sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Maurício Squarisi


Cineasta. Integrante do Núcleo de Cinema de Animação de Campinas. É dele o longa-metragem em animação “Café, um dedo de prosa”.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Comecei a fazer curtas-metragens de animação em 1979, desde então dirigi 13 filmes. Como são filmes autorais, sou sempre motivado por questões pessoais. Embora a maioria dos filmes que fiz tratam de temas históricos, mesmo assim o estímulo é uma questão pessoal. Por exemplo: em 1996 fiz o filme "Nhô Tonico" (biografia do compositor Carlos Gomes nascido em 1836 e falecido em 1896) o que me motivou foi eu ser campineiro, viver em Campinas e sentir a obra de Carlos Gomes em vários locais da cidade.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Nos filmes autorais tento responder a uma necessidade interior de me expressar sobre determinado assunto, minha forma de me expressar é desenhando, portanto vou desenhando sobre esse assunto, depois de algum tempo começo a animar esses desenhos. Quando já tenho algumas animações faço um roteiro e trabalho um tempo sobre esse roteiro fazendo várias versões. Geralmente, paralelamente ao roteiro vou fazendo um story-board (porque preciso desenhar). Com um story-board organizado vou em busca de recursos para poder fazer essas ideias realmente se tornarem um filme. Um exemplo: em 1994 fiz "Molecagem". Fiquei dois anos desenhando brincadeiras de minha infância (pião, pipa, carrinhos de rolimã, etc.), depois fiz o roteiro dando início e fim à essas brincadeiras, paralelamente fiz o story-board. Já tinha várias cenas animadas, então fui em busca de recursos para financiar essa fantasia. Inscrevi o projeto em editais, contatei empresas, até que uma Multinacional automotiva viu uma ligação entre esse tema e sua campanha de natal e financiou o filme. Esse processo que acabo de descrever não é uma regra, cada produção encontra seus próprios caminhos para se realizar. Além de filmes autorais, realizo oficinas de animação que também geram curtas-metragens, nesses o processo é diferente, fazemos uma criação coletiva. O grupo de alunos (crianças, educadores) coletivamente cria o roteiro, grafismo e animação. Muitas vezes essas oficinas geram filmes com uma bela carreira, um exemplo é o filme "A VELHA A FIAR", realizado com um grupo de educadores em 2003. Esse filme foi adquirido por canais de televisão e participou de vários festivais importantes.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Me parece que a grande mídia (televisão) determina os formatos que devem participar das chamadas grades de programação e dão preferência às séries. As salas de exibição se conformaram em um esquema no qual somente o longa-metragem é viável. Portanto os curtas-metragens não tem muitas oportunidades de serem vistos pelo grande público. Daí não despertam interesse dos jornais e mídia impressa em geral. O grande destino dos curtas tem sido os festivais. O que não é pouco. Só no Brasil há cerca de 300 festivais em todas as regiões do país. No exterior mais um número enorme. O autor de curta-metragem precisa entender que seu trabalho não termina com a realização do filme. Na verdade, depois de o filme pronto se inicia um outro enorme trabalho, que é se esforçar para o seu filme ser visto. Uma coisa importante é enviar o filme para o maior número de festivais possível, se o filme for selecionado em vários festivais ele trará vários tipos de retorno ao realizador. Uma estimativa do Fórum dos Festivais (de alguns anos atrás) avaliava que os festivais no Brasil atingem um público de dois milhões de expectadores, é um número respeitável.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A exibição de curtas-metragens nas salas de cinema antes dos longas-metragens foi uma experiência muito boa, seria interessante retomá-la com as devidas correções. Daria para se fazer um bom programa nas TVs abertas.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que o realizador tem liberdade para experimentação no curta-metragem à medida que o custo não é tão grande, você pode errar, experimentar, aprender, se frustrar sem tanto prejuízo como em um longa-metragem.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Para alguns cineastas a soma de experiência na realização de alguns curtas-metragens podem levá-lo ao longa-metragem. Outros pode satisfazer sua necessidade de expressão apenas com os curtas e acho que isso não os diminui. Também acho legal não ficar preso ao rótulo de "curta-metragista" ou longa-metragista", quando você tiver uma necessidade de expressão que cabe em um curta, você faz um curta, se sua necessidade pede um média ou um longa, ou uma série, você se esforça para realizá-la nesse formato.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não acredito que exista uma receita. Acho que a primeira coisa importante é realizarmos o filme que queremos, depois nos esforçarmos para fazer esse filme chegar ao público de todas as formas possíveis.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Há vários projetos de curtas que ainda pretendo realizar.