quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Miguel Barbieri Jr.


Crítico de cinema da Revista "Veja SP". Edita o blog "Tudo sobre Cinema": http://vejasp.abril.com.br/blogs/miguel-barbieri/

Qual é a importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Acho importante historicamente porque muitos cineastas famosos começaram pelo curta-metragem: de Glauber Rocha a Jorge Furtado, Beto Brant, etc. E, até nestes pequenos filmes, eles já provavam que tinham um grande potencial pela frente. “Ilha das Flores”, do Furtado, é uma obra-prima.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que, justamente, pela curta duração dele. Quem vai querer sair de casa, enfrentar trânsito, pagar estacionamento (ou transporte público) e entrar no cinema para ver 10/15 minutos de filme? Por outro lado, quando os curtas estão reunidos, tipo Festival de Curtas ou Anima Mundi, eles levam multidões aos cinemas. Por outro lado, a mídia não dá atenção justamente porque não é foco primordial do público. No espaço que a mídia tem, ele sempre vai recair sobre os longas-metragens.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Eu acho que para uma divulgação maior, um curta deveria ser exibido antes de um longa. Me lembro que muuuuitos anos atrás, isso acontecia. Mas não sei se o público iria gostar dessa ideia. Antes de ver o longa, ele “engole” propagandas e trailers. Imagina se pega um curta ruim (o que não é difícil) pela frente?

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que num curta, o diretor ou produtor tem, sim, uma liberdade maior porque não há a obrigação de agradar ninguém nem de ter um retorno financeiro em troca. Em geral, os curtas-metragens vão para festivais e, se ganhar prêmios, melhor.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Sim. É uma plataforma de experiência. Acredito que 100% dos curtas-metragistas têm vontade de dirigir um longa (só não se se eles conseguem).

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Fazer algo popular, mas de qualidade. Já ficou provado que, agora, o povo gosta é de comédia. Então, as produtoras estão se armando para produzir vários filmes do gênero. Nesta barca, entram comédias populares boas (como “Vai que Dá Certo”) e ruins (como “Os Penetras”). Acho que para dar certo, o cinema precisa atender às necessidades do mercado, mas sem esquecer da qualidade artística (bons roteiros, atuações, técnica etc.).

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dizem que todo crítico é um cineasta frustrado (risos). Não concordo inteiramente com a frase, mas acredito que muitos críticos gostariam, ao menos, de provar o outro lado. É sempre fascinante ver cinema (nas filmagens e quando pronto). E, claro, como todo crítico, tenho sim vontade de fazer um filme, sobretudo um documentário – acho o nível dos documentários nacionais muito baixo.