Ator, iluminador e diretor.
Atuou no espetáculo teatral “A Comédia dos Erros”, de William Shakespeare,
direção de Carlo Milani e Jairo
Mattos.
O que te faz aceitar
participar de produções em curta-metragem?
Cada veículo exige o
ator de uma maneira diferente. É muito bom exercitar o ofício de atuar sob
diferentes condições: o palco, o estúdio, o set e a relação direta com os
espectadores ou mediada pela câmera
te exigem de maneiras diferentes. Mesmo dentro de cada linguagem (no caso o cinema),
o formato também determina essa interação. Então o registro de interpretação
específico para o cinema somada à concisão do formato sempre resulta num
desafio interessante. E é claro que um bom roteiro também é um fator decisivo
para aceitar um convite.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Já
participei de várias, nem sei registrar todas. Desde o tempo em que era eu um
ator iniciante (fim dos anos 70 , início dos 80) até os dias atuais(vou citar
“A Revolta dos Carnudos”, da Eliana Fonseca e “De Castigo”, da Helena
Ungaretti). Acredito que posso dar um testemunho interessante, tanto no que diz
respeito à evolução tecnológica quanto ao que observo na própria postura dos
profissionais e estudantes envolvidos com o formato. Talvez seja uma visão um
pouco romântica, mas quando filmávamos em película, com baixo orçamento, a
“margem de erro” era muito crítica. Isso levava a uma relação mais artesanal,
demandava mais ensaio e concentração por parte da equipe e do elenco. Em
contrapartida, os recursos que o acesso á tecnologia de ponta trouxe para as
produções de hoje melhoraram bastante a qualidade técnica das produções.
Por
que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em
geral?
Acredito
que o espaço, que já era pouco, diminuiu mais ainda em função das condições que
mencionei anteriormente. O aumento exponencial da quantidade de curtas
possibilitado pelo acesso facilitado à “tecnologia do fazer”, e a escassez de
circuitos e festivais dedicados ao formato são fatores que concorrem para esta
realidade.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Lembro
de um tempo em que sempre antes de um longa metragem havia a projeção de um
curta...Demandaria um esforço de programação, na medida em que seria
interessante a relação entre a “preliminar” e o “principal”. Mas aí qualquer
resolução por decreto também não é boa... Gosto também de programações
especiais, no MIS ou na Cinemateca dedicadas ao formato e até eventuais e raras
incursões deste tipo da TV
a cabo (saudades do “Zoom”, da TV
Cultura). Impossível deixar de mencionar o canal Curta!, que entrou
recentemente no ar.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou
produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Eventualmente,
sim. Se o compromisso é com a tua ideia
e o público que quer atingir, e não o mercado , então essa premissa é
verdadeira. Muitas ideias
consideradas “experimentais” no campo criativo e/ou tecnológico foram testadas
em curtas metragens antes de serem absorvidas pelo cinema “convencional”.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Aqui
explico as “aspas” da resposta anterior. É verdade que você pode testar uma ideia,
conceito ou roteiro num curta como teste para viabilizar um longa. Mas gosto
muito mais de pensar que cada formato tem os seus códigos e inflexões próprios.
Admiro os cineastas que produzem especialmente para o formato, e nem por isso
deixam de construir uma obra consistente.
Pensa
em dirigir um curta futuramente?
Olha,
a minha praia mesmo é o
teatro. Partilhamos de alguns conceitos fundamentais nos processos de criação e
produção, mas também nestes aspectos há diferenças brutais de concepção, de
acordo com cada linguagem. Quero mesmo um dia fazer isto (dirigir Cinema), mas
por enquanto ainda me sinto desautorizado. Preciso acompanhar a produção de
alguns curtas do lado de lá da câmera para entender melhor como isso acontece,
uma vez que a minha experiência no formato se resume à atuação. Gostaria de
começar pela tentativa de desenvolver um roteiro, ou fazer a preparação dos
atores... (alguém aí me convida?).