Atriz.
Atuou nos curtas-metragens “O Retrato de Deus Quando Jovem”; “Pobres
diabos no Paraíso”; “Trópico das Cabras”; "A Bordo"; entre outros.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O cinema
me interessa como arte, assim como o teatro me interessa, são linguagens que me
inspiram como artista. Pra mim não importa se é um curta, o um longa-metragem,
mergulho com a mesma intensidade. Antes de mais nada, o que me atrai, é o fato
de ser chamada, digo, que tenham pensado em mim para determinado papel. Depois
disso vem o papel em si, o roteiro, a ação, que acredito esteja ali, a espera
de uma intervenção humana. A soma de tudo, a química produzida pela equipe,
tudo isso me instiga, me interessa, e me faz aceitar um convite pra filmar
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em
produções em curta-metragem.
Fiz
meu primeiro curta assim que entrei na escola de teatro: “O Retrato de Deus
Quando Jovem”, o que pra mim foi uma surpresa, no dia do teste pra escola,
uma pessoa chegou até mim e disse: - quer fazer um filme...?! ACEITEI! Fui
dirigida por Fernando Coimbra, que hoje estreia seu primeiro longa: “O
Lobo Atrás da Porta”. Meu segundo curta também foi dirigido por ele, “Pobres
diabos no Paraíso”, e também o terceiro, “Trópico das Cabras”...
Essas parcerias acontecem muito no cinema, quando a ator vira quase um alter ego
do diretor. Ser dirigida pelo mesmo cineasta na sequência, tem um certo
conforto na linguagem... mas paradoxalmente, a atuação é sempre uma nova
descoberta, de personagem pra personagem, além disso, a língua cinema é
feita de frases entrecortadas, uma poesia concretista sem sequência
linear, o que para um ator de teatro é um desafio enorme. Fazer cinema, nunca é
confortável pra um ator que vem do teatro. Acho que o Curta, amplia ainda mais
essa sensação pelo curto tempo em que que é realizado. Depois desses curtas
vieram mais três, um que fui chamada pra ser secretária do Peréio, e que até
hoje não vi, “Pete Pode Tudo”, de Anahi Borges, e acabo de fazer “Walking
Bass”, de Caio Ferraz e Luis Romero. Enfim...minha vida nos curtas está só
começando...
Por que os curtas não têm espaço
em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não
sei dizer exatamente por que os curtas não tem espaço no jornal, acho que passa
pelo mesmo problema que os longas nacionais, que o teatro, que a cultura . A cultura
não tem espaço no jornal. Por exemplo, você estreia uma peça, fica horas
sentada conversando com a repórter, que está ali com aquela simpatia estampada,
aquele ar de interesse. Quando abre a página de Cultura do Jornal, o assunto é
o filme estrangeiro de não sei quem, ou pior, o anúncio colossal da marca X. A
matéria sobre a peça esta perdida, "espremidinha na pagininha tal",
sem nada do que foi dito, ou com tudo cortado, absolutamente sem sentido. O
jornal está cada vez mais patético na sua dicotomia mercado/veículo de formador
de opinião. A TV então... nem se fala, mil e um canais pra
"descerebração"! Infelizmente a moeda corrente é o lucro, a notícia é
notícia se gerar automaticamente mais mídia, mais Ibope, mais pontos de
audiência, ela não é um parâmetro pra informação, pra criação, ela é uma moeda.
Nesse sentido acho que as redes sociais, a tecnologia, a mídia ninja que cada
um pratica diariamente, todo esse movimento que surge com muita força vai desmonopolizar
isso.
Na sua opinião, como deveria ser
a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que
os curtas deveriam ser exibidos em todas as salas de cinema antes dos longas,
ao invés dos trailers. Infelizmente esse espaço já virou capital também, você
paga e anuncia qualquer coisa ali. Acho que os cineastas deviam associar seus
longas aos curtas-metragens que lhes interessam, acho que deveria haver uma
generosidade "Belair" entre os cineastas. Acho que
deveria haver um movimento nacional de soma das artes pra transformação da
Cultura, estamos muito isolados, cada um tentando garantir sua feira...
Ao mesmo tempo, está aí o
festival de curtas, as mostras nas cidades... mas se pensarmos no poder
coletivo disso... estamos marcando toca...
O curta-metragem para um
profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o
grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que
a arte precisa, cada vez mais se libertar dos parâmetros comerciais... e não
quero dizer com isso, não ganhar dinheiro, muito pelo contrário, quero dizer:
-Criar espaço pra valorização do que não está
catalogado, rotulado, aceito.
A cada
vez que alguém, diretor, ator, escritor, fotógrafo, tem a coragem de mergulhar
no seu espaço interno, na sua necessidade vital, que pra mim se traduz em
espaço pra experimentação, liberdade de criação, e traz isso pro mundo, ele
desamarra a máquina.
Não é uma
exclusividade do curta, do longa, isso são catálogos. É o papel do
artista, é a coragem do produtor. Senão
parece isso: - coisa de moleque, coisa de adulto. No pior
sentido, anarquia X caretice?!
Não!
O artista adulto tem que ser o
anarquista coroado, livre, pra fazer o que quiser.
O curta-metragem é um trampolim
para fazer um longa?
Nada é
trampolim pra nada. Só mesmo na piscina. E o mais interessante, se pensarmos na
metáfora da piscina, é lembrar que é um impulso que nos alavanca pro alto
pra voltarmos pra baixo, pro profundo... Acho esse termo
aliás - ridículo. Acho que se alguém está fazendo algo apenas como escada
pra chegar em algum lugar, cumprindo metas, está perdendo tempo precioso. Eu
não faço uma coisa pra chegar na outra, a não ser quando pego metrô, isso se
chama transporte, locomoção. Se você não fizer intensamente algo, não se
transformará, não vai sair do lugar. Se colocarmos a questão no campo da
experiência, talvez começar por uma estrutura menor, conduza com mais
propriedade pra uma escala maior...mas isso é muito pessoal.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Não tenho
a menor ideia. Não acho que exista receita, inclusive esse termo
A-u-d-i-o-
v-i-s-u-a-l-b-r-a-s-i-l-e-i-r-o, já é pra mim uma abstração, o que é o
"audiovisualbrasileiro", se pensarmos Euclidianamente? Digo, se
voltarmos para as páginas de Os Sertões, de Euclides da Cunha? Se
pensarmos na impossibilidade de catalogar , de resumir "o
brasileiro", pela infinidade de equações que geram essa nacionalidade.
O que
é? Impossível...
Vou dizer
mais... nem mesmo recita de bolo, é garantia de resultado. Deixemos
de lado essas abstrações...
Eu deixo .
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Talvez...