segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Louis Robin


Técnico de som e cineasta. Dirigiu o curta-metragem “O Absolutismo das Coisas”.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Minha estreia como diretor de curtas-metragens aconteceu no ano passado com o filme “O Absolutismo das Coisas” (rodado em seis dias! Sou fiel a meus próprios critérios, ainda bem). O filme teve excelente recepção do público em geral, mas acabou participando de poucos festivais brasileiros por conta da duração (24 minutos): não pode ser inscrito em muitos festivais no Brasil, a maioria limitado a 20 minutos. Mas participou do 23º Festival de Curtas de São Paulo e da metade dos festivais brasileiros nos quais se inscreveu. 
Tango, meu segundo curta metragem acaba de estrear no 24º Festival de Curtas de São Paulo, com boa recepção de público e dos colegas de profissão.

Como técnico de som, vivi grandes momentos em minha carreira em filmes importantes da cinematografia brasileira: “Amor só de mãe”, de Denison Ramalho, “Seu Nenê”, documentário de Carlos Cortez, “Confiança”, curta de Beto Brant exibido na TV, “São Silvestre”, documentário e obra-prima, na minha opinião, de Lina Chamie, “Plano Sequência”, de Patrícia Moran, “Pobres Diabos no Paraíso”, de Fernando Coimbra, “Ex Inferis”, de Paulo Miranda, “Nanoilusão”, de Francisco Garcia, “Requiem”, de Moira Toledo e “N.Dezorzi, 4 Minutos” de Sérgio Volpi e a lista sempre seguirá sempre incompleta. É perigoso este tipo de lista pois sempre acabam ocorrendo esquecimentos fatais. Achei importante enumerar estes exemplos para se ter uma ideia de que a mesma sorte que tive nos projetos de longa metragem dos quais participei, eu tive em relação a qualidade dos curtas em que participei.

A ressalva sobre a sua pergunta, sobre o curta ser uma passagem para o longa, talvez deva ser repetida aqui: não é porque se trata de um curta metragem, que as pessoas não devam procurar os profissionais mais capacitados e experientes: ao contrário, é uma forma de permitir que você tenha o melhor resultado possível. Mas por outro lado, o curta é também uma oportunidade para novos talentos.  Remetendo a outra pergunta sua, a tal "fórmula mágica" do sucesso na carreira seria essa: trabalho duro, dedicação e sobretudo abnegação, qualidades importantes e necessárias para aqueles que se dedicam profissionalmente ao filme de curta metragem.   

Para terminar: tenho muito orgulho de ter perdido a conta de quantos curtas fiz em minha vida! 

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que isso tem mudado. O curta tem encontrado seu espaço na TV fechada e na internet. Sendo uma forma alternativa de produção de conteúdo, é normal que encontre nos veículos alternativos o seu espaço.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
O mais bacana seria voltar aquela ideia de exibir um curta antes do longa. O público ficou meio traumatizado por causa do tempo que isto era lei e que passavam filmes horríveis, de operação no olho a pseudo cine jornais que apresentavam publicidade de eventos como "feira de sapatos" e eventos do tipo. Com a qualidade dos filmes de curta metragem de hoje, seria fácil do público gostar. E poderia não ser obrigatório, mas alternativo: a pessoa escolhe assistir uma sessão com ou sem curta. Acho que em Porto Alegre há uma iniciativa como esta...

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sem dúvida! Isto pode ser comprovado pela quantidade de filmes que tem a proposta de renovação da linguagem cinematográfica. E acho que os festivais de cinema curta metragem, em geral, são muito receptivos a isto.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acho isso um tipo de preconceito chato! Acho que o curta metragem pode ser um trampolim para fazer um longa, mas não necessariamente. Lembro sempre do Joel Pizzini, que é um dos mais talentosos diretores que temos no Brasil, que já afirmou várias vezes que o curta para ele é um fim em si. Ele até fez um longa, mas tem retornado ao curta em diversos momentos de sua carreira. Acho que esta é uma falsa discussão. Existem ideias e projetos: se serve para curta é uma coisa. Se serve para longa é outra!

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se houvesse uma receita ficava fácil demais... e chato, não é mesmo?

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, tenho um projeto intitulado “Cine Olímpia”, que adoraria poder realizar. Devo inscrevê-lo nos próximos editais.