sábado, 17 de outubro de 2015

Milena Times


Se formou em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco. Trabalha com cinema desde 2007, atuando como produtora, assistente de direção e realizadora. Produziu o longa-metragem documentário “Pacific” (de Marcelo Pedroso) e foi assistente de direção de filmes como “Mens Sana in Corpore Sano” (de Juliano Dornelles), “O Som ao Redor” (de Kleber Mendonça Filho) e “Tatuagem” (de Hilton Lacerda). Atualmente é mestranda em Comunicação e Sociedade na Universidade de Brasília. “Au Revoir” é seu primeiro curta-metragem como roteirista e diretora.

Qual é a importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Em cada momento histórico o curta-metragem desempenhou um papel diferente, mas sempre foi importante como espaço criativo de experimentação e contestação. Nos momentos de maior retração de mercado, foi o curta que manteve o audiovisual nacional pulsando.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O curta-metragem normalmente é a porta de entrada para quem quer trabalhar com cinema. Não conheço nenhuma pessoa que tenha começado com longas, ou que só tenha participado de longas. A produção de um curta-metragem é um excelente espaço de aprendizagem e experimentação, é onde se permite que pessoas com pouca ou nenhuma experiência possam rodar pelas funções e testar suas aptidões. E mesmo depois de adquirir certa experiência, acredito que o curta-metragem, por ser uma produção menos complexa, com menos cobranças comerciais envolvidas, continua sendo um ótimo nicho de trabalho, que permite conhecer pessoas novas e arriscar experimentações estéticas e narrativas sem que haja tanta expectativa em torno disso. 

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Além de um par de curtas que realizei junto com colegas de faculdade, meu primeiro curta-metragem foi “Mens Sana In Corpore Sano”, de Juliano Dornelles, no qual atuei como assistente de direção. Foi uma prova de fogo para quem só tinha trabalhado amadoramente até então, pois se tratava de um filme complexo, com efeitos especiais envolvidos etc. Mas foi uma experiência tão marcante que me fez optar pela assistência de direção como função majoritária e determinou a minha trajetória a partir dali. De 2009 para cá, fiz assistência de direção de 3 longas e 5 curtas. Sob determinado ponto de vista, os curtas foram experiências mais desafiadoras, não só pela limitação financeira das produções, mas principalmente porque tinham propostas de realização bastante particulares.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que a cobertura da mídia está diretamente ligada aos espaços de exibição. Além de alguns poucos portais e canais de TV a cabo, ou da iniciativa independente das produtoras que lançam na internet os seus filmes, o acesso ao curta-metragem ainda é muito restrito ao circuito de festivais. É durante os festivais de maior notoriedade que os curtas ganham mais espaço na mídia. Penso que uma mudança de atitude da imprensa em relação aos curtas depende um pouco também da busca por mais espaço para o curta-metragem em outras janelas, como a televisão aberta e o cinema comercial.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A janela de maior penetração ainda é a televisão aberta. Dedicar espaço para o curta-metragem na TV é crucial para que as pessoas dos mais diversos estratos sociais e culturais possam ter acesso aos curtas e, principalmente, criar o hábito de assistir curtas. Outra iniciativa interessante é a de exibir curtas antes das sessões dos longas nas salas de cinema, deixando essa opção para o espectador. Por fim, divulgar os curtas na internet é essencial. Os realizadores e as produtoras precisam ter em mente que a carreira do curta não termina nos festivais. É preciso deixá-lo na rede para que possa ser visto a qualquer tempo e em qualquer lugar.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sim. A expectativa que se tem em torno de curta é muito menor que um longa-metragem. O longa-metragem às vezes precisa responder à demanda de patrocinadores ou futuros agentes comerciais e isso pode limitar a liberdade dos realizadores. No curta, essas amarras são bem mais frouxas. Os produtores e realizadores têm autonomia para fazer experimentos sem a preocupação do retorno ou do impacto que eles terão. Muitas vezes, é por assumir esses riscos que resultados surpreendentes e inovadores são alcançados através dos curtas, talvez com mais frequência ou antecedência que nos longas. 

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não penso que seja um trampolim. Por ser mais fácil e viável realizar um curta, é claro que ele se torna um espaço de experimentação e prática que certamente irá ajudar na incursão de um longa-metragem. Não só pela experiência que proporciona, mas também porque ajuda o produtor e/ou diretor a fazer seu nome no setor. É muito difícil conseguir financiamento ou patrocínio para um primeiro longa sem ter uma carreira prévia no curta-metragem. Mas isso não significa que é o caminho que todos seguem ou devem seguir. Acho que o curta é um formato autônomo e que merece o investimento artístico e financeiros dos produtores e realizadores, independente do objetivo de fazer longas futuramente.  

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não acredito em receitas. Realizadores e produtores alcançaram notoriedade através de caminhos e estratégias diferentes, não há norma a seguir. É importante estar por dentro do que está acontecendo no mercado, das políticas públicas voltadas o audiovisual, dos mecanismos de incentivo etc. Mas tudo vai depender do tipo de projeto que se quer levar à frente e do tipo de resultado que se quer alcançar. Nesse sentido, o conceito de vitória ou sucesso pode ser bem relativo. 

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. "Au Revoir" é o meu primeiro curta como roteirista e diretora, mas já tenho projetos para outros dois curtas, que espero realizar em breve.