sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Eliseu Paranhos


Ator, diretor, dramaturgo, músico, compositor e produtor. No cinema, participa do elenco de "Querô", a partir da peça de Plínio Marcos, direção de Carlos Cortez, em 2007; "Plastic City", de Yu Lik Wai, em 2010; e "Dois Coelhos", de Afonso Poyart, em 2012. Na televisão, participa da série "9mm", da Fox, e atualmente (2014) está no elenco da novela "Além do Horizonte", na Rede Globo.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Em primeiro lugar o roteiro. Curtas são espaço de experimentação em princípio e lugar para ousadias criativas e narrativas. Se o roteiro me interessar, todo o resto pode ser negociado: inexperiência do diretor, tamanho do papel, etc. Basta que seja uma aventura estética radical ou que seja simples o suficiente para me emocionar e me apaixonar.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Comecei fazendo curtas como ator, participando de produções de formandos em cursos de cinema. Depois fiz curtas profissionais - que são raros, no sentido de que normalmente não possuem a estrutura financeira dos longas metragem. Participei de curtas de amigos - Varenick com Vatapá, por exemplo, de Marcelo Szykman - e, finalmente, comecei a fazer meus próprios trabalhos, atendendo a uma necessidade de colocar em prática minhas próprias opiniões sobre interpretação para cinema que muitas vezes vão de encontro às metodologias de preparação de ator mais "respeitadas" do mercado.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por que são manifestações periféricas, de fora da ordem econômica, experimentais, radicais, no que isso tem de bom e de ruim. O mercado se interessa pelo que pode ser absorvido pelo gosto médio. O mesmo se dá com o teatro experimental, por exemplo, que está, há muito, apartado do público. Não me perece que cabe aqui avaliar se deveríamos fazer filmes palatáveis ou peças de teatro agradáveis ao grande público - e por isso mesmo facilmente absorvíveis pelo mercado, até por que acredito que deve haver espaço para tudo e para as mais diversas manifestações estéticas, independentemente de eu gostar mais ou menos desta ou daquela obra de arte -, mas de questionar a verdade inquestionável segundo a qual apenas o que é de fácil absorção parece interessar ao tipo de produção hegemônico.
E isso também diz respeito aos críticos de arte. Eles são funcionários de empresas que visam lucro. Se o jornal não vender assinatura ou na banca, fecha. Daí que mesmo veículos que fizeram a fama ao longo das últimas décadas também fazem concessão ao "deus mercado". Quem é que se interessa por um pequeno produtor obscuro que faz experimentações cinematográficas radicais, ainda que saibamos que os curtas são o primeiro passo de inúmeros grandes cineastas que viriam, no futuro, tornar-se grandes nomes?

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Creio que há dois caminhos distintos a serem trilhados. Primeiro, um institucional e político, que incentivasse a produção de curtas metragens - seja através de financiamento público, seja através de leis de audiovisual que levassem em conta que curtas são fundamentais e precisam de espaço de reprodução (em tvs públicas, em contas de audiovisual de conteúdo nacional), de dinheiro proveniente de possíveis revisões de leis de incentivo à cultura (algumas já em discussão, inclusive, e chamadas por alguns de "dirigismos cultural" - SIC), etc. Depois, é preciso que também saibamos - nós produtores e artistas destas obras de arte - a qual público estamos interessados em atingir. Quanto mais radical for a experiência, menores as possibilidades de atingir um público médio. À exemplo do que acontece em outras artes - e no mercado de longas metragens -, quanto mais fácil for a assimilação, mais fácil chegar ao grande público. Então, cabe perguntar: como realizar uma experiência estética radical que seja também capaz de atingir ao grande público? Se nos recusarmos a nos fazer esta simples pergunta, correremos o risco de continuarmos a fazer obras que só interessam a nós mesmos. De minha parte, o que busco é fazer uma obra de arte que seja, ao mesmo tempo, uma experiência estética e narrativa radical e que interesse ao público. Parece "Hercúleo"? Parece. Mas arte não deveria servir para expandir horizontes?

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Não há dúvida de que sim. Mas isso também o relega a um espaço marginal, periférico. O grande desafio, me parece, é reverter essa condição de marginalidade e manter o espaço de liberdade criativa. Por outro lado, não tenho visto os curtas-metragens como um espaço de experimentação para atores. Talvez por eles serem a ponta da produção e por que diretores tende a saber pouco sobre o universo do ator, as maiores experimentações se dão no âmbito do roteiro e da direção, nunca da atuação. Parece-me que o cinema brasileiro viciou-se no que eu chamo de "Hiper-Realismo", um flerte que considero abominável com a não-interpretação. E não interpretação é, definitivamente a morte do trabalho do ator. Mesmo em curtas, a falta de voos radicais na interpretação é notável.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Pode ser e acho que tem sido assim ao longo dos tempos - usar uma primeira ou primeiras experiências como "laboratório" para um longa. Mas será que essa deveria ser a regra? Fazer um filme de curta duração não poderia ser uma opção estética (como os haicais em relação a poemas mais longos ou como o conto e a crônica em relação a romances)? Não há histórias que cabem melhor num tempo-espaço menor, mais aconchegante, mais fugaz?

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Pergunta espinhosa... Não sei se há receita, mas há algumas coisas que ajudam bastante. Berço, ser da turma, ser bom, ter contatos... Qual seria o critério mais importante?

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Como disse já fiz meu primeiro (De Luto por Gaber, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=6SkDrnmarCQ) e devo fazer o segundo, sempre com meus alunos do curso de interpretação para cinema. Mas meu grande interesse ainda é aprofundar uma metodologia de interpretação, apesar de ser um grande apaixonado pelo estudo da narrativa cinematográfica.