segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Maria Carolina Dressler


Atriz. Foi protagonista do espetáculo teatral “Monga”.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Minhas primeiras experiências em curtas-metragens foram como atriz, onde minhas maiores preocupações eram quanto a técnicas de interpretação, muito peculiar no cinema.  Nessa fase não participava da concepção nem argumento das produções, por exemplo. Recebia convites pra atuar e procurava executar essa função da melhor forma, mas não chegava a me inteirar de toda complexidade de uma produção audiovisual, diferentemente de meu contato com teatro.

Posteriormente passei a produzir filmes com a Corja, MP mídia e CPT, entre eles a série de vídeos Ensaio Aberto e o projeto Vidas Ocultas. Posso dizer que esse contato mais amplo com a produção audiovisual acabou também agigantando minha percepção como atriz para o cinema e despertando um senso crítico mais apurado inclusive quanto a interpretação de atores, quanto a sensibilidade e tato que deve ter um diretor ou um preparador de elenco, e outras peculiaridades técnicas. Importante falar especificamente do trabalho com a Corja Filmes, um coletivo audiovisual que propõe um método de produção semelhante a um grupo, coletivo, horizontal.

Tinha acabado de sair de meu antigo grupo de teatro onde trabalhei por dez anos. Não pretendia trabalhar tão cedo com a rotina de integrar um grupo, no entanto, meu modo de criar e produzir são baseados em processos de pesquisa, coletivos e colaborativos.  Paralelamente a estes trabalhos, iniciei a pesquisa do espetáculo teatral “Monga” e fundei o “In Bocca al Lupo” , uma espécie de núcleo que visa o encontro e intercambio de artistas de diferentes áreas. “Monga” é um espetáculo teatral com uma importante pesquisa e referencias da cinematografia do cineasta italiano Marco Ferreri. A pesquisa que iniciei no Brasil acabou gerando convite de instituições italianas e aprofundei este estudo em 2012 no Museo Nazionale del Cinema, Centro Sperimentale di Cinema, Universitá di Verona e junto a cineastas e críticos que me receberam e doaram material de acervo. O espetáculo conta com projeções em vídeo baseadas na estética Ferreriana e micro filmes produzidos exclusivamente para a montagem. Estreia 06 de novembro.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Creio que toda produção audiovisual que não está inserida no nicho comercial do mercado cinematográfico também encontra esta dificuldade. Para os curtas pode ser ainda mais difícil, talvez por muitas vezes serem  tidos como filmes menores quanto a qualidade estética e técnica, o que é um grande engano. A produção de um curta passa pelos mesmo processo de um longa. O diferencial é que um curta deve potencializar uma história ou uma ideia em poucos minutos e algumas vezes isso pode ser ainda mais difícil. 

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Existem algumas mostras de curtas que são muito importantes e incentivam a produção e acesso, mas para formação de publico apreciador  talvez fosse interessante exibição de pelo menos um curta metragem antes de toda sessão comercial de longa, por exemplo, ou ainda exibir e produzir curtas nas escolas. A internet e redes sociais já contribuem pra isso, mas devemos aproveitar melhor estes meios. Sem falar nos subsídios e incentivos públicos que deveriam ser base de tudo isso.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Com base na minha vivencia pessoal acho que o que difere ou possibilita a experimentação não está na duração do filme, mas no modo de produção e criação estabelecido. Mas talvez como a maioria dos longas estejam comprometidos com o mercado, acabam tendo menos espaço pra isso.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acho que não, por que vendo como trampolim parece estar depreciando o curta, então não consigo fazer esse paralelo. De qualquer forma,  entendo que pode ser a oportunidade  de um primeiro contato com a área. No meu caso foi uma grande oportunidade de estreitar a relação com o cinema, mas ainda não fiz um longa.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Nossa! Me pergunto isso todos os dias. Mas de forma mais abrangente “como ser artista no Brasil?”

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Desejo muito dirigir. Sobretudo depois da pesquisa sobre Ferreri. É uma via de mão dupla, ou tripla (risos). Além de atuar e produzir tenho um estudo sobre propriocepção na preparação de atores.  Além disso acho que o fato de ter a vivencia de atriz e também de estar por traz das câmeras instiga ainda mais este desejo.