Lívio escreve
músicas para teatro, vídeo, cinema e instalações sonoras. Compôs obras
instrumentais, sinfônicas, eletroacústicas e operísticas. Criou a “Blind
Sound Orchestra”, sanfoneiros cegos que
dão ritmo a um filme mudo.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O caráter experimental da proposta no curta-metragem. Ou seja, acho que usa-lo
como um mini longa, é uma forma míope. Ao contrario, o curta pode desenvolver
uma poética de imagem, som e narrativa próprias, especificas. Essa propriedade
do formato, e mesmo a consciência dessa especificidade são essenciais para que um
projeto de curta me interesse.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Meu
primeiro trabalho com curta foi num filme de Eliane Bandeira em 1983. Depois
fiz os primeiros curtas do Roberto Moreira, e inclusive colaborei no roteiro de
um deles, “A Princesa Radar”, a partir de Oswald de Andrade. Também Júlio
Bressane no curta sobre Oswald, que depois foi reunido num longa-metragem com vários
diretores, “Oswaldianas”. Fiz trabalhos com o Joel Pizzini, desde “Caramujo-flor”
dos anos de 1980, que sempre são estimulantes. E mais uns vinte outros filmes,
ora também fazendo o desenho de som e mixagem. Recentemente o filme de Marina
Lacerda das igrejinhas de Olinda, onde colaborei com o desenho de som e
mixagem.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque
não está agregado a eles valor de mercado. É um formato que não se encaixa na cabeça
quadrada das grades de programação audiovisual de toda espécie. Sejam cinemas,
TVs, TVs a cabo, edição em DVD, etc. E quanto a critica, ora a critica... está
hoje mais para um pelotão auxiliar pra vender anúncio...
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Gostava
daquela ideia, tão contestada, da obrigatoriedade de exibição do curta-metragem
antes do longa-metragem em todas as salas. Gostava até quando os filmes eram
ruins e o publico caia de pau, tinha uma vida ali. O público de cinema, tão
passivo, ali se colocava, era divertido e realmente os filmes eram assistidos.
Sou a favor de se voltar a alguma politica inclusiva para o curta. O papo de
que isso é tutela, etc., foi plantado pelos exibidores e redes de distribuição
americanas, que querem mais tempo para colocar as propagandas antes das sessões...
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que
sim, mas penso que o desejo da experimentação prescinde do formato. Se o cara é
convencional será em qualquer formato, e vice-versa.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Em geral
é encarado assim, por isso existe em torno dele um certo desapreço e descuido,
em razão de sua transitoriedade na carreira dos envolvidos, mas isso é típico
de uma mentalidade pré-formatada, mas dominante.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se eu
soubesse, queimaria...
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
Porque não? A narrativa curta dá muito conta da fragmentação e
imprevisibilidade dos dias de hoje. Além do que , não gera tantas dividas....