Cineasta.
Integrante do Núcleo de Cinema de
Animação de Campinas. É dele o longa-metragem em animação “Café, um dedo de prosa”.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
Comecei a fazer curtas-metragens de animação
em 1979, desde então dirigi 13 filmes. Como são filmes autorais, sou sempre
motivado por questões pessoais. Embora a maioria dos filmes que fiz tratam de
temas históricos, mesmo assim o estímulo é uma questão pessoal. Por exemplo: em
1996 fiz o filme "Nhô Tonico" (biografia do compositor Carlos Gomes
nascido em 1836 e falecido em 1896) o que me motivou foi eu ser campineiro,
viver em Campinas e sentir a obra de Carlos Gomes em vários locais da cidade.
Conte sobre a sua experiência em
trabalhar em produções em curta-metragem.
Nos filmes
autorais tento responder a uma necessidade interior de me expressar sobre
determinado assunto, minha forma de me expressar é desenhando, portanto vou
desenhando sobre esse assunto, depois de algum tempo começo a animar esses
desenhos. Quando já tenho algumas animações faço um roteiro e trabalho um tempo
sobre esse roteiro fazendo várias versões. Geralmente, paralelamente ao roteiro
vou fazendo um story-board (porque preciso desenhar). Com um story-board
organizado vou em busca de recursos para poder fazer essas ideias realmente se
tornarem um filme. Um exemplo: em 1994 fiz "Molecagem". Fiquei dois
anos desenhando brincadeiras de minha infância (pião, pipa, carrinhos de
rolimã, etc.), depois fiz o roteiro dando início e fim à essas brincadeiras,
paralelamente fiz o story-board. Já tinha várias cenas animadas, então fui em
busca de recursos para financiar essa fantasia. Inscrevi o projeto em editais,
contatei empresas, até que uma Multinacional automotiva viu uma ligação entre
esse tema e sua campanha de natal e financiou o filme. Esse processo que acabo
de descrever não é uma regra, cada produção encontra seus próprios caminhos
para se realizar. Além de filmes autorais, realizo oficinas de animação que
também geram curtas-metragens, nesses o processo é diferente, fazemos uma
criação coletiva. O grupo de alunos (crianças, educadores) coletivamente cria o
roteiro, grafismo e animação. Muitas vezes essas oficinas geram filmes com uma
bela carreira, um exemplo é o filme "A VELHA A FIAR", realizado com
um grupo de educadores em 2003. Esse filme foi adquirido por canais de
televisão e participou de vários festivais importantes.
Por que os curtas não têm espaço em críticas
de jornais e atenção da mídia em geral?
Me parece
que a grande mídia (televisão) determina os formatos que devem participar das
chamadas grades de programação e dão preferência às séries. As salas de
exibição se conformaram em um esquema no qual somente o longa-metragem é viável.
Portanto os curtas-metragens não tem muitas oportunidades de serem vistos pelo
grande público. Daí não despertam interesse dos jornais e mídia impressa em
geral. O grande destino dos curtas tem sido os festivais. O que não é pouco. Só
no Brasil há cerca de 300 festivais em todas as regiões do país. No exterior
mais um número enorme. O autor de curta-metragem precisa entender que seu
trabalho não termina com a realização do filme. Na verdade, depois de o filme
pronto se inicia um outro enorme trabalho, que é se esforçar para o seu filme
ser visto. Uma coisa importante é enviar o filme para o maior número de
festivais possível, se o filme for selecionado em vários festivais ele trará
vários tipos de retorno ao realizador. Uma estimativa do Fórum dos Festivais
(de alguns anos atrás) avaliava que os festivais no Brasil atingem um público
de dois milhões de expectadores, é um número respeitável.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição
dos curtas para atingir mais público?
A exibição
de curtas-metragens nas salas de cinema antes dos longas-metragens foi uma
experiência muito boa, seria interessante retomá-la com as devidas correções.
Daria para se fazer um bom programa nas TVs abertas.
O curta-metragem para um profissional (seja
ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Acho que o
realizador tem liberdade para experimentação no curta-metragem à medida que o
custo não é tão grande, você pode errar, experimentar, aprender, se frustrar
sem tanto prejuízo como em um longa-metragem.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um
longa?
Para alguns
cineastas a soma de experiência na realização de alguns curtas-metragens podem
levá-lo ao longa-metragem. Outros pode satisfazer sua necessidade de expressão
apenas com os curtas e acho que isso não os diminui. Também acho legal não
ficar preso ao rótulo de "curta-metragista" ou
longa-metragista", quando você tiver uma necessidade de expressão que cabe
em um curta, você faz um curta, se sua necessidade pede um média ou um longa,
ou uma série, você se esforça para realizá-la nesse formato.
Qual é a receita para vencer no audiovisual
brasileiro?
Não
acredito que exista uma receita. Acho que a primeira coisa importante é
realizarmos o filme que queremos, depois nos esforçarmos para fazer esse filme
chegar ao público de todas as formas possíveis.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Há vários
projetos de curtas que ainda pretendo realizar.