Técnico de som e cineasta. Dirigiu o curta-metragem “O Absolutismo das Coisas”.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
Minha estreia como diretor de curtas-metragens aconteceu no ano passado
com o filme “O Absolutismo das Coisas” (rodado em seis dias! Sou fiel a meus
próprios critérios, ainda bem). O filme teve excelente recepção do público em
geral, mas acabou participando de poucos festivais brasileiros por conta da duração
(24 minutos): não pode ser inscrito em muitos festivais no Brasil, a maioria
limitado a 20 minutos. Mas participou do 23º Festival de Curtas de São Paulo e
da metade dos festivais brasileiros nos quais se inscreveu.
Tango, meu segundo curta metragem acaba de estrear no 24º Festival de
Curtas de São Paulo, com boa recepção de público e dos colegas de profissão.
Como técnico de som, vivi grandes momentos em minha carreira em filmes
importantes da cinematografia brasileira: “Amor só de mãe”, de Denison Ramalho,
“Seu Nenê”, documentário de Carlos Cortez, “Confiança”, curta de Beto Brant
exibido na TV, “São Silvestre”, documentário e obra-prima, na minha opinião, de
Lina Chamie, “Plano Sequência”, de Patrícia Moran, “Pobres Diabos no Paraíso”,
de Fernando Coimbra, “Ex Inferis”, de Paulo Miranda, “Nanoilusão”, de Francisco
Garcia, “Requiem”, de Moira Toledo e “N.Dezorzi, 4 Minutos” de Sérgio Volpi e a
lista sempre seguirá sempre incompleta. É perigoso este tipo de lista pois
sempre acabam ocorrendo esquecimentos fatais. Achei importante enumerar estes
exemplos para se ter uma ideia de que a mesma sorte que tive nos projetos de
longa metragem dos quais participei, eu tive em relação a qualidade dos curtas
em que participei.
A ressalva sobre a sua pergunta, sobre o curta ser uma passagem para o
longa, talvez deva ser repetida aqui: não é porque se trata de um curta
metragem, que as pessoas não devam procurar os profissionais mais capacitados e
experientes: ao contrário, é uma forma de permitir que você tenha o melhor
resultado possível. Mas por outro lado, o curta é também uma oportunidade para novos
talentos. Remetendo a outra pergunta sua, a tal "fórmula mágica" do
sucesso na carreira seria essa: trabalho duro, dedicação e sobretudo abnegação,
qualidades importantes e necessárias para aqueles que se dedicam
profissionalmente ao filme de curta metragem.
Para terminar: tenho
muito orgulho de ter perdido a conta de quantos curtas fiz em minha vida!
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da
mídia em geral?
Acho que isso tem mudado. O curta tem encontrado seu espaço na TV
fechada e na internet. Sendo uma forma alternativa de produção de conteúdo, é
normal que encontre nos veículos alternativos o seu espaço.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais
público?
O mais bacana seria voltar aquela ideia de exibir um curta antes do
longa. O público ficou meio traumatizado por causa do tempo que isto era lei e
que passavam filmes horríveis, de operação no olho a pseudo cine jornais que
apresentavam publicidade de eventos como "feira de sapatos" e eventos
do tipo. Com a qualidade dos filmes de curta metragem de hoje, seria fácil do
público gostar. E poderia não ser obrigatório, mas alternativo: a pessoa
escolhe assistir uma sessão com ou sem curta. Acho que em Porto Alegre há uma
iniciativa como esta...
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação,
direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sem dúvida! Isto pode ser comprovado pela quantidade de filmes que tem a
proposta de renovação da linguagem cinematográfica. E acho que os festivais de
cinema curta metragem, em geral, são muito receptivos a isto.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acho isso um tipo de preconceito chato! Acho que o curta metragem pode ser um trampolim para fazer
um longa, mas não necessariamente. Lembro sempre do Joel Pizzini, que é um dos
mais talentosos diretores que temos no Brasil, que já afirmou várias vezes que
o curta para ele é um fim em si. Ele até fez um longa, mas tem retornado ao
curta em diversos momentos de sua carreira. Acho que esta é uma falsa
discussão. Existem ideias e projetos: se serve para curta é uma coisa. Se serve
para longa é outra!
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se houvesse uma receita ficava fácil demais... e chato, não é mesmo?
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, tenho um projeto intitulado “Cine Olímpia”, que adoraria poder
realizar. Devo inscrevê-lo nos próximos editais.