Formado em Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF). Mantém textos em sites como
o Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com.br) e Cinequanon
(www.cinequanon.art.br) e nas revistas independentes Paisà, Teorema, Pipoca
Moderna e Taturana.
Qual é a importância histórica do
curta na filmografia nacional?
O
curta-metragem sempre foi mola-mestre no cinema mundial, antes mesmo de ganhar
o rótulo de "curta-metragem" (afinal, numa época em que os filmes
eram todos curtos, só assim eles podiam existir). No Brasil não foi diferente,
e muito da experimentação de linguagem e estilo que tanto marca nossa produção
veio no curta. Para ficar em apenas um exemplo, o movimento mais estudado e
reverenciado no país (o Cinema Novo) teve como base trabalhos curtos como
"Arraial do Cabo" e "Aruanda". O curta, ainda hoje,
permanece como um autêntico oásis de criatividade e ousadia e há muito deixou
de ser considerado "ensaio" para longa-metragem. Ele existe e tem
força autonomamente.
Por que os curtas não têm espaço
em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por um
motivo, a meu ver, muito simples: o curta não tem existência como produto
comercial. Numa época como a de hoje, em que as pautas culturais são
primordialmente a partir daquilo que repercute, que rende, que "dá o que
falar", o curta-metragem apenas ganha atenção e importância se se tornar
algum tipo de fenômeno - como aconteceu recentemente com "Recife
Frio", de Kleber Mendonça. Mas isso não é apenas do curta. Filmes
independentes em geral, longas, só ganham espaço quando estreiam (se estrearem)
ou se forem incensados de alguma forma nos espaços restritos onde foram
exibidos.
Na sua opinião, como deveria ser
a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho,
na verdade, que o curta-metragem brasileiro, hoje, tem bem mais exibições que
no passado. Há o Canal Brasil e o Curta!, na TV, há projetos como a
Programadora Brasil, há mais de 200 festivais pelo país que sempre incluem
curtas (fora aqueles exclusivamente de curtas), há o Porta Curtas e canais como
o Vimeo, na web. É claro que ainda não é suficiente para a importância do
formato, mas já existe uma visibilidade muito maior do que há pouco tempo.
O curta-metragem para um
profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de
liberdade para experimentação?
Não
gosto de fechar a ideia de liberdade apenas no curta-metragem. Creio que a
arte, como um todo, é um grande campo de liberdade para experimentação. O
curta, por sua natureza (duração, orçamento necessário, equipe, etc.), tende a
ter mais riscos e apostas, porque o prejuízo (financeiro e de visibilidade) é
menor. Mas aí é com cada criador, que deve sempre escolher qual o melhor formato
e linguagem para desenvolver suas ideias.
O curta-metragem é um trampolim
para fazer um longa?
Como
comentei acima, não acredito nisso e nem acho que o curta seja pensado assim.
Na verdade, é claro que certos realizadores vão tentar desenvolver ideias pelo
curta com intuito de chegar ao longa-metragem, mas isso não é necessariamente
uma regra e nem significa que vá funcionar sempre. É apenas um recurso
artístico disponível - e, claro, absolutamente legítimo.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Não sei
o que significa "vencer no audiovisual brasileiro" e não penso o
cinema (a arte) como uma questão de "vencer" ou de competição.
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
Nunca
foi um plano e continua não sendo. Me interessa realmente refletir, pensar,
absorver o cinema. A feitura, a criação, não é algo muito forte em mim, por
diversos motivos. Não que não vá fazer nunca, mas realmente não é uma meta.