Crítico de cinema da Revista "Veja SP". Edita o blog "Tudo sobre Cinema": http://vejasp.abril.com.br/blogs/miguel-barbieri/
Qual é a importância histórica do
curta-metragem na filmografia nacional?
Acho importante historicamente porque muitos cineastas famosos começaram
pelo curta-metragem: de Glauber Rocha a Jorge Furtado, Beto Brant, etc. E, até
nestes pequenos filmes, eles já provavam que tinham um grande potencial pela
frente. “Ilha das Flores”, do Furtado, é uma obra-prima.
Por que os curtas não têm espaço em críticas
de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que,
justamente, pela curta duração dele. Quem vai querer sair de casa, enfrentar
trânsito, pagar estacionamento (ou transporte público) e entrar no cinema para
ver 10/15 minutos de filme? Por outro lado, quando os curtas estão reunidos,
tipo Festival de Curtas ou Anima Mundi, eles levam multidões aos cinemas. Por
outro lado, a mídia não dá atenção justamente porque não é foco primordial do
público. No espaço que a mídia tem, ele sempre vai recair sobre os longas-metragens.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição
dos curtas para atingir mais público?
Eu acho que
para uma divulgação maior, um curta deveria ser exibido antes de um longa. Me
lembro que muuuuitos anos atrás, isso acontecia. Mas não sei se o público iria
gostar dessa ideia. Antes de ver o longa, ele “engole” propagandas e trailers.
Imagina se pega um curta ruim (o que não é difícil) pela frente?
O curta-metragem para um profissional (seja
ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Acho que
num curta, o diretor ou produtor tem, sim, uma liberdade maior porque não há a
obrigação de agradar ninguém nem de ter um retorno financeiro em troca. Em
geral, os curtas-metragens vão para festivais e, se ganhar prêmios, melhor.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um
longa?
Sim. É uma plataforma de experiência. Acredito que 100% dos
curtas-metragistas têm vontade de dirigir um longa (só não se se eles
conseguem).
Qual é a receita para vencer no audiovisual
brasileiro?
Fazer algo
popular, mas de qualidade. Já ficou provado que, agora, o povo gosta é de
comédia. Então, as produtoras estão se armando para produzir vários filmes do
gênero. Nesta barca, entram comédias populares boas (como “Vai que Dá Certo”) e
ruins (como “Os Penetras”). Acho que para dar certo, o cinema precisa atender
às necessidades do mercado, mas sem esquecer da qualidade artística (bons
roteiros, atuações, técnica etc.).
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dizem que todo crítico é um cineasta frustrado (risos). Não concordo
inteiramente com a frase, mas acredito que muitos críticos gostariam, ao menos,
de provar o outro lado. É sempre fascinante ver cinema (nas filmagens e quando
pronto). E, claro, como todo crítico, tenho sim vontade de fazer um filme, sobretudo
um documentário – acho o nível dos documentários nacionais muito baixo.