sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Layla Ruiz


Atriz e palhaça. Integrante da Cia. Malarrumada de Teatro e do grupo Doutores da Alegria. Atuou nos curtas “Jet Leg” de Tatiana Natsu; “Através” de Amina Jorge; entre outros.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Cinema é cinema, independente do formato. Cada vez mais filmes são realizados no Brasil e acho natural que o número de profissionais cresça, ampliando assim o mercado de trabalho também para os atores.  Fui convidada por duas diretoras que conheciam meu trabalho no teatro e no próprio set surgiram convites para atuar em outras produções, um trabalho levou ao outro e espero continue assim.

Aceitei participar de produções de curtas porque acredito que cinema se aprenda principalmente fazendo e nos trabalhos que participei pude aprender e conhecer muita coisa nova. Tenho um caderninho que uso em cada novo trabalho, uma espécie de glossário para expressões que eu não conhecia como, pan e tilt ou anotações sobre a diferença entre plano, take e quadro. O set ainda é um lugar enigmático para mim.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Atuei em cinco curtas-metragens, todos eles universitários. Considero que tive bastante sorte, estreei no curta “Jet Leg” de Tatiana Natsu, ao lado da atriz e diretora Helena Ignéz, um ícone do Cinema Marginal e uma artista ainda atuante no mercado audiovisual brasileiro. Depois participei do curta “Através” de Amina Jorge, que foi vencedor na categoria revelação do 23º festival Kinoforum de São Paulo. Os outros três filmes que participei estão em fase de finalização.

Para o ator, o cinema é um ambiente muito diferente do teatro, tanto na interpretação quanto na dinâmica de produção e criação da obra. O ator no cinema pega o bonde andando, o roteiro já existe, as locações, a equipe, a verba (ou parte dela) e o ator participa do miolo, do período das filmagens, que no formato de curta tende a ser menor do que nos longas, e depois se despede, voltando a entrar em contato com a obra tempos depois, quando o filme é finalizado. Esse é mais ou menos o ciclo.

No cinema o ator divide a autoria de sua interpretação com o diretor, que muitas vezes detém o poder de escolha do que quer captar de cada interprete. A angustia com certeza fez parte das minhas experiências no cinema, entender e assimilar essa relação não é simples, mas essa mesma angustia foi também um grande estímulo para o meu processo criativo.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O público dos curtas está restrito aos cineastas e produtores, logo esse formato não tem espaço nas grandes salas de exibição, e sem espaço para apresentação não há público, se não há público não há interesse da mídia. Um ciclo inibidor de produção e apreciação do formato.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Festivais são uma boa opção, tanto para incentivar as produções quanto para possibilitar a exibição para o público em geral. Acredito que seja necessário abrir espaço para a valorização dos curtas e para a formação de um público que entenda esse formato como uma escolha artística. O curta metragem não pode ser visto como um filme pequeno ou como arte menor em relação ao longa metragem, esse talvez seja o primeiro pensamento que necessite ser combatido. Por isso, estimular o interesse do público pelo formato de curta metragem através de mostras e festivais ajude a fortalecer as produções e chame atenção dos meios de comunicação.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Na verdade acho que cada projeto, sendo longa ou curta, pode conter ou não características que façam dele um campo fértil para a experimentação. Como cinema é algo caro e envolve muitas pessoas, o formato de curta metragem acaba sendo uma opção viável para as primeiras produções de muitos cineastas, talvez venha daí seu carácter experimental, quando um artista dá os primeiros passos na construção e descoberta da sua personalidade estética e criativa. Mas o espaço para experimentação deve existir sempre, é ele quem areja o impulso criativo e possibilita a descoberta de novas linguagens.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Trampolim eu não sei se é a melhor expressão, eu diria que é uma Escola. Falando exclusivamente no campo da atuação, acredito sim que participar de um curta valha mais do que um curso de atuação para cinema, porque o trabalho no set é real, o desafio não é uma simulação, como se fosse um exercício em sala de aula.

Adquirir experiência ajuda a alçar voos mais complexos e ousados. Hoje, depois de ter participado de alguns curtas, me sinto mais segura e preparada para trabalhar num próximo filme, seja ele de curta ou longa duração. 

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Eu não me considero uma artista representativa do audiovisual brasileiro para responder essa pergunta, mas arrisco dizer que essa receita não existe. Captar recursos para um projeto é uma grande batalha no cinema independente, ainda mais quando apenas 0,05% do orçamento do país é destinado à cultura. Mas acho que para “vencer” na arte de maneira geral, um bom caminho é dar voz aos seus impulsos criativos e ter rebeldia e valentia para continuar criando.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Nunca pensei sobre o assunto, acho precipitado qualquer tipo de pensamento neste sentido, até porque ainda tenho muito que aprender sobre a linguagem cinematográfica, muitos personagens e roteiros para desbravar antes de ir para trás das câmeras. No máximo, arrisquei um devaneio sobre escrever roteiros, mas como disse, foi um devaneio.