Atriz. Foi protagonista do espetáculo teatral “Monga”.
Conte sobre a sua
experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Minhas primeiras experiências em curtas-metragens foram como atriz, onde minhas maiores preocupações eram quanto a técnicas de interpretação, muito
peculiar no cinema. Nessa fase não
participava da concepção nem argumento das produções, por exemplo. Recebia
convites pra atuar e procurava executar essa função da melhor forma, mas não
chegava a me inteirar de toda complexidade de uma produção audiovisual,
diferentemente de meu contato com teatro.
Posteriormente passei
a produzir filmes com a Corja, MP mídia e CPT, entre eles a série de vídeos
Ensaio Aberto e o projeto Vidas Ocultas. Posso dizer que esse contato mais
amplo com a produção audiovisual acabou também agigantando minha percepção como
atriz para o cinema e despertando um senso crítico mais apurado inclusive
quanto a interpretação de atores, quanto a sensibilidade e tato que deve ter um
diretor ou um preparador de elenco, e outras peculiaridades técnicas. Importante falar
especificamente do trabalho com a Corja Filmes, um coletivo audiovisual que
propõe um método de produção semelhante a um grupo, coletivo, horizontal.
Tinha acabado de sair
de meu antigo grupo de teatro onde trabalhei por dez anos. Não pretendia
trabalhar tão cedo com a rotina de integrar um grupo, no entanto, meu modo de
criar e produzir são baseados em processos de pesquisa, coletivos e
colaborativos. Paralelamente a estes
trabalhos, iniciei a pesquisa do espetáculo teatral “Monga” e fundei o “In
Bocca al Lupo” , uma espécie de núcleo que visa o encontro e intercambio de
artistas de diferentes áreas. “Monga” é um espetáculo teatral com uma
importante pesquisa e referencias da cinematografia do cineasta italiano Marco
Ferreri. A pesquisa que
iniciei no Brasil acabou gerando convite de instituições italianas e aprofundei
este estudo em 2012 no Museo Nazionale del Cinema, Centro Sperimentale di
Cinema, Universitá di Verona e junto a cineastas e críticos que me receberam e
doaram material de acervo. O espetáculo conta
com projeções em vídeo baseadas na estética Ferreriana e micro filmes
produzidos exclusivamente para a montagem. Estreia 06 de novembro.
Por que os curtas não têm espaço em
críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Creio que toda
produção audiovisual que não está inserida no nicho comercial do mercado
cinematográfico também encontra esta dificuldade. Para os curtas pode ser ainda
mais difícil, talvez por muitas vezes serem
tidos como filmes menores quanto a qualidade estética e técnica, o que é
um grande engano. A produção de um curta passa pelos mesmo processo de um
longa. O diferencial é que um curta deve potencializar uma história ou uma
ideia em poucos minutos e algumas vezes isso pode ser ainda mais difícil.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição
dos curtas para atingir mais público?
Existem algumas
mostras de curtas que são muito importantes e incentivam a produção e acesso,
mas para formação de publico apreciador
talvez fosse interessante exibição de pelo menos um curta metragem antes
de toda sessão comercial de longa, por exemplo, ou ainda exibir e produzir
curtas nas escolas. A internet e redes sociais já contribuem pra isso, mas
devemos aproveitar melhor estes meios. Sem falar nos subsídios e incentivos
públicos que deveriam ser base de tudo isso.
O curta-metragem para um profissional
(seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Com base na minha
vivencia pessoal acho que o que difere ou possibilita a experimentação não está
na duração do filme, mas no modo de produção e criação estabelecido. Mas talvez
como a maioria dos longas estejam comprometidos com o mercado, acabam tendo menos
espaço pra isso.
O curta-metragem é um trampolim para
fazer um longa?
Acho que não, por que vendo como
trampolim parece estar depreciando o curta, então não consigo fazer esse
paralelo. De qualquer forma, entendo que
pode ser a oportunidade de um primeiro
contato com a área. No meu caso foi uma grande oportunidade de estreitar a relação com o cinema, mas
ainda não fiz um longa.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Nossa! Me pergunto isso todos os dias.
Mas de forma mais abrangente “como ser artista no Brasil?”
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Desejo muito dirigir.
Sobretudo depois da pesquisa sobre Ferreri. É uma via de mão dupla, ou tripla
(risos). Além de atuar e produzir tenho um estudo sobre propriocepção na preparação
de atores. Além disso acho que o fato de
ter a vivencia de atriz e também de estar por traz das câmeras instiga ainda
mais este desejo.