Ator.
Atuou nos espetáculos teatrais “Billiri e o Pote Vazio”; “Toc Toc”; “Teatrokê”;
“O Ilha do Tesouro”, entre outros.
O
que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Inicialmente,
cabe esclarecer que meu trabalho é muito mais dedicado ao teatro e minhas
participações em vídeo, apesar do meu esforço em buscar intensificá-las,
restringem-se a comerciais, vídeos institucionais e algumas participações em
séries da TV, que, se no rigor da palavra podem ser considerados
curtas-metragens, não creio que sejam o objeto desta conversa.
Entretanto,
penso que a visão de um artista que não esteja profundamente envolvido nas
produções de curtas, também possa servir de parâmetro para aqueles mais
embrenhados nesta arte, colaborando, no mínimo, para a melhor compreensão de
como ela está chegando ao público.
Acho
que os critérios para aceitar a participação na produção de um curta-metragem
devam ser os mesmos usados para qualquer outra participação, seja ela numa peça
de teatro, num longa, numa novela, numa série ou num vídeo de comercial. Esses
critérios podem se dividir basicamente em dois grandes blocos: qualidade
artística e compensação. Claro que são blocos muito extensos e cabe muita coisa
em cada um deles. Mas, dentro de qualidade artística, fundamentalmente eu levo
em conta o quanto o trabalho desafia, emociona, comunica, propõe, inverte,
diverte, inova, renova, critica, estimula, enfim, o quanto de todas as emoções
que sinto fervendo dentro de mim como artista, o trabalho em questão vai ser
capaz de comunicar. E dentro da compensação, está todo o ganho que você pode
ter com o trabalho, incluindo o lado mais pragmático, a capacidade que o
trabalho vai ter de manter financeiramente o seu dia-a-dia, possibilitando que
você sustente inclusive os seus sonhos na realidade da sociedade. Um trabalho
pode ter qualidade artística fantástica, mas se não tiver público, mesmo que
financeiramente você esteja protegido por algum patrocínio, a compensação
emocional poderá não existir, e você poderá desistir do trabalho.
Acredito
que o que difere na avaliação, entre os diversos tipos de proposta de trabalho
que você pode receber, é o peso que você dá (ou pode dar, dependendo da
circunstância que está vivendo) para cada um dos critérios que mencionei. Por
exemplo, quando você aceita fazer um comercial na televisão, o peso da
qualidade artística às vezes pode tender a zero, mas nunca será totalmente
desprezado, porque sempre haverá um pedacinho do seu artista ali na cena. Olhando
para a produção de um curta-metragem, imagino que o fator experimental e
desafiador do trabalho seja o mais decisivo, entretanto os fatores da
compensação sempre estarão presentes, mesmo que em menor peso, seja pelo
retorno financeiro ou pela possibilidade de divulgação de seu trabalho
artístico.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Bem,
como eu disse, não tenho muito que relatar em produções deste tipo. Aliás,
se alguém tiver um projeto interessante e quiser me convidar, estou pronto para
ouvir!
Por
que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em
geral?
Quanto
a isso, acho que a produção de curtas sofre o mesmo problema da produção
teatral, elas não chegam ao grande público, ninguém entende, não dá audiência,
não há interesse. Então, como não há interesse, a mídia publica muito pouco,
então continua não chegando ao grande público, continua ninguém entendendo, não
dando audiência, não gerando interesse. É um círculo vicioso.
E
quando querem que chegue ao grande público, fazem uma pasteurização, uma
homogeneização de forma, conteúdo e conceito, aproximando o novo do conhecido.
Com isso, o interesse maior pelo teatro hoje é a comédia rasgada, o “stand-up”
e o grande musical, preferencialmente com uma grande estrela televisiva, e o
que estiver fora disso vive no sufoco. Enxergo algo similar com a produção de
curta-metragem, acredito que somente as animações e alguns documentários chegam
mais próximos do grande público, os demais correm pelas bordas. Às vezes,
produzimos para nós mesmos aplaudirmos.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho
que existem boas iniciativas por meio de festivais, mas acredito que ainda é muito
pouco. Deveriam existir sessões de cinema exclusivas para curtas-metragens. O
curta-metragem não deveria ser apenas um “petisco” antes da apresentação do
“prato principal” longa-metragem. Mas, para isso acontecer, seria necessária
uma produção muito maior do que a existente atualmente, para que as salas de
cinema tivessem conteúdo suficiente para exibição. Ou seja, não se exibe porque
não se produz, mas não se produz porque não se exibe. Novo círculo vicioso!
Porém,
estamos vivendo uma grande transformação nas formas de comunicação, que ainda
não conseguimos compreender direito, mas que estão aí, esperando. Existem novos
meios disponíveis para a experimentação e já existem experiências muito bem
sucedidas. Acho que temos que explorar muito mais essas novas possibilidades.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho
que todos os meios deveriam ter a liberdade para a experimentação. O grande
público deveria também participar da experimentação. Caso contrário,
continuaremos no mesmo pé, o curta não chegando ao grande público porque é
muito experimental, o grande público querendo só a experiência fácil, e os
outros meios não podendo experimentar. Tudo
bem, se não quisermos ser tão utópicos, não usemos o termo “grande público”,
usemos então “médio público”, mas é preciso ampliar, atingir mais gente, ser
menos hermético.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não
acho que deveria ser visto desta maneira, pois sendo assim, o curta-metragem
estaria sendo classificado como uma arte menor.
Qual
é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não
acho que existam receitas, mas acho que deve passar pela iniciativa própria,
que se produza, mesmo que precariamente, sem esperar por legislações e
incentivos milagrosos. Como disse antes, temos de aprender a usar melhor as
facilidades tecnológicas e de comunicação... e fazer.
Pensa
em dirigir um curta futuramente?
Também
já andei pesquisando minhas precariedades, arregacei as mangas e comecei a
produzir o que seria (ou será) uma pequena série chamada “Videocrônicas”,
disponível no Youtube.
Entretanto,
ainda não consegui ultrapassar a barreira da precariedade minimamente
aceitável, e a ocupação com outros trabalhos me impediram de evoluir. Mas,
sim, pretendo investir melhor neste ou em outro projeto de curta-metragem
futuramente. Pra
finalizar, quero agradecer a oportunidade desta entrevista. Gostei muito de
refletir sobre este assunto.
Espero
que não tenha sido uma leitura muito chata! Um
grande abraço a todos!