Cineasta. De
2009 a 2012 integrou a equipe de produção do “Festival de Cinema de Santos” (Curta
Santos), acompanhando o que há de novo na produção
cinematográfica. Graduado em Cinema pela Universidade Anhembi Morumbi em
2013, aprimorou sua formação em direção cinematográfica, tendo como filme
estreante o curta-metragem “Nina”,
filme que, com a temática circense e a intersecção de linguagens, marca a
busca do diretor por exercer a poesia no cinema. Prêmio: Melhor
ficção do 5o Festival Internacional de Cinema Independente -
Kino-Olho - FIIK (Rio Claro, Brasil).
Qual
é a importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Acredito
que a principal característica da realização de um curta-metragem e,
portanto, a mais importante, é estarmos em um terreno de experimentação. Uso
esta palavra pela ambiguidade. Fazer um curta-metragem é naturalmente uma
experimentação, pois, aquele que pretende trabalhar com cinema passará,
provavelmente, por projetos menores antes de embarcar em outras aventuras. Por
outro lado, os curtas são uma grande escola de experimentação de linguagem, de
criação e consequentemente, resistência à imposição de identidade única ou
regra para fazer cinema. Infelizmente em nosso contexto os curtas metragens são
vistos por muita pouca gente quando pensamos nos números de nossa população; os
curtas são vistos por aqueles que trabalham com cinema ou em áreas artísticas e
alguns "poucos" simpatizantes.
Com
isto, acredito que a importância do curta-metragem num país como o Brasil, que
almeja uma indústria tendo que concorrer com a invasão dos Estados Unidos e sua
Hollywood, está no registro da nossa diversificada e vasta cultura, nas
possibilidades ainda pequenas de estruturarmos uma indústria autossustentável
com aqueles que ultrapassam o universo dos curtas e vão fazer longas metragens,
e o tão importante ato de resistência que possibilita a produção de festivais
de curtas metragens, em pequenas ou grandes cidades, pelo simples motivo de que
as pessoas merecem ter acesso ao que está sendo produzido, ao que está sendo
criado.
O que te faz aceitar
participar de produções em curta-metragem? Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Na
verdade, até hoje, as participações que tive em curtas metragens foram projetos
que surgiram de ideias minhas e que eu dirigi, sendo o principal deles o curta
"Nina", que está atualmente no circuito de festivais. Paralelamente
eu trabalhei quatro anos na produção de um festival de cinema, o “Curta Santos”,
onde tive acesso a muitos filmes que estavam no circuito. Com isso, acredito
que meus ideais vão quase sempre coincidir com projetos que tenham mais
liberdade criativa, consciência da linguagem que estamos usando, e que as
decisões estejam fora de uma determinação comercial. Sabendo das dificuldades,
procuro dar andamentos aos projetos que tenho seja em cinema ou qualquer outra
área artística, enquanto isso vou me dividindo em outro emprego.
Por
que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em
geral?
Se
eles não têm espaço nem nos próprios cinemas, como teriam no jornal ou mídia?
Há quem nem saiba o que é um curta-metragem (e a culpa não é só deles!). No
fundo, esbarro na questão da educação; somos educados para produzir, não para
pensar, somos educados para ouvir muito e falar pouco; nas salas de cinema,
procuramos passar o tempo, e não viver o tempo, ou seja, há uma ideia massiva
de que os filmes são, exatamente "passatempos", sem dar espaço para
os outros tipos de filme. Os curtas tendem a ter uma visão mais artística,
política ou autoral, enquanto o "cinemão" tende a pregar ideais que
acabam abafando aqueles citados anteriormente. Assim vai ficando difícil curta-metragem
virar notícia.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A
questão de atingir mais público é digna, claro, mas se não tomarmos cuidado,
podemos simplificá-la demais. Se a intenção for essa, incondicionalmente,
porque não fazemos televisão ou postamos os filmes na internet de uma vez? As
possibilidades de dar mais ibope são infinitamente maiores. Por um lado, há uma
corrida de encontrar seu espaço no mercado audiovisual, para sustentar-se,
obviamente, e também para alimentar uma possível indústria, que muitas vezes
faz este realizador cair na publicidade e outros trabalhos audiovisuais; há
também uma relação entre o realizador e o exibidor (festivais), que
alimenta a exclusão dos curtas-metragens, quando os regulamentos de alguns
festivais, por exemplo, pedem exclusividade de que o filme ainda não tenha sido
postado na internet ou exibido em televisão; por outro lado, porque o filme
merece ser visto em largas proporções: tela grande, som alto? Qual é a
consciência que o realizador tem disso? Passo por essas questões para
questionar: o que faria do curta-metragem uma atração? O que o difere da
televisão ou internet, por exemplo? E o que eu, quanto realizador, estou
fazendo em relação a isso? São questões básicas, mas que parecem não ser tão
discutidas. E eu só consigo pensar em atingir mais público a partir delas.
Ah, e vale lembrar, estamos falando de um contexto
classe média, grandes cidades, etc., afinal, se levarmos em conta cidades
menores, que não possuem nem salas de cinema, os curtas fariam o maior sucesso!
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou
produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Falei
disso na primeira questão; com certeza pode ser o grande campo da liberdade
para a experimentação, vai depender do "profissional" e do contexto
de realização do filme. Acrescentaria ainda que não devemos diferenciar as
ditas "artes visuais", a "vídeo arte", do cinema. Podemos
começar experimentando por aí, fundindo pensamentos destas áreas que, inexplicavelmente,
o cinema não dialoga tanto.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Novamente,
pode ser; é o caminho mais conhecido, mas nem todo curtametragista consegue ou
quer ser um diretor de longa. E aqueles que ousarem fazer um longa-metragem sem
ter feito um curta anteriormente serão condenados e terão seus filmes
"rebaixados" a outro nome que não "longa metragem" e
provavelmente colocarão "experimental" em algum lugar. (risos)
Qual
é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Me conta!!!
Pensa
em dirigir um curta futuramente?
Tenho
alguns projetos em processo de criação e também de pesquisa de viabilização.