Atriz. Foi uma
das fundadoras do Grupo de Teatro Boi Voador, nascido do CPT - Centro
de Pesquisas Teatrais de Antunes Filho, em 1984. Ao longo dos anos,
ministrou aulas em diversas instituições profissionalizantes para atores e
atualmente é professora de interpretação na Escola de Atores Wolf Maya. No
cinema atuou nos curta-metragens ‘Até a Eternidade’, direção de Luiz
Vilaça, ‘Sangue, Melodia...’, roteiro e direção de Adilson Tokita, e ‘Feito
para não Doer’, de Caetano Gajardo.
O que te faz aceitar participar de produções em
curta-metragem?
Cinema, para todo ator, é o sonho
dourado. Não conheço um ator que não diga que prefira o cinema à todas as
outras linguagens para exercer seu oficio de ator. Eu não sou diferente. O
cinema possui uma magia, um requinte para a construção de um personagem, desde
a cenografia e adereços que compõe o set de filmagem, figurinos, até o
envolvimento da equipe durante às filmagens. A maioria dos atores vem do
teatro. O cinema é uma obra aberta, assim como a dramaturgia teatral, que
eterniza o trabalho ator.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
No início da minha carreira
fiz inúmeros curtas-metragens produzidos pelos formandos de cinema da ECA -
USP. Foram experiências incríveis. Aprendi sobremaneira como atriz, mas também
sobre cinema tecnicamente falando. Nessa época a montagem era feita na moviola.
Eu curtia participar das montagens pela curiosidade de como funciona esse
quebra cabeças. No início dos anos 90, tive a oportunidade de protagonizar,
junto com o ator Paulo Gorgulho, de um curta dirigido por Luiz Vilaça, o
thriller "Até a Eternidade". Um casal apaixonado vai até as últimas
consequências em suas fantasias revivendo antigos clássicos do cinema. Esse
curta-metragem foi produzido com os requintes de um longa-metragem. Nesse
trabalho pude reconhecer o curta-metragem como um gênero cinematográfico
peculiar.
Por que os curtas não têm espaço em
críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que o espaço para cultura em
nosso País, de uma maneira generalizada, é inexistente. Há um verdadeiro
descaso para a cultura como se precisássemos somente de pão, água e sangue. O homem precisa do lúdico para não sucumbir à
sua realidade. Não duvido de que a imprensa encare os curtas-metragens
como um subproduto do cinema e que não mereça espaço, já que precisa-se
divulgar toda uma “bobajada” que venda jornal.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais
público?
Acredito que deveriam sancionar uma lei
de exibição obrigatória de um curta nacional por sessão de cinema, em todas as
salas de cinema do País. Vale a sugestão: instigar um de nossos representantes
políticos a esta causa.
O curta-metragem para um
profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o
grande campo de liberdade para experimentação?
Sem dúvida. Conheço muitos novos
cineastas brasileiros que encontram no curta-metragem uma maneira de
experimentar e aprender. Quanto à atuação eu sou exemplo disso. Porém,
sabemos que em muitos países de primeiro mundo, curtas metragens são um gênero
de manifestação artística de preferência de muitos diretores de cinema. Com
esse gênero cinematográfico esses cineastas têm a oportunidade de sintetizar suas
ideias, explorar tanto sua criatividade, como linguagens cinematográficas
inusitadas. Para estes, produzir curtas-metragens torna-se uma escolha
artística.
O curta-metragem é um trampolim para
fazer um longa?
Pode ser um trampolim, mas como já
disse, acredito que muitos o preferem esteticamente, com o objetivo de explorar
linguagens cinematográficas. Outra questão bastante
relevante para a escolha desse formato, reside nas diferenças disparatadas nos
custos de produção e de distribuição entre um curta e um longa-metragem. Certamente
isso influência na escolha do cineasta.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Se alguém souber avise, por favor, para
eu copiar a receita. Sensos de humor a parte, não sei mesmo. O que podemos
apontar como quais seriam os ingredientes básicos necessários para se concorrer
ao ranking dos melhores? Roteiro
moderno, com temáticas instigantes; enquadramentos criativos (câmera na mão-travelling-steadycam)? No meu ponto de vista, todo artista
precisa, fundamentalmente, saber qual é o seu objetivo, o porquê de fazer e quem
quer mobilizar sensorialmente com o seu produto, seja ele qual for. Ele precisa
ter uma boa história para contar.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, já pensei, inúmeras vezes. Um dia conseguirei realizar esse sonho. Já
esbocei alguns roteiros e estão engavetados. Temporariamente, assim espero. Amo
o cinema e acredito que é a sétima arte mesmo.