sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Lívio Tragtenberg


Lívio escreve músicas para teatro, vídeo, cinema e instalações sonoras. Compôs obras instrumentais, sinfônicas, eletroacústicas e operísticas. Criou a “Blind Sound Orchestra”, sanfoneiros cegos que dão ritmo a um filme mudo.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O caráter experimental da proposta no curta-metragem. Ou seja, acho que usa-lo como um mini longa, é uma forma míope. Ao contrario, o curta pode desenvolver uma poética de imagem, som e narrativa próprias, especificas. Essa propriedade do formato, e mesmo a consciência dessa especificidade são essenciais para que um projeto de curta me interesse.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Meu primeiro trabalho com curta foi num filme de Eliane Bandeira em 1983. Depois fiz os primeiros curtas do Roberto Moreira, e inclusive colaborei no roteiro de um deles, “A Princesa Radar”, a partir de Oswald de Andrade. Também Júlio Bressane no curta sobre Oswald, que depois foi reunido num longa-metragem com vários diretores, “Oswaldianas”. Fiz trabalhos com o Joel Pizzini, desde “Caramujo-flor” dos anos de 1980, que sempre são estimulantes. E mais uns vinte outros filmes, ora também fazendo o desenho de som e mixagem. Recentemente o filme de Marina Lacerda das igrejinhas de Olinda, onde colaborei com o desenho de som e mixagem.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque não está agregado a eles valor de mercado. É um formato que não se encaixa na cabeça quadrada das grades de programação audiovisual de toda espécie. Sejam cinemas, TVs, TVs a cabo, edição em DVD, etc. E quanto a critica, ora a critica... está hoje mais para um pelotão auxiliar pra vender anúncio...

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Gostava daquela ideia, tão contestada, da obrigatoriedade de exibição do curta-metragem antes do longa-metragem em todas as salas. Gostava até quando os filmes eram ruins e o publico caia de pau, tinha uma vida ali. O público de cinema, tão passivo, ali se colocava, era divertido e realmente os filmes eram assistidos. Sou a favor de se voltar a alguma politica inclusiva para o curta. O papo de que isso é tutela, etc., foi plantado pelos exibidores e redes de distribuição americanas, que querem mais tempo para colocar as propagandas antes das sessões...

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que sim, mas penso que o desejo da experimentação prescinde do formato. Se o cara é convencional será em qualquer formato, e vice-versa.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Em geral é encarado assim, por isso existe em torno dele um certo desapreço e descuido, em razão de sua transitoriedade na carreira dos envolvidos, mas isso é típico de uma mentalidade pré-formatada, mas dominante.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se eu soubesse, queimaria...

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Porque não? A narrativa curta dá muito conta da fragmentação e imprevisibilidade dos dias de hoje. Além do que , não gera tantas dividas....