Ator. No cinema, atuou em sete longas-metragens, entre os quais,
"Ensaio Sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, "O Céu de
Suely", de Karim Ainouz, "Olga", de Jayme Monjardim,
"Nina", de Heitor Dhalia e "Meu País", longa de André Ristum.
Atuou também em mais de 40 curtas-metragens e foi professor de interpretação
para cinema do Studio Fátima Toledo de 2003 a 2005.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Primeiramente a falta de experiência em cinema. Fui
levado a fazer curtas-metragens de alunos de faculdade, sugerido por amigos em
comum, e então comecei uma trajetória muito legal em cinema, tanto em curtas,
como em longas. Com o tempo, fazendo vários curtas-metragens, ganhei
experiência junto com os jovens cineastas à época, pra desenvolver uma praxis
que me facilitasse lidar com a interpretação pra cinema. Erramos e aprendemos
juntos. E hoje agradeço a esse aprendizado.
Conte sobre a sua experiência em
trabalhar em produções em curta-metragem.
Fiz
vários curtas, tanto que não sei o número ao certo. Chuto que de 1999 (quando
fiz meu primeiro) até hoje, fiz em torno de uns 40. Alguns nunca vi
finalizados, nem sequer copiões. Mas vi a maior parte deles em festivais ou em
vídeos, DVD's que os realizadores me forneciam. Alguns eram realmente bem
ruinzinhos (parte da experiência com gente que está descobrindo como fazer),
mas acho que desses alegados 40, uns 20 eram realmente legais. Criei algumas
parcerias mais longas, como com os produtores da Massa Real, vindos do curso de
Audiovisual da ECA. Com eles foram uns cinco ou seis curtas, mas já apresentei
um programa produzido por eles dentro do programa Metrópolis na TV Cultura por
dois anos (chamava-se Massaroca, e tem todos no YouTube). Também fiz alguns
comerciais, locuções etc. Alguns desses curtas venceram festivais inclusive. Um
deles, A Guerra de Arturo foi muito legal, pois participei ajudando no casting
também. Outro ótimo curta que fiz foi um recente: "Rivellino", de Marcos
Katudjian, que ganhou um Kikito em Gramado como melhor filme do júri. Teve
outro curta chamado “Intervention”, feito pra internet, dirigido por Renata
Sette. Nesse eu não pronunciava uma palavra, mas foi bem legal atuar por ter
que me expressar sem palavras.
Por que os curtas não têm espaço
em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito
que há algumas razões, não somente uma. A primeira é a falta de hábito do
público brasileiro de ver curtas. O que desemboca (ou é causa) da segunda razão
que é o fato dos distribuidores não se interessarem por colocá-los nos cinemas.
Com isso, a mídia também não se interessa em divulgá-los porque não há exibição
comercial. A não ser quando acontece um Festival, e aí se vê alguma divulgação.
Mesmo curtas com atores mais conhecidos não tem grande repercussão por conta de
sua viabilidade comercial. Acho que na cabeça de muitos o curta-metragem é só
uma experiência pra se chegar aos longas-metragens, o que acho uma grande
bobagem.
Na sua opinião, como deveria ser
a exibição dos curtas para atingir mais público?
Puxa
vida! Boa pergunta! (risos)... penso um bocado pra te responder isso, porque é
uma dificuldade mesmo quebrar com essa pecha de que curta pode ser viável
comercialmente. Mas acho que só através da Lei isso poderia acontecer, em que
duas ações poderiam ser pleiteadas no Congresso, e ambas em relação à
distribuição: primeiro, a exigência de um horário fixo para exibição de curtas
nos cinemas. Sessões, às 19 ou 20 horas, de 30 a 45 minutos que contivessem dois ou três curtas, a preços reduzidos. A segunda seria o que eu via muito há anos
atrás e até acho mais viável, ou seja, um curta sempre antes de cada sessão de
um longa-metragem, de forma que o público se acostumasse com os curtas. Temos
muita qualidade em curtas no país e uma Lei assim, poderia finalmente despertar
o gosto do brasileiro e desencadear uma naturalidade da distribuição comercial
pra curtas. Mas hoje a realidade se distancia das ruas, das salas das ruas e
salas de cinema e se aproxima da Internet, que é ótimo para o formato de filmes
de menor duração.
O curta-metragem para um
profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o
grande campo de liberdade para experimentação?
Pode ser,
ou não. Depende muito de como o realizador, diretor e o produtor veem a
possibilidade de experimentar. Uma coisa é certa: se experimentar demais, não
entra em circuito, nem com a Lei que falei acima. Se experimentar de menos, ou
fazer algo muito fácil, não haverá desenvolvimento da linguagem e também
perde-se a razão de fazer um curta-metragem. Assim, acho que há campo pra todo
tipo, mas é importante sabermos que experimentar significa, quase sempre,
manter algo mais fechado. Fechado no sentido de que poucos irão ver, e a troca
será talvez mais entre cineastas que a um público mais "civil". Um
filme que pretende ambos exige uma flexibilidade maravilhosa do cineasta. Acho
um grande desafio. E olha que experimentação é ruim comercialmente tanto pra
curtas como longas. Nesse sentido não há diferenças.
O curta-metragem é um trampolim
para fazer um longa?
Mais uma
vez depende! Depende de cada cineasta, de cada ator que participa, de cada
membro de um set, das suas aspirações. Eu posso falar de mim. Gosto de fazer
cinema, e claro que almejo fazer longas de qualidade e que sejam um grande
desafio de composição, me tragam dinheiro e reconhecimento. Isso é uma coisa.
Mas adoro fazer curtas, e quando há um bom roteiro, gosto de fazê-lo
independente de sua duração, desde que consiga adequar parte financeira, datas
e pessoas que me interessem trabalhar junto. Acho que também pode ser um
trampolim, no sentido de que comercialmente e em termos de imagem o longa é
mais interessante. É possível alternar e fazer ambos.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Não creio
em receitas. E se eu soubesse, estaria fazendo um filme atrás do outro e
ganhando dinheiro. Não é meu caso. Ganho sempre pouco fazendo cinema, mesmo
longas, pois nunca sou chamado pra fazer protagonistas. Faço coadjuvantes
com frequência. Ok, em curtas, sim, faço protagonistas, mas não ganho
dinheiro. Recentemente fiz meu primeiro protagonista em um longa, mas a
produção precisa captar de novo pra terminar a produção, as filmagens (só
fizemos um terço do filme) e tudo que vem depois. Ou seja, é uma luta inglória.
Mas é prazeroso fazer, então a gente encaixa e faz. Seja longa ou curta. Porém,
tem mais um detalhe: "vencer" também depende do objetivo de cada um.
Tem gente que não ganha dinheiro, não é conhecido, mas faz o que quer e faz
bem. Este cara perdeu? Tem outros que fazem filmes chatos, comerciais, etc., e
que se entopem de ganhar dinheiro. Esse cara venceu? Ficará a pergunta sempre.
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
Olha, se disser que já pensei em
ser diretor de cinema estarei mentindo. Nunca pensei. E sinceramente não é um
objetivo meu. Sou declaradamente um ator, não um diretor. Mas se um dia
acontecer, (pois não descarto) talvez fosse mais adequado inclusive que eu dirigisse
um curta e não um longa, pra fazer o que fiz como ator: ganhar experiência,
pois a pressão em longas é muito maior, devido ao montante de dinheiro e
expectativa envolvidos. Então, respondendo sua pergunta: não pensei, mas posso
fazê-lo um dia.