sábado, 17 de outubro de 2015

Lincoln Péricles


Cineasta, Dirigiu o curta-metragem “O trabalho enobrece o homem”.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Nos meus filmes, não tenho escolha, faço porque faço. Nos filmes dos outros, uma série de coisas contam, como por exemplo, a amizade que eu tenho com a pessoa, mas sem deixar de pensar criticamente o que está sendo feito. Analiso uma série de coisas, às vezes se percebo que o projeto é importante demais pra mina ou pro cara, tenho uma tendência a querer me apaixonar também, porque acredito que é daí onde as coisas mais interessantes saem, mesmo que sejam primeiríssimos filmes, que a pessoa não “saiba” mexer numa câmera, isso não importa muito, o que importa é o que é, naquela hora. Bom, às vezes participo por admiração, pra aprender mais sobre cinema, sobre a vida. Nunca é só a ideia, é sempre a ideia mais o ser humano.

Conte sobre sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Ainda no colegial eu brincava de fazer filme com uma câmera que tinha aqui em casa, que filmava 15 segundos e não tinha som. Perdi essa câmera num parque de diversões e foi uma coisa muito triste, mas no mesmo dia eu fiquei com uma mina que eu queria ficar, então não foi tão triste assim. Minha mãe comprou outra pra eles (a câmera era dos outros não minha), que filmava mais tempo e continuei fazendo vídeos-filmes. Depois ganhei um celular do patrão da minha mãe e comecei a fazer filmes mais longos, tipo de 1 minuto. Sai da escola e era isso que eu queria fazer, esses filminhos. Fugi de fazer faculdade. Realizei dois curtas em codireção/produção/montagem/edição de som/roteiro, enquanto me formava em cursos técnicos (que podem ser considerados faculdade, como de fato foram), um se chama “Sobre Minhas Pernas”, dirigido com o Danillo Marques, grande parceiro e irmão, e o outro é “O Traveco”, dirigido com a Jeane Figueiredo. Os dois estão no Youtube, pra quem quiser ver. Ainda enquanto estudava, fazia um filme chamado “Isso é uma Comédia Desgraçada” e tive uma crise forte de não querer mais fazer filmes, daí, no meio dessa crise eu fiz outro filme, montando um material de arquivo que tinha aqui no PC. O resultado é talvez a coisa mais forte que eu já me propus a fazer, disso saiu um filme chamado “Cohab”, que participa agora do 24º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo. Terminei o “Isso é uma Comédia Desgraçada” e atualmente estamos começando a distribuir ele. Em paralelo aos filmes que realizei, fiz a direção de fotografia de outros três curtas, som direto em outros, montagem em outros, assistência de câmera e maquinaria em outros. Parece muita coisa (é porque eu li a resposta e achei que parece) mas na verdade todas as coisas foram feitas no tempo delas, juro.

Porque os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque não dá dinheiro nem status. A maioria das críticas e matérias de jornais sobre cinema são basicamente: veja o filme, não veja o filme. Propaganda, babaca. Em jornais grandes, alguns críticos me parecem interessante (não conheço muitos) e existe um numero bacana de revistas online que se propõem a fazer um trampo sério de crítica. Nesses espaços online, o curta tem espaço e atenção. Além disso você tem, é claro, as opiniões em todo canto: blog, vlog, redes sociais. Isso não deixa de ser “mídia e espaço”. Não vou falar nada específico do teu blog, porque não conheço quase nada, e puxar o saco descaradamente ia fazer meu pau cair em sete dias.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Não sei exatamente. Acredito que é uma coisa cultural, porque hoje em dia curta-metragem é curta-metragem e longa-metragem é filme. Uma coisa que acho bacana é a exibição de curtas antes de uma sessão de longa, como os filmes da Pixar fazem. Recentemente tivemos uma experiência assim com o filme “Olhe Pra Mim de Novo” do Kiko Goifman, que na verdade era uma sessão conjunta com o filme “Vestido de Laerte”. Mas também percebo que tem que haver um olhar meio curatorial para uma sessão conjunta assim, no caso da Pixar sempre sinto que são duas sessões separadas, mas acho sempre bem legal, o público está ali, porque não né?  No caso do outro exemplo que citei, não vi os filmes, então não consigo emitir uma opinião além de dizer que achei muito legal a iniciativa. Também tenho a impressão que isso não é uma coisa tão nova assim quanto os exemplos que eu dei. Enfim, como eu disse, não sei exatamente.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Não deveria haver um “campo” para liberdade de experimentação. Na verdade, se existe, eu desconheço. Micro, curta, média ou longa, etc., sempre tem liberdade de experimentação, o cinema é olhar com olhos livres. Só não tem liberdade pra quem é bundão.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não.

Qual a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se for pra fazer sucesso e fama é fácil. Se rotule, vá a reuniões, “conheça” pessoas, frequente lugares, more na Vila Madalena (ou região equivalente, que “fica perto de tudo e dos lugares”), seja fodão contra tudo e todos e venda isso como ser uma coisa muito legal, seja marginal pra ser herói, participe dos festivais, participe, participe, “conheça” mais pessoas, adicione uma pitada de fazer tudo isso inconscientemente. Receita simples, em qualquer escola de cinema você acha ela e suas pequenas variações. Acho que o que me interessa mais é a receita pra vencer O audiovisual brasileiro, essa não tenho, deve ter gente que já tem. Tenho nem um ataquezinho barato e engraçadinho pra brincar com convicções que vieram através de uma pouquíssima experiência na “área”.  

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Atualmente estou trabalhando na montagem de um. Captando material de arquivo para outro e no meio de uma filmagem de outro. Todos com direção minha, feito com parceiros e amigos do coração. Mas sim, penso em dirigir um curta futuramente! (risos).