Cineasta e roteirista. É delas os curtas-metragens “O Tradutor” e “Mexerica
no Pé”. No SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), integra a equipe de
roteiristas da telenovela “Cúmplices de um Resgate”.
Qual é a
importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Não sou especialista no assunto, um crítico ou
estudioso vai responder essa pergunta melhor do que eu. Sei que a filmografia
nacional conta com vários títulos de curtas-metragens que foram importantes
para a construção do cinema brasileiro. Grandes realizadores, como Glauber
Rocha e Saraceni, surgiram e revolucionaram com seus curtas, trazendo uma
estética marcante e um estilo mais autoral. “Ilha das Flores” de Jorge Furtado é um filme que representou a
produção brasileira no estrangeiro, conquistando prêmios e sendo considerado um
dos curtas de maior importância do século XX. Durante o Governo Collor, foi a
produção de curtas-metragens que permaneceu em ativa, mesmo com a decaída dos
longas e da Lei do Curta. Essas são apenas algumas passagens contadas de forma
muito superficial, a história do curta-metragem brasileiro, apesar de pouco
explorada, é recheada de nomes, fatos e filmes importantes que são de grande
peso na filmografia nacional e influenciam cineastas até hoje. Seguindo
paralelamente ao cinema comercial e limitado aos festivais, o curta-metragem
tem sido uma ferramenta de expressão e exploração para artistas de muitas
gerações no meio audiovisual.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
Normalmente realizo filmes de curta duração como projetos
paralelos já que tenho um trabalho fixo como roteirista que me ocupa boa parte
do tempo. Todos os curtas-metragens que dirigi ou participei até hoje foram
meus ou de amigos meus. Para entrar na produção de um filme como diretora ou
roteirista, tenho que gostar muito da ideia, para ser um trabalho prazeroso e feito
com vontade, já que isso se reflete muito no resultado final. Gosto e tento
sempre pensar em propostas de filme que tenham potencial visual e estético e
com uma história bem fechada. Ter uma equipe afinada e um elenco legal (no caso
de ficção) que você sabe que pode contar é essencial. Verba e tempo viável para
a realização da obra são aspectos a se levar em consideração também.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
Em projetos de amigos, sempre
participei mais na parte de produção e arte. Já como roteirista e diretora,
tenho três filmes, sendo os dois primeiros de curtíssima duração, que serviram
mais como exercícios e me deram maior experiência para realizar o terceiro. “O
Tradutor” é o meu último curta e também o meu trabalho de conclusão de curso de
Bacharelado em Audiovisual. Foi uma ótima experiência como diretora, produtora
e roteirista, onde aprendi muito, desenvolvendo conceito, linguagem e estrutura
para curta-metragem. A cada projeto, eu pude entender melhor a dimensão de um
roteiro na prática e a importância do trabalho em equipe, a produção
audiovisual é uma verdadeira arte coletiva, que depende da contribuição de
todos os envolvidos e da visão bem definida do diretor.
Por que os curtas não têm espaço
em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O curta não é um formato financeiramente
interessante que atinge a grande massa. As poucas notícias que divulgam curtas
da atualidade normalmente são de quando aparecem em grandes festivais ou
envolvem algum ator global. O curta sozinho não tem seu espaço definido no
mercado. Muitos não têm o costume de apreciar esse tipo de obra ou nem sabem
que existe essa diferença entre curta-metragem e longa-metragem. A mídia e a
crítica focam nos longas comerciais de grande investimento, porque é o tipo de
produto que vende e o público compra. A internet é um dos poucos recursos a
favor dos curtas-metragistas hoje, que podem ter seus filmes divulgados através
de redes sociais, sites e blogs que incentivam o cinema, a cultura e as artes.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para
atingir mais público?
Curtas-metragens, selecionados por profissionais da área,
deveriam ser exibidos nas sessões antes dos longas, assim como acontecia
algumas décadas atrás com o Sistema do Curta. Todos os festivais deveriam ser
melhor divulgados na internet e outros meios de comunicação para informar o grande
público sobre o acontecimento deles. Filmes coletivos (longas compostos por
vários curtas que sejam interligados de alguma forma, por tema, estilo ou
direção, etc.) podem ser uma alternativa interessante para atrair mais
espectadores, já que as pessoas em geral não querem sair de casa, gastar com
deslocamento e comprar ingressos de cinema para ter apenas cinco à trinta
minutos de entretenimento. Sites e canais de vídeos na internet também cedem um
bom espaço para exibir trabalhos audiovisuais de curta duração e alcançar mais
espectadores, além dos cinéfilos e pessoas da área.
O curta-metragem para um profissional (seja ele
da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Com certeza, explorar ao máximo a
linguagem do cinema tem que ser um dos objetivos principais do realizador
dentro da proposta de um curta. A graça de fazer esse tipo de filme é
justamente essa, experimentar e brincar com os elementos que tem à disposição
para contar sua história. O formato do curta dá essa liberdade por não ter o
compromisso e a obrigatoriedade que longas ou programas televisivos normalmente
têm, de ser do agrado do público em geral e feito nos limites impostos por uma
produtora ou emissora.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Muitos realizadores têm seu
trabalho reconhecido, mostram sua capacidade como cineastas e até recebem
outras oportunidades através de seus curtas, mas não acho que ele tenha
necessariamente essa função de trampolim. Dominar o formato do curta-metragem
pode ajudar o realizador em projetos maiores como um longa, mas o curta é uma
categoria de filme com sua própria estrutura e linguagem, que você realiza como
uma forma de arte e não como um preparatório.
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se existe uma receita pronta,
também quero saber. Eu vejo que há muitas pessoas talentosas no mercado, mas
não é todo mundo que se destaca. No círculo audiovisual, além de ser criativo,
é preciso ter conhecimento, sensibilidade e técnica em sua área de atuação. O
que ajuda também é estar sempre preparado e atualizado no que está acontecendo
por aí, porque muita coisa nova vem surgindo a todo momento. E, assim como em
toda profissão, é importante se comprometer e se dedicar ao máximo à função que
está assumindo, seja um projeto grande ou pequeno, porque uma hora o seu
trabalho é reconhecido.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim.