Sua
estreia como atriz acontece no filme "Tieta do Agreste", em 1996, sob
a direção de Cacá Diegues, seu pai. Em 2013, cria a Cia. Terceiro Mundo, que
estreia com o espetáculo "Parei de ser Fôlego", no Festival Home
Theatre, em 2014. Atualmente está no “ar” na telenovela “Além do Tempo”, da TV Globo.
Qual é a
importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Acho que o curta-metragem é a maneira de deixar o cinema nacional
sempre vivo. Mesmo em épocas historicamente complicadas, como a ditadura
militar e a Era Collor, quando era quase impossível filmar no país, os
diretores persistentes estavam lá, trabalhando duro em seus curtas e garantindo
a sobrevivência do nosso cinema.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
Em algum momento durante a faculdade de cinema percebi que o curta-metragem
era a oportunidade de jovens sem experiências ocuparem cargos importantes
dentro da produção. Eu imaginei que aprenderia mais quebrando a cabeça nesses
filmes do que estagiando em grandes produtoras. Além disso, eu já sabia que
precisaria encontrar a minha turma dentro do cinema, essa era um dos meus
objetivos na faculdade, eu corri atrás dessas produções afim de conhecer
pessoas com quem eu me identificasse artisticamente e que pudessem seguir
comigo durante toda minha trajetória.
Conte sobre a sua experiência em
trabalhar em produções em curta-metragem.
Eu
comecei a fazer curtas durante a faculdade de cinema na PUC-Rio. A gente tinha
muita aula de teoria, mas a prática dependia da gente, da nossa força de
vontade. O pessoal mais velho estava sempre precisando de gente pra compor a
equipe. Eu era vidrada por set de filmagem, andava pelos corredores da PUC me
oferecendo para participar. Até que fui chamada. Comecei trabalhando com
elenco, eu vinha do teatro e no meio daqueles jovens obcecados por cinema esse
era o meu diferencial. Fiz muita assistência de direção no começo da faculdade,
o que naturalmente me levou a querer produzir. Até que comecei o curso de
roteiro e escrevi meu primeiro curta o “Sobe, Sofia”. Eu achava ele péssimo,
mas um dia, meu amigo André Mielnik o leu e pediu para dirigir. Eu aceitei e me
ofereci para produzir. Durante o processo fui me encantando com a direção, era
maravilhoso ver minha história e personagens tomando forma, me intrometi no
trabalho do André a ponto dele ter que me convidar para co-dirigir, àquela
altura eu já estava pouco me lixando para produção. Depois dessa jornada decidi
que queria dirigir. Continuei produzindo alguns filmes de amigos mas já estava
focada em escrever um novo filme em que eu pudesse dirigir sozinha. Daí surgiu
o “Assim como Ela”, meu último filme que fiz como estudante de cinema. Esses
dois filmes tiveram boa repercussão em festivais nacionais e internacionais e
isso me serviu como grande incentivo para continuar nesse caminho. Não sei se
ainda estaria fazendo cinema se não fossem eles.
Por que os curtas não têm espaço em
críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Eu
acho que o curta não tem espaço porque ele não tem valor mercadológico, ele não
traz retorno para a indústria. Daí ele fica restrito ao circuito de festivais
que só é frequentado por gente de cinema, ele chama pouca atenção. O segmento
de cultura dos grandes jornais, na maioria das vezes, serve mais como material
de divulgação do que como discussão critica sobre uma obra.
Na sua opinião, como deveria ser a
exibição dos curtas para atingir mais público?
Eu gosto muito da Lei do Curta, onde as salas de cinema são obrigadas a exibir curtas
antes dos longas. Acho que o grande problema do curta-metragem é realmente o
acesso ao público. A gente fica a restrito a festivais e aos cinéfilos e nunca
temos um retorno real do público leigo.
O curta-metragem para um profissional (seja
ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade
para experimentação?
É
o que dizem, né? Mas eu acho que toda forma de arte deveria ser um campo de
liberdade e experimentação. Se não ficamos engessados às estruturas e conceitos
preestabelecidos, repetindo o que já existe. Acho que o artista tem a
inquietação do novo.
O curta-metragem é um trampolim para
fazer um longa?
Depende
muito da trajetória de cada um. Tem cineasta que só faz curta, outros que têm
longas e nunca fizeram um curta. Eu, particularmente, acho que são linguagens
diferentes que pedem estruturas dramáticas diferentes. Os curtas que eu gosto
não poderiam ser longas e vice versa.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Não
existe receita.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
No
momento estou focada em outros projetos. Acredito que um curta não é uma coisa
que você faz ali rapidinho. Só pararei para fazer um curta novamente se me vier
uma ideia que precise ser em formato de curta e eu tiver tempo para realizá-lo.