Se
formou em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco. Trabalha com
cinema desde 2007, atuando como produtora, assistente de direção e realizadora.
Produziu o longa-metragem documentário “Pacific” (de Marcelo Pedroso) e foi
assistente de direção de filmes como “Mens Sana in Corpore Sano” (de Juliano
Dornelles), “O Som ao Redor” (de Kleber Mendonça Filho) e “Tatuagem” (de Hilton
Lacerda). Atualmente é mestranda em Comunicação e Sociedade na Universidade de
Brasília. “Au Revoir” é seu primeiro curta-metragem como roteirista e diretora.
Qual é a
importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Em cada
momento histórico o curta-metragem desempenhou um papel diferente, mas sempre
foi importante como espaço criativo de experimentação e contestação. Nos
momentos de maior retração de mercado, foi o curta que manteve o audiovisual
nacional pulsando.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O curta-metragem normalmente é a porta de entrada para quem quer trabalhar com
cinema. Não conheço nenhuma pessoa que tenha começado com longas, ou que só
tenha participado de longas. A produção de um curta-metragem é um excelente
espaço de aprendizagem e experimentação, é onde se permite que pessoas com
pouca ou nenhuma experiência possam rodar pelas funções e testar suas aptidões.
E mesmo depois de adquirir certa experiência, acredito que o curta-metragem,
por ser uma produção menos complexa, com menos cobranças comerciais envolvidas,
continua sendo um ótimo nicho de trabalho, que permite conhecer pessoas novas e
arriscar experimentações estéticas e narrativas sem que haja tanta expectativa
em torno disso.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Além de
um par de curtas que realizei junto com colegas de faculdade, meu primeiro
curta-metragem foi “Mens Sana In Corpore Sano”, de Juliano Dornelles, no qual
atuei como assistente de direção. Foi uma prova de fogo para quem só tinha
trabalhado amadoramente até então, pois se tratava de um filme complexo, com
efeitos especiais envolvidos etc. Mas foi uma experiência tão marcante que me
fez optar pela assistência de direção como função majoritária e determinou a
minha trajetória a partir dali. De 2009 para cá, fiz assistência de direção de
3 longas e 5 curtas. Sob determinado ponto de vista, os curtas foram
experiências mais desafiadoras, não só pela limitação financeira das produções,
mas principalmente porque tinham propostas de realização bastante particulares.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que
a cobertura da mídia está diretamente ligada aos espaços de exibição. Além de
alguns poucos portais e canais de TV a cabo, ou da iniciativa independente das
produtoras que lançam na internet os seus filmes, o acesso ao curta-metragem
ainda é muito restrito ao circuito de festivais. É durante os festivais de
maior notoriedade que os curtas ganham mais espaço na mídia. Penso que uma
mudança de atitude da imprensa em relação aos curtas depende um pouco também da
busca por mais espaço para o curta-metragem em outras janelas, como a televisão
aberta e o cinema comercial.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A janela
de maior penetração ainda é a televisão aberta. Dedicar espaço para o
curta-metragem na TV é crucial para que as pessoas dos mais diversos estratos
sociais e culturais possam ter acesso aos curtas e, principalmente, criar o
hábito de assistir curtas. Outra iniciativa interessante é a de exibir curtas
antes das sessões dos longas nas salas de cinema, deixando essa opção para o
espectador. Por fim, divulgar os curtas na internet é essencial. Os
realizadores e as produtoras precisam ter em mente que a carreira do curta não
termina nos festivais. É preciso deixá-lo na rede para que possa ser visto a
qualquer tempo e em qualquer lugar.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou
produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sim. A
expectativa que se tem em torno de curta é muito menor que um longa-metragem. O
longa-metragem às vezes precisa responder à demanda de patrocinadores ou
futuros agentes comerciais e isso pode limitar a liberdade dos realizadores. No
curta, essas amarras são bem mais frouxas. Os produtores e realizadores têm
autonomia para fazer experimentos sem a preocupação do retorno ou do impacto
que eles terão. Muitas vezes, é por assumir esses riscos que resultados
surpreendentes e inovadores são alcançados através dos curtas, talvez com mais
frequência ou antecedência que nos longas.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não penso
que seja um trampolim. Por ser mais fácil e viável realizar um curta, é claro
que ele se torna um espaço de experimentação e prática que certamente irá
ajudar na incursão de um longa-metragem. Não só pela experiência que
proporciona, mas também porque ajuda o produtor e/ou diretor a fazer seu nome
no setor. É muito difícil conseguir financiamento ou patrocínio para um
primeiro longa sem ter uma carreira prévia no curta-metragem. Mas isso não
significa que é o caminho que todos seguem ou devem seguir. Acho que o curta é
um formato autônomo e que merece o investimento artístico e financeiros dos
produtores e realizadores, independente do objetivo de fazer longas
futuramente.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não
acredito em receitas. Realizadores e produtores alcançaram notoriedade através
de caminhos e estratégias diferentes, não há norma a seguir. É importante estar
por dentro do que está acontecendo no mercado, das políticas públicas voltadas
o audiovisual, dos mecanismos de incentivo etc. Mas tudo vai depender do tipo
de projeto que se quer levar à frente e do tipo de resultado que se quer
alcançar. Nesse sentido, o conceito de vitória ou sucesso pode ser bem
relativo.
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
Sim. "Au Revoir" é o meu primeiro curta como roteirista e
diretora, mas já tenho projetos para outros dois curtas, que espero realizar em
breve.