Thais é atriz, e uma das integrantes e fundadoras da “Cia. Delas”, atuando nos espetáculos "A Famosa
Invasão dos Ursos na Sicília", "Histórias por Telefone", entre outros. Pedro Jorge é cineasta,
dirigiu o curta-metragem "A Navalha do Avô".
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Pedro: Normalmente analiso o roteiro
e as condições de produção. Muitas vezes um roteiro não tão interessante, mas
com boas condições de realização pode ser um grande desafio e o contrário
também, um roteiro incrível com condições de produção mais restritas. Levo em
conta também a equipe e meu interesse em trabalhar com aquelas pessoas.
Thais: O roteiro, um personagem
interessante, o comprometimento da equipe e as condições para realizar o
trabalho. Atuei em poucos curtas-metragens e em todos contou muito o fato de eu
conhecer e gostar das pessoas envolvidas, o que me fez ter vontade de
"comprar" a ideia e querer contribuir para o filme.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
Pedro: Comecei no curso de cinema, nos curtas da faculdade e acho que é
uma ótima experiência para todo estudante, porque o set não é profissional e
estão todos aprendendo, além de nesses pequenos filmes, podermos descobrir e
conhecer parceiros pro futuro. Eu amo curta, comparo com o escritor que escreve
contos. Acho o formato desafiador, porque exige muito do realizador, ele tem
pouco tempo para prender o espectador, isso é muito legal do ponto de vista
criativo. Já realizei alguns como diretor, diversos como montador e na faculdade em
várias funções como forma de aprendizado que me enriqueceram muito quando tive
a oportunidade de dirigir.
Thais: Como disse anteriormente, não
atuei em muitos filmes e quase todos foram no contexto universitário. Em muitos
deles me diverti muito com a equipe envolvida, mas em geral, fiquei bem
"perdida" como atriz, porque acho que esses filmes são produzidos
como um grande exercício para os alunos, e não sinto que a prioridade nesse
caso seja - ou deva ser - a direção de atores, assim, encarei como um grande
exercício para mim também. Em 2010 tive a experiência de atuar em um TCC da
ECA-USP e o diretor fez bastante questão de um trabalho prévio intenso com os
atores. Foi uma experiência muito interessante. Construímos os personagens e
suas relações ao longo dos ensaios e eu aprendi muito. Acho que os processos
que permitem essa investigação e conseguem ter esse tempo para preparação e
diálogo entre os artistas envolvidos tendem a resultar mais interessantes e
amadurecidos.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia
em geral?
Pedro: Simples, o curta-metragem é na grande maioria das vezes um local
de experimentação dos realizadores. A grande mídia acaba ignorando, porque o
curta, diferentemente do longa, não gera receita financeira e isso acaba sendo
algo pouco interessante comercialmente. O espaço dos curtas-metragens que
existe e é muito bem resolvido são os festivais que estão espalhados pelo
Brasil e por outros países e que difundem muito bem o formato além de alguns
canais de TV que inserem curtas na sua programação como o Canal Brasil, Sesctv
e o Curta!; além claro da internet, em bons portais como o Porta Curtas (que
tem um acervo magnífico) e as páginas dos realizadores no Youtube e no Vimeo.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais
público?
Pedro: Eles deveriam ser como era no fim dos anos 90 e começo de 2000:
exibidos antes de longas. Era a lei do curta, que no meu caso foi uma boa
experiência, porque foi assim que pude conhecer um formato que era desconhecido
por mim até então. Lembro que fui ver alguns filmes americanos no cinema do
shopping e passava curtas antes, era algo interessante pra mim. A questão é que
a publicidade que dura em torno de 10 a 15 minutos, gera receita para o
exibidor, o curta não, era uma lei de obrigatoriedade. E os trailers, são
exigências das próprias distribuidoras, para angariar os espectadores para
futuros lançamentos. Trailers são grandes peças audiovisuais pouco percebidas.
De qualquer forma, achava essa lei interessante.
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou
produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Pedro: Sim. O curta, por não ter a
obrigatoriedade de gerar receita financeira, não prende o realizador a ter de
seguir regras ou formas para a realização dos filmes. O curta também traz a
liberdade de não se prender a gêneros, é mais democrático e um grande meio de
experimentação com a construção da narrativa que muitas vezes é mais livre e
instigante que no vídeo clipe e na vídeo-arte.
