domingo, 22 de novembro de 2015

Josué Torres


Ator e produtor. Em 2011, filmou "Pizzaria do Além", com Jorge Matsumi e Décio Pinto. 

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
A produção de bons curtas-metragens no Brasil já é uma realidade. Seria chover no molhado falar dos festivais e circuitos já estabelecidos com seu público e sua crítica. Gostaria de falar mesmo da grande satisfação de poder participar de pequenas e médias produções. Nasci no interior de são Paulo e há dez anos me mudei para a capital onde desenvolvo minha carreira desde então. Faço teatro desde 93 e me lembro das dificuldades que enfrentávamos com a  produção cultural no interior. Naquela época  tentávamos fazer barulho com as nossas produções... o grupo  tinha seus integrantes fixos e um monte de gente que ia e vinha em cada nova montagem. Neste grupo fixo é o lugar onde nossas inquietações fruíam e sempre tínhamos atores recém-chegados para atuar em nosso grupo de vídeo (Proscenium Vídeo). O vídeo era um dos canais com o qual contávamos para a agitação do município. Fizemos algumas mostras e até dois festivais. Para se ter uma ideia, uma das mostras foi realizada em um dos clubes tradicionais da cidade, a custo zero.....  grande momento. Sobre a pergunta em questão .... bem.... sou ator de teatro e como tal acredito que o teatro deve ser artesanalmente produzido pelo artista... ou seja.. nos ensaios....com suas angústias e inquietações....assim como o vídeo, a pintura, a escultura etc...participar de uma boa proposta artística é que é o grande barato....morrer de inveja boa de não ter tido  aquela ideia....aquela proposta...  esse é o grande barato!

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Quando me chamaram para tentar colaborar com este canal e falar sobre vídeo fiquei feliz de poder falar disso... afinal de contas  minha experiência com o vídeo se mistura com a minha careira...já adaptei obras, atuei em várias. Desde o começo foram cerca de vinte curtas e entre alguns deles coisas que tomaram vulto. Mas independentemente de sentido da obra o que me importa é o arcabouço cultural presente.... falo disso porque a cada nova produção que se assiste você fica em contato com um universo dos produtores daquele filme. Suas ideias, assim como o ambiente que frequentam, os figurinos (que na maioria das vezes) são as próprias roupas dos atores e tudo isso circunscreve um espaço no tempo. Esta sensação se tem quando se assiste documentários antigos e aí é que temos noção do valor cultural de um curta-metragem..

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Sinceramente acho que  já está claro que  os canais de um modo geral tem seu editorial... eles trabalham para alguém.... são empresas lucro imprescindíveis....se você está inquieto com o sistema e resolve dar asas a sua verve artística está claro que não vai em favor do sistema  e sim( de certa forma) contra... portanto... em ultima instancia são nossos concorrentes. Não digo aqui que sou contra os canais de TV assim como estão..... acho que poderiam ser mais interessantes.... mas é o sistema que está posto.... o artista está sempre na contramão. o pequeno produtor de vídeo a favor do sistema é chamado estagiário.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Na minha opinião as salas de cinema deveriam exibir curtas de até três minutos  entre os trailers de grandes produções....seriam facilmente digeridos e despertaria a tenção do grande público para o cinema nacional. 

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Pode ser.... mas na minha opinião e experiência acredito que quando a produção começa envolver grandes proporções tem que ter excelência... não dá para fazer curta de boa qualidade com material ruim...atores ruins, péssima iluminação.....já fiz muito curta e realmente não acredito nisso!

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa? 
Curta metragem é curta metragem. Trampolim para fazer um longa é outra coisa.... aliás gostaria de propor um raciocínio..... só se contam estórias de sucesso.... de pessoas que deram certo...... seria mais proveitoso falarmos das coisas que não deram certo a fim de orientar melhor a produção dos curtas no Brasil.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Com a minha experiência posso dizer que  aprendi que uma coisa é o artista.... minhas inquietações..... outra coisa é o cara querer fazer um filme que tenha um mínimo de qualidade artística.... uma boa estória...uma boa proposta... e aí neste ponto é que a gente erra...achando que vai fazer tudo sozinho com a melhor qualidade possível....sejamos artistas, produtores, cenotécnicos, figurinistas  mas com a ajuda de várias pessoas dá para se concentrar mais em cada uma das importâncias  do filme....ainda que ele seja um curta. A minha maneira de enxergar  é dando conselhos..... ( se fossem bons seriam vendidos). Ser livre.... não ver muita televisão.... e pensar no público.... a humanidade esta cheia de boas estórias e sempre vai prestar atenção em uma boa. O público só que ser bem tratado e ouvir uma boa estória. Se é capaz de fazer isto....então está no caminho certo.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Claro!! Uma boa proposta... sempre!!!