segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Grace Iwashita


Cineasta e roteirista. É delas os curtas-metragens “O Tradutor” e “Mexerica no Pé”. No SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), integra a equipe de roteiristas da telenovela “Cúmplices de um Resgate”.

Qual é a importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Não sou especialista no assunto, um crítico ou estudioso vai responder essa pergunta melhor do que eu. Sei que a filmografia nacional conta com vários títulos de curtas-metragens que foram importantes para a construção do cinema brasileiro. Grandes realizadores, como Glauber Rocha e Saraceni, surgiram e revolucionaram com seus curtas, trazendo uma estética marcante e um estilo mais autoral. “Ilha das Flores” de Jorge Furtado é um filme que representou a produção brasileira no estrangeiro, conquistando prêmios e sendo considerado um dos curtas de maior importância do século XX. Durante o Governo Collor, foi a produção de curtas-metragens que permaneceu em ativa, mesmo com a decaída dos longas e da Lei do Curta. Essas são apenas algumas passagens contadas de forma muito superficial, a história do curta-metragem brasileiro, apesar de pouco explorada, é recheada de nomes, fatos e filmes importantes que são de grande peso na filmografia nacional e influenciam cineastas até hoje. Seguindo paralelamente ao cinema comercial e limitado aos festivais, o curta-metragem tem sido uma ferramenta de expressão e exploração para artistas de muitas gerações no meio audiovisual.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Normalmente realizo filmes de curta duração como projetos paralelos já que tenho um trabalho fixo como roteirista que me ocupa boa parte do tempo. Todos os curtas-metragens que dirigi ou participei até hoje foram meus ou de amigos meus. Para entrar na produção de um filme como diretora ou roteirista, tenho que gostar muito da ideia, para ser um trabalho prazeroso e feito com vontade, já que isso se reflete muito no resultado final. Gosto e tento sempre pensar em propostas de filme que tenham potencial visual e estético e com uma história bem fechada. Ter uma equipe afinada e um elenco legal (no caso de ficção) que você sabe que pode contar é essencial. Verba e tempo viável para a realização da obra são aspectos a se levar em consideração também.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Em projetos de amigos, sempre participei mais na parte de produção e arte. Já como roteirista e diretora, tenho três filmes, sendo os dois primeiros de curtíssima duração, que serviram mais como exercícios e me deram maior experiência para realizar o terceiro. “O Tradutor” é o meu último curta e também o meu trabalho de conclusão de curso de Bacharelado em Audiovisual. Foi uma ótima experiência como diretora, produtora e roteirista, onde aprendi muito, desenvolvendo conceito, linguagem e estrutura para curta-metragem. A cada projeto, eu pude entender melhor a dimensão de um roteiro na prática e a importância do trabalho em equipe, a produção audiovisual é uma verdadeira arte coletiva, que depende da contribuição de todos os envolvidos e da visão bem definida do diretor.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O curta não é um formato financeiramente interessante que atinge a grande massa. As poucas notícias que divulgam curtas da atualidade normalmente são de quando aparecem em grandes festivais ou envolvem algum ator global. O curta sozinho não tem seu espaço definido no mercado. Muitos não têm o costume de apreciar esse tipo de obra ou nem sabem que existe essa diferença entre curta-metragem e longa-metragem. A mídia e a crítica focam nos longas comerciais de grande investimento, porque é o tipo de produto que vende e o público compra. A internet é um dos poucos recursos a favor dos curtas-metragistas hoje, que podem ter seus filmes divulgados através de redes sociais, sites e blogs que incentivam o cinema, a cultura e as artes.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Curtas-metragens, selecionados por profissionais da área, deveriam ser exibidos nas sessões antes dos longas, assim como acontecia algumas décadas atrás com o Sistema do Curta. Todos os festivais deveriam ser melhor divulgados na internet e outros meios de comunicação para informar o grande público sobre o acontecimento deles. Filmes coletivos (longas compostos por vários curtas que sejam interligados de alguma forma, por tema, estilo ou direção, etc.) podem ser uma alternativa interessante para atrair mais espectadores, já que as pessoas em geral não querem sair de casa, gastar com deslocamento e comprar ingressos de cinema para ter apenas cinco à trinta minutos de entretenimento. Sites e canais de vídeos na internet também cedem um bom espaço para exibir trabalhos audiovisuais de curta duração e alcançar mais espectadores, além dos cinéfilos e pessoas da área.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Com certeza, explorar ao máximo a linguagem do cinema tem que ser um dos objetivos principais do realizador dentro da proposta de um curta. A graça de fazer esse tipo de filme é justamente essa, experimentar e brincar com os elementos que tem à disposição para contar sua história. O formato do curta dá essa liberdade por não ter o compromisso e a obrigatoriedade que longas ou programas televisivos normalmente têm, de ser do agrado do público em geral e feito nos limites impostos por uma produtora ou emissora.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Muitos realizadores têm seu trabalho reconhecido, mostram sua capacidade como cineastas e até recebem outras oportunidades através de seus curtas, mas não acho que ele tenha necessariamente essa função de trampolim. Dominar o formato do curta-metragem pode ajudar o realizador em projetos maiores como um longa, mas o curta é uma categoria de filme com sua própria estrutura e linguagem, que você realiza como uma forma de arte e não como um preparatório.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se existe uma receita pronta, também quero saber. Eu vejo que há muitas pessoas talentosas no mercado, mas não é todo mundo que se destaca. No círculo audiovisual, além de ser criativo, é preciso ter conhecimento, sensibilidade e técnica em sua área de atuação. O que ajuda também é estar sempre preparado e atualizado no que está acontecendo por aí, porque muita coisa nova vem surgindo a todo momento. E, assim como em toda profissão, é importante se comprometer e se dedicar ao máximo à função que está assumindo, seja um projeto grande ou pequeno, porque uma hora o seu trabalho é reconhecido.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim.