domingo, 4 de outubro de 2015

Flora Diegues


Sua estreia como atriz acontece no filme "Tieta do Agreste", em 1996, sob a direção de Cacá Diegues, seu pai. Em 2013, cria a Cia. Terceiro Mundo, que estreia com o espetáculo "Parei de ser Fôlego", no Festival Home Theatre, em 2014. Atualmente está no “ar” na telenovela “Além do Tempo”, da TV Globo.

Qual é a importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Acho que o curta-metragem é a maneira de deixar o cinema nacional sempre vivo. Mesmo em épocas historicamente complicadas, como a ditadura militar e a Era Collor, quando era quase impossível filmar no país, os diretores persistentes estavam lá, trabalhando duro em seus curtas e garantindo a sobrevivência do nosso cinema.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Em algum momento durante a faculdade de cinema percebi que o curta-metragem era a oportunidade de jovens sem experiências ocuparem cargos importantes dentro da produção. Eu imaginei que aprenderia mais quebrando a cabeça nesses filmes do que estagiando em grandes produtoras. Além disso, eu já sabia que precisaria encontrar a minha turma dentro do cinema, essa era um dos meus objetivos na faculdade, eu corri atrás dessas produções afim de conhecer pessoas com quem eu me identificasse artisticamente e que pudessem seguir comigo durante toda minha trajetória.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Eu comecei a fazer curtas durante a faculdade de cinema na PUC-Rio. A gente tinha muita aula de teoria, mas a prática dependia da gente, da nossa força de vontade. O pessoal mais velho estava sempre precisando de gente pra compor a equipe. Eu era vidrada por set de filmagem, andava pelos corredores da PUC me oferecendo para participar. Até que fui chamada. Comecei trabalhando com elenco, eu vinha do teatro e no meio daqueles jovens obcecados por cinema esse era o meu diferencial. Fiz muita assistência de direção no começo da faculdade, o que naturalmente me levou a querer produzir. Até que comecei o curso de roteiro e escrevi meu primeiro curta o “Sobe, Sofia”. Eu achava ele péssimo, mas um dia, meu amigo André Mielnik o leu e pediu para dirigir. Eu aceitei e me ofereci para produzir. Durante o processo fui me encantando com a direção, era maravilhoso ver minha história e personagens tomando forma, me intrometi no trabalho do André a ponto dele ter que me convidar para co-dirigir, àquela altura eu já estava pouco me lixando para produção. Depois dessa jornada decidi que queria dirigir. Continuei produzindo alguns filmes de amigos mas já estava focada em escrever um novo filme em que eu pudesse dirigir sozinha. Daí surgiu o “Assim como Ela”, meu último filme que fiz como estudante de cinema. Esses dois filmes tiveram boa repercussão em festivais nacionais e internacionais e isso me serviu como grande incentivo para continuar nesse caminho. Não sei se ainda estaria fazendo cinema se não fossem eles.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Eu acho que o curta não tem espaço porque ele não tem valor mercadológico, ele não traz retorno para a indústria. Daí ele fica restrito ao circuito de festivais que só é frequentado por gente de cinema, ele chama pouca atenção. O segmento de cultura dos grandes jornais, na maioria das vezes, serve mais como material de divulgação do que como discussão critica sobre uma obra.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Eu gosto muito da Lei do Curta, onde as salas de cinema são obrigadas a exibir curtas antes dos longas. Acho que o grande problema do curta-metragem é realmente o acesso ao público. A gente fica a restrito a festivais e aos cinéfilos e nunca temos um retorno real do público leigo.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
É o que dizem, né? Mas eu acho que toda forma de arte deveria ser um campo de liberdade e experimentação. Se não ficamos engessados às estruturas e conceitos preestabelecidos, repetindo o que já existe. Acho que o artista tem a inquietação do novo.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Depende muito da trajetória de cada um. Tem cineasta que só faz curta, outros que têm longas e nunca fizeram um curta. Eu, particularmente, acho que são linguagens diferentes que pedem estruturas dramáticas diferentes. Os curtas que eu gosto não poderiam ser longas e vice versa.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não existe receita.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
No momento estou focada em outros projetos. Acredito que um curta não é uma coisa que você faz ali rapidinho. Só pararei para fazer um curta novamente se me vier uma ideia que precise ser em formato de curta e eu tiver tempo para realizá-lo.