Thais: Sim. Acho que a possibilidade
de realizar um projeto mais concentrado, que pode ser realizado em um pequeno
espaço de tempo, com menos custos, dá espaço para a criatividade, pesquisa de
linguagem e ousadia e quando bem produzido e dirigido, permite uma maior
verticalidade sobre a narrativa.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Pedro: Depende de cada realizador,
antigamente isso era declarado, hoje já não sei mais. Eu confesso que meu
interesse como realizador hoje é maior por curtas do que por longas, o longa é
um negócio a maior parte das vezes, o curta tem menos peso nesse aspecto.
Muitos realizadores usam a publicidade como trampolim ou séries de TV, é bem
subjetivo isso. Mas o fato de você aprender certas questões pode-se dizer que
sim, é um trampolim.
Thais: Acho que para o ator pode ser
um trampolim, mas como tudo na carreira, não tem regra. Penso que um trabalho
bem feito tende a chamar outros. Acho legal as pessoas terem uma boa referência
do seu trabalho e um curta-metragem bem feito pode representar isso.
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Pedro: Acredito que é não ser especialista. Por exemplo, um sujeito que
diz, "Sou apenas diretor", tem algo por trás que o sustenta, isso é
bem comum na publicidade, que é um mercado que gera muito dinheiro, portanto
viabiliza o sujeito apenas dirigir. Eu vivo como montador, coordenador de
finalização, colorista e dirijo meus curtas, vídeo clipes de bandas de amigos,
além de estar constantemente pensando e desenvolvendo projetos, ou seja, essa é
a forma que eu encontrei de vencer no audiovisual. Acabei de rodar um curta com
edital da prefeitura, para poder me dedicar 100% ao filme, tive de fazer
algumas escolhas. O edital saiu em junho, mas o dinheiro só foi liberado em
outubro, nesse tempo fiz um documentário pra TV5 da França como montador, depois
emendei em um institucional para um artista plástico, como fotógrafo e
colorista, juntei algum dinheiro nesse período. Isso era setembro, pintou uma
boa oportunidade de ganhar mais um pouco fazendo uma série infantil para um
canal a cabo. Apesar de naquele momento querer me dedicar ao filme, acabei
aceitando e adiei mais um pouco o processo do filme, juntei mais um dinheiro e
a partir de janeiro neguei todos os trabalhos que apareceram até eu terminar o
filme, ou seja, tive de fazer um planejamento. Rodei o curta em abril, montei
em maio e entreguei em junho, nesse período, tive de viver com o dinheiro que
juntei pra viver no ano passado. A sorte é que a mesma série infantil renovou
mais duas temporadas e após entregar o filme tive um novo trabalho.
Isso na verdade é pra dizer que temos que estar cavando trabalhos e descobrindo
outros realizadores, porque na minha experiência, um dia sou diretor e no outro
tenho de estar ajudando algum diretor com os projetos deles.
Thais: Ainda não tenho essa resposta.
Vivo do dinheiro que ganho fazendo teatro e publicidade. Espero um dia poder
responder a esta pergunta com propriedade.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Pedro: Rodei alguns curtas experimentais, o meu TCC (Trabalho de
Conclusão de Curso) foi um documentário, "A vermelha luz do bandido",
sobre o cinema de Rogério Sganzerla e a sua realização me fez refletir muito
sobre o processo do cinema. Viajei por diversos festivais no Brasil e no
exterior com este filme, ganhei alguns prêmios e agora pode ser assistido em
canais na internet como o Porta Curtas (http://portacurtas.org.br/filme/?name=a_vermelha_luz_do_bandido) ou na minha página no Vimeo (http://vimeo.com/23337658). Estou lançando agora meu novo curta, "A Navalha do Avô"
que é mais narrativo e escrevi em conjunto com a Francine Barbosa, uma grande
parceira minha. Agora estou começando a mexer nas ideias que pararam no tempo,
projetos antigos engavetados para desenvolver, espero ter novos filmes. Quero
poder dirigir mais, esse é o meu desejo.
Thais: Não. Sou atriz e meu negócio
são os personagens. Não descarto a possibilidade de trabalhar com roteiro ou
produção, mas apenas para viabilizar meu lugar na frente das câmeras.