreveu para diversos programas
e séries, entre eles o “Sítio do
Picapau Amarelo”. Em 2009 foi ao ar a primeira novela de Thelma Guedes com roteiro
original, em parceria com Duca Rachid, pela Rede Globo, “Cama de Gato”. É dela também “Cordel
Encantado” e “Joia Rara”.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Sou autora de televisão. A minha única experiência com cinema, que foi com um
curta-metragem, foi um roteiro adaptado de um conto meu "O Retrato da
Felicidade", feito há muitos anos. Acabei participando da direção e
montagem também. Aceitei fazer este curta, porque adoro curtas! Acho que obras
curtas, como poema, conto e curta-metragem, são oportunidades raras de dizer
muito com pouco, em pouco espaço, em pouco tempo. Algumas obras muito especiais
da literatura e do cinema podem vir dessas realizações mais breves.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Em
"O Retrato da Felicidade" fiz um roteiro que era quase o texto do
conto dito sobre imagens. Havia poucas falas. E foi muito difícil pra mim
transformar um conto tão subjetivo, em que havia a viagem psicológica dentro da
mente de um louco, para algo audiovisual. A experiência foi rica, embora muito
difícil também em relação à feitura da coisa. Cinema é caro. E na época (faz
alguns bons anos) eu e meu parceiro, na verdade, quem produziu e lutou pelo
filme, o ator Wagner Molina, não conseguiu apoio, nem patrocínio. Foi bem duro
fazer. Contamos com a ajuda dos amigos, que se juntaram e, sem cobrar um
vintém, fizeram a coisa acontecer: Rodrigo Castelhano, Dora Castellar e a atriz
Ana Lúcia Torre.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Boa
pergunta. Não entendo por que curta-metragem é tão desprestigiado no circuito
comercial. Ele só vive de festivais, não é? Acho um espaço super importante
para roteiristas, cineastas, diretores de arte, figurinistas, diretores de
fotografia, técnicos. Espaço de liberdade, experimentação, ensaio, aprendizado,
formação! Uma pena mesmo... Mas acho que os criadores têm que tentar mudar
isso...
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que
poderia ser como foi no passado: abrindo os filmes de longa. Eu adorava ir ao
cinema e ver os curtas antes. Tive gratas surpresas. E todo mundo adorava...
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sim, já
disse isso na resposta anterior. E reforço: é um espaço fundamental para que
nosso cinema cresça e apareça! Precisamos de campos de formação e
experimentação para jovens profissionais!!!
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acredito
que sim. Grande parte dos cineastas de longa passaram pelo curta. Mais do que
um trampolim, acho que é uma rede de segurança pro profissional chegar no longa
com mais autoconfiança, com ferramentas e fundamentos sedimentados da sua
profissão. É como o piloto de avião que precisa, antes de pilotar um avião de
verdade, pilotar num simulador.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não tem
receita. Cada profissional faz o seu caminho. O meu caminho eu sempre apontei
para a literatura. O audiovisual na televisão surgiu como uma forma de eu
expressar aquilo que expresso literariamente. Ainda não consegui chegar ao
cinema. Mas quero muito. É um sonho que ainda gostaria de realizar. Quem sabe
eu consigo? A vida do caminhante é caminhar. Talvez a receita seja esta: não
parar nunca... Como o cineasta português Manoel Oliveira, que tem mais de cem
anos e ainda está cheio de projetos!
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
Olha: eu sempre penso na escrita,
no roteiro, mas você está me dando uma linda ideia. Macaquinho no sótão da
minha cabeça começam a pular... (risos).