Cineasta, Dirigiu o
curta-metragem “O
trabalho enobrece o homem”.
O
que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Nos
meus filmes, não tenho escolha, faço porque faço. Nos filmes dos outros, uma
série de coisas contam, como por exemplo, a amizade que eu tenho com a pessoa,
mas sem deixar de pensar criticamente o que está sendo feito. Analiso uma série
de coisas, às vezes se percebo que o projeto é importante demais pra mina ou
pro cara, tenho uma tendência a querer me apaixonar também, porque acredito que
é daí onde as coisas mais interessantes saem, mesmo que sejam primeiríssimos
filmes, que a pessoa não “saiba” mexer numa câmera, isso não importa muito, o
que importa é o que é, naquela hora. Bom, às vezes participo por admiração, pra
aprender mais sobre cinema, sobre a vida. Nunca é só a ideia, é sempre a ideia
mais o ser humano.
Conte
sobre sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Ainda no colegial eu brincava de fazer
filme com uma câmera que tinha aqui em casa, que filmava 15 segundos e não
tinha som. Perdi essa câmera num parque de diversões e foi uma coisa muito
triste, mas no mesmo dia eu fiquei com uma mina que eu queria ficar, então não
foi tão triste assim. Minha mãe comprou outra pra eles (a câmera era dos outros
não minha), que filmava mais tempo e continuei fazendo vídeos-filmes. Depois
ganhei um celular do patrão da minha mãe e comecei a fazer filmes mais longos,
tipo de 1 minuto. Sai da escola e era isso que eu queria fazer, esses
filminhos. Fugi de fazer faculdade. Realizei dois curtas em codireção/produção/montagem/edição
de som/roteiro, enquanto me formava em cursos técnicos (que podem ser
considerados faculdade, como de fato foram), um se chama “Sobre Minhas Pernas”,
dirigido com o Danillo Marques, grande parceiro e irmão, e o outro é “O
Traveco”, dirigido com a Jeane Figueiredo. Os dois estão no Youtube, pra quem
quiser ver. Ainda enquanto estudava, fazia um filme chamado “Isso é uma Comédia
Desgraçada” e tive uma crise forte de não querer mais fazer filmes, daí, no
meio dessa crise eu fiz outro filme, montando um material de arquivo que tinha
aqui no PC. O resultado é talvez a coisa mais forte que eu já me propus a
fazer, disso saiu um filme chamado “Cohab”, que participa agora do 24º Festival
Internacional de Curtas Metragens de São Paulo. Terminei o “Isso é uma Comédia
Desgraçada” e atualmente estamos começando a distribuir ele. Em paralelo aos
filmes que realizei, fiz a direção de fotografia de outros três curtas, som
direto em outros, montagem em outros, assistência de câmera e maquinaria em
outros. Parece muita coisa (é porque eu li a resposta e achei que parece) mas
na verdade todas as coisas foram feitas no tempo delas, juro.
Porque
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque não dá dinheiro nem status. A
maioria das críticas e matérias de jornais sobre cinema são basicamente: veja o
filme, não veja o filme. Propaganda, babaca. Em jornais grandes, alguns
críticos me parecem interessante (não conheço muitos) e existe um numero bacana
de revistas online que se propõem a fazer um trampo sério de crítica. Nesses
espaços online, o curta tem espaço e atenção. Além disso você tem, é claro, as
opiniões em todo canto: blog, vlog, redes sociais. Isso não deixa de ser “mídia
e espaço”. Não vou falar nada específico do teu blog, porque não conheço quase
nada, e puxar o saco descaradamente ia fazer meu pau cair em sete dias.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Não
sei exatamente. Acredito que é uma coisa cultural, porque hoje em dia
curta-metragem é curta-metragem e longa-metragem é filme. Uma
coisa que acho bacana é a exibição de curtas antes de uma sessão de longa, como
os filmes da Pixar fazem. Recentemente tivemos uma experiência assim com o
filme “Olhe Pra Mim de Novo” do Kiko Goifman, que na verdade era uma sessão
conjunta com o filme “Vestido de Laerte”. Mas também percebo que tem que haver
um olhar meio curatorial para uma sessão conjunta assim, no caso da Pixar
sempre sinto que são duas sessões separadas, mas acho sempre bem legal, o
público está ali, porque não né? No caso do outro exemplo que citei, não
vi os filmes, então não consigo emitir uma opinião além de dizer que achei
muito legal a iniciativa. Também tenho a impressão que isso não é uma coisa tão
nova assim quanto os exemplos que eu dei. Enfim, como eu disse, não sei
exatamente.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Não
deveria haver um “campo” para liberdade de experimentação. Na verdade, se
existe, eu desconheço. Micro, curta, média ou longa, etc., sempre tem liberdade
de experimentação, o cinema é olhar com olhos livres. Só não tem liberdade pra
quem é bundão.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não.
Qual
a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se
for pra fazer sucesso e fama é fácil. Se rotule, vá a reuniões, “conheça”
pessoas, frequente lugares, more na Vila Madalena (ou região equivalente, que
“fica perto de tudo e dos lugares”), seja fodão contra tudo e todos e venda
isso como ser uma coisa muito legal, seja marginal pra ser herói, participe dos
festivais, participe, participe, “conheça” mais pessoas, adicione uma pitada de
fazer tudo isso inconscientemente. Receita simples, em qualquer escola de
cinema você acha ela e suas pequenas variações. Acho
que o que me interessa mais é a receita pra vencer O audiovisual brasileiro,
essa não tenho, deve ter gente que já tem. Tenho nem um ataquezinho barato e
engraçadinho pra brincar com convicções que vieram através de uma pouquíssima
experiência na “área”.
Pensa
em dirigir um curta futuramente?
Atualmente
estou trabalhando na montagem de um. Captando material de arquivo para outro e
no meio de uma filmagem de outro. Todos com direção minha, feito com parceiros
e amigos do coração. Mas sim, penso em dirigir um curta futuramente! (risos).