Ator. Trabalhou na adaptação do
curta-metragem “Corvo”, da VigorMortis.
O que te faz aceitar participar de produções
em curta-metragem?
Primeiro de tudo o contato com o diretor ou
equipe artística. Gosto de reunir, tomar um café, falar sobre o projeto, ser
pessoalmente inserido no contexto do curta, assim consigo me sentir livre em
poder dar ao projeto o melhor de mim, de dialogar com o diretor caso exista
diferenças, inseguranças. Um set muitas vezes pode ser estressante então a
abertura para o diálogo é fundamental. Já presenciei situações em que o ator
que está dentro da cena está mais atento à detalhes em que a equipe não está
focada, se o ator for um mero instrumento todo mundo sai perdendo. Não acredito
em nenhuma relação profissional que não seja horizontal, mesmo que cada um
tenha suas especificidades na sua área atuação.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em
produções em curta-metragem.
Acho que sempre tive a sorte, pelo menos nos
trabalhos profissionais, de trabalhar com alguns nomes legais aqui em Curitiba.
O bom de fazer curta é que que as pessoas se arriscam mais em suas convicções
artísticas, fiz uma adaptação do “Corvo” com o Biscaia, diretor da VigorMortis
em que pude gastar bastante sobrancelhas, gritos de terror e respirações
ofegantes, para interpretar a paranoia do Allan Poe, também fiz um curta com a
Sara Bonfim (Quadros) em que o trabalho de atuação/direção foi de um
sensibilidade feminina que me tirou dos meus padrões. Acho que a equipe
reduzida e o trabalho intenso de um curta faz as pessoas vestirem mais a
camisa, almoçar juntos, repito que eu gosto quando o trabalho tenha um parcela
de “pessoalidade” em todos.
Por que os curtas não têm espaço em críticas
de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que essa é uma questão geral, não
vejo a arte abocanhando muitos espaços, quando eu digo arte estou dissociando-a
da ideia de cultura ou entretenimento. Não há interesse mercadológico na arte,
há um interesse alegórico em cinema/teatro/música, mas não necessariamente na
arte, e a ideia de curta-metragem acaba sofrendo esse baque, pois acredito que
em sua essência o curta-metragem tem um formato de experimentação, de abordagem,
de ataque a alguns temas que não se relacionam com o espaço aberto nas “mídias
em geral”. Claro que estou falando isso de um modo geral e pessimista, em
Curitiba onde em moro já existem alguns meios de comunicação, e a internet
ajuda muito nisso, que se preocupam em abordagens mais direcionadas ao fazer
artístico, mas o caminho para difundi-los ainda é árduo.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição
dos curtas para atingir mais público?
Os Festivais fazem isso muito bem, eu adoro
acompanhar quando tenho a oportunidade, acho legal ter o contato com a obra em
um evento experiencial, entrar em diálogo com um puzzle de curta metragens que
não se relacionam necessariamente entre si, saio sempre transbordando dessas
sessões de curtas. Mas algumas vezes adoraria poder entrar em contato com certa
obra em um momento mais intimo, em casa, estudar o curta, ver, revê-lo. Isso é
quase impossível pois a maioria fazem nome nos festivais e depois voltam para a
produtora, não há uma politica de distribuição. Seria legal se cada festival do
Brasil ganhasse um apoio e fizesse um Box dos filmes mostrados, ver o que foi
selecionado em Recife, em São Paulo, em Curitiba, cada festival tem sua
personalidade. Também poderia haver uma seleção oficial de curtas como acontece
com os filmes vendidos aos domingos em jornais como a Folha de São Paulo,
comprar o material com um preço acessível seria, acredito, uma maneira de
valorizar e difundir o formato.
O curta-metragem para um profissional (seja
ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Sem dúvida, acho que o clima é outro, a
pressão é menor, talvez por não se pretender entrar nesse esquema de grandes
distribuidoras. Posso falar apenas das experiências que vivi e sempre foram de
diálogos abertos, a equipe reduzida deixa o filme mais artesanal, todo mundo
põe um pouco a mão na massa, a corresponsabilidade é maior, isso acaba
influenciando muito no resultado final, deixa de ser um filme tão segmentado em
funções. Porém acho que isso não é uma exclusividade do curta, trabalhei em um
longa metragem chamado Circular, com cinco diretores, uma equipe grande, em que
a experimentação também era uma característica no set, pelo menos na parte da
atuação me senti livre pra propor e fazer meu trabalho assumindo alguns riscos.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um
longa?
Muitos diretores reafirmam seu nome no
formato, atores também, acho que é sim uma vitrine, um curta que acumula
prêmios tem chances de alavancar sua equipe para um trabalho de maior dimensão,
só não acho que essa deve ser a intenção ao fazer um curta, como eu disse um
curta metragem assume riscos que uma produção de longa nem sempre pode correr,
então pra que perder essa oportunidade vislumbrando algo maior, o curta por essência
já é uma grande coisa. Seu formato não pode ser considerado “pré-nada”.
Qual é a receita para vencer no audiovisual
brasileiro?
Não acho que existe receita pro sucesso,
receita é algo de medidas contadas e resultado igual, só sigo receitas pra fazer
comida e ainda sim só porque sou péssimo cozinheiro, se eu fosse um bom faria
de forma experimental e vanguardista.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dirigir ainda não está nos meus planos, mas
esse ano tenho um curta-metragem em fase de captação em que atuo e assino o
roteiro, minhas ambições estão mais como roteirista do que como diretor.