quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Simone Iliescu


Atriz. É integrante do Círculo de Dramaturgia do CPT, professora de corpo e interpretação no curso de Introdução ao Método do Ator do CPT, e faz parte do elenco do "Prêt-à-Porter 9". No cinema atuou em “O Homem Mal Dorme Bem”, de Geraldo Moraes; “1,99 - Um Supermercado Que Vende Palavras”, de Marcelo Masagão; “Bruna Surfistinha”, de Marcos Baldini; entre outros.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Primeiramente o roteiro. Em seguida, o diretor. Se me identifico com os curtas que ele já tenha dirigido, se for o caso, e se conseguimos estabelecer uma boa troca de ideias. 

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
O primeiro curta que fiz foi aos quinze anos com direção de Aloysio Raulino. Foi minha primeira experiência no cinema, e tive o privilégio de trabalhar com ele. Depois disso nos encontramos mais duas vezes no set de filmagem nos longas “Corpo Presente” de Marcelo Toledo e Paolo Gregori e “Riocorrente” de Paulo Sacramento. Em ambos ele foi diretor de fotografia. Em 2000 atuei em “Chateaubriand – Cabeça de Paraíba” de Marcos Manhães Marins. Poucos anos depois produzi o curta “Manual para se defender de Alienígenas, Zumbis e Ninjas” de André Mores, onde também fiz uma participação como atriz. Foi uma aventura divertida, que fizemos sem dinheiro algum. Apenas com alguns apoios. E recentemente atuei em “Sagrado Coração” de Cauê Brandão, exibido ano passado no Festival de Brasília, e “Digo até Logo” de Giuliana Monteiro, em fase de finalização.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Creio que pelo fato de atingir um público menor por falta de espaço para exibição. Acabam se limitando unicamente ao circuito dos festivais. Poucos realmente conseguem fazer carreira em festivais, mas quando acontece, em contrapartida o saldo é bem positivo. 

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Seria ótimo se as pessoas criassem o hábito de assistir curtas.  Mas para isso precisaríamos de um incentivo através de mais mostras ou sessões especiais nas salas de cinema. Mesmo assim, já tive a oportunidade de ir uma vez a uma dessas sessões em São Paulo e a sala estava vazia. Os curtas acabam se limitando aos festivais de cinema. Mas fico muito feliz ao ver que recentemente tivemos uma leva de curta-metragistas que dirigiram seu primeiro longa, e que já havia uma expectativa grande em relação ao primeiro filme deles por conta do reconhecimento de seus curtas. Para citar alguns exemplos: Kleber Mendonça Filho, Juliana Rojas e Marco Dutra, Francisco Garcia, Esmir Filho...

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Com certeza! No curta-metragem não temos o compromisso com produtores, patrocinadores, distribuição e exibição. É o espaço para exercer toda a liberdade de criação, sem compromissos que devem ser cumpridos a não ser com o próprio filme que estamos fazendo. O difícil é conseguir manter a mesma conduta na hora de fazer um longa, quando acaba se tornando necessário abrir mão de algumas coisas para que o filme se torne mais “vendável”. É importante, apesar das dificuldades que existem para que se consiga realizar um longa, não desistir daquilo que acreditamos em essência, e que seja fundamental para a obra.. 

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Sim. Para todos. Em primeiro lugar, porque é essencial que todos tenham a oportunidade de praticar o máximo possível para maior domínio da linguagem. E o curta-metragem é o lugar certo para isso. Depois pela visibilidade, quando temos a chance de mostrar o filme em festivais, e pelas parcerias que surgem a partir desses experimentos, que posteriormente amadurecem na realização de outros trabalhos. 

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não sei existe uma receita para isso. Mas acredito sempre no estudo e no trabalho. Claro que se tratando de cinema, você aprende fazendo, e a partir disso vem o aperfeiçoamento. Por isso a importância de se fazer curtas. É um excelente campo de experimentação. E acredito que o mais importante dentro de tudo isso é nunca perder a nossa essência e o porquê de estarmos fazendo cinema. O comprometimento com aquilo que estamos contando.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Já cheguei a pensar sim, pois sinto o desejo não só de criar algo dentro da obra de alguém, mas de criar a própria obra. Mas ainda tenho que comer um pouco mais de feijão pra isso... (risos